Entramos em 2024 numa sequência de eventos que atrai a atenção dos jogadores ao Linux. Por décadas foi inviável jogar no Linux, pois nenhuma empresa de peso se interessava criar jogos para o pinguim ou algum meio de rodar jogos do Windows no Linux com estabilidade e bom desempenho, até que a Valve decidiu entrar na jogada criando seu próprio videogame.
Na última década, muito mudou
Tudo começou em 2013, quando a empresa dona da maior loja virtual de jogos de computador anunciou o Steam Machine, que teria como sistema operacional, o Steam OS, baseado em Linux, nessa época, lançou a primeira edição do Steam para Linux, com poucos jogos compatíveis. Este videogame que pretendia concorrer com o Xbox One e PS4 foi um fracasso, mas a Valve não desistiu.
Até então, gerar gráficos 3D no Linux dependia principalmente da API OpenGL, limitada se comparada ao Direct3D do Windows, até que em 2016, o Khronos Group, organização dedicada ao open source, lançou o Vulkan, solução aberta equiparável à da Microsoft que roda não apenas em sistemas Linux, mas no Windows, macOS, BSD e Android, embarcando até mesmo videogames como o Nintendo Switch.
Com a maior loja de jogos e uma API gráfica moderna, o Linux já possuia tudo para se tornar gamer, menos os jogos em si. O grande trunfo, que finalmente viabiliza jogar de tudo no Linux teve sua primeira versão lançada em 2018, a camada de compatibilidade Proton.
Para criar o Proton, a Valve mobilizou desenvolvedores da CodeWeaver, empresa mantenedora do Wine, uma popular camada de compatibilidade para rodar programas do Windows no Linux, mas com grandes limitações para jogos. O Proton consegue traduzir instruções do Direct3D para o Vulkan e graças ao seu código aberto, tem um ritmo acelerado de atualização, afinal, qualquer criador ou jogador com conhecimento em desenvolvimento pode contribuir para otimizar seus jogos favoritos.
Tudo ficou ainda mais intenso, quando em fevereiro de 2022 a Valve lançou o Steam Deck, videogame portátil com hardware de computador capaz de rodar os jogos mais modernos de PC, utilizando o Steam OS, sistema baseado no Arch Linux. Com isso, criaram a categoria “verificado para Steam Deck”, jogos que funcionam perfeitamente no console, inclusive reconhecendo corretamente os controles. Quando um jogo é verificado, é garantido que também funciona corretamente em qualquer distro Linux.
Como é jogar no Linux e 2024?
Atualmente, mais de 13 mil jogos já são verificados para Steam Deck e outros tantos funcionam corretamente no Linux mesmo sem a verificação, conforme podemos ver no portal ProtonDB, que reúne o feedback dos usuários, que inclusive dão dicas para conseguir rodar o jogo ou obter melhor desempenho – e é aí que mora um dos problemas de jogar no Linux hoje em dia.
Num momento de diversão, ninguém quer ter trabalho, mas antes de adquirir um jogo para rodar o Linux, recomenda-se pesquisar se ele vai realmente funcionar. Praticamente todos os jogos offline funcionam corretamente, mas os multijogador, devido a limitações de sistemas anti-trapaça, têm grande chance de não funcionar. Com isso, sessões onde amigos escolhem qualquer jogo aleatório para jogar online, podem ficar prejudicadas para quem usa Linux.
O Proton está integrado nativamente ao Steam, mas e os jogos obtidos em outros lugares? A própria comunidade já criou soluções para este problema, temos softwares como o Lutris e o Heroic Games Launcher, liderado pelo brasileiro Flávio Lima, que agregam e permitem abrir jogos de outras lojas, que não vieram de loja alguma, ou até mesmo emuladores, numa interface simples, com infraestrutura robusta. Surpreendentemente, às vezes um jogo feito para Windows pode rodar ainda melhor no Linux com Proton.
Mesmo com uma grande comunidade dedicada, sistemas Linux sofrem algumas limitações com hardware, afinal, muitos fabricantes, especialmente de periféricos com recursos extras, como fones de ouvido, mouses e teclados gamer, não criam drivers e softwares controladores para Linux, apenas Windows. Para marcas grandes, isso não é necessariamente um problema, pois a comunidade consegue suprir a falta, mas uma vez que esse tipo de componente tem uma enorme variedade, modelos de marcas menores podem não receber a atenção.
Placas de vídeo também podem ser um problema no Linux, enquanto Intel e AMD trabalham para manter seus produtos totalmente compatíveis, sendo, inclusive, alguns dos principais contribuidores no desenvolvimento do kernel, a NVIDIA não tem essa mesma preocupação. Na concorrência, os chips gráficos funcionam nativamente sem precisar instalar nada a mais no sistema, mas o driver de placas NVIDIA deve ser baixado e instalado, o usuário ainda precisa avaliar qual versão é a mais adequada e mesmo assim, tecnologias como o Wayland não são suportadas corretamente, mais uma configuração extra em certas distros.
Jogar no Linux é para quem?
Hoje em dia, no Linux conseguimos rodar mais jogos do que em qualquer videogame que já existiu, isso sem considerar os emuladores, entretanto, alguns jogos, principalmente online, ao menos por enquanto permanecem exclusivos para Windows, mas bastariam geralmente os desenvolvedores fazerem algum pequeno ajuste para compatibilizar. Além disso, precisa pesquisar para adquirir certos componentes de hardware, especialmente de marcas desconhecidas.
Contudo, o Linux tem características que podem fazer dele a melhor opção para quem quer um computador especializado em jogos. Sistemas operacionais, como o Regata OS, o Nobara e o próprio Steam OS, são feitos especialmente para este propósito, contendo diversos softwares e otimizações especializados, promovendo melhor compatibilidade e desempenho, além de interface gráfica adequada, com cara de videogame.
Sistemas Linux também são gratuitos, uma ótima e legítima opção para quem não gosta das limitações da versão não ativada do Windows, não quer gastar com uma chave de ativação, nem arriscar a própria segurança com algum método ilegítimo. Computadores mais antigos ainda podem se beneficiar da leveza de muitas distros, promovendo mais desempenho – confira nossos testes para te ajudar a escolher a melhor distro para você!
Portáteis similares ao Steam Deck tem se popularizado, eles costumam trazer o Windows como sistema operacional, deixando claro como o Steam OS é superior para este propósito, com melhor gerenciamento de energia e interação pelos controles e pela tela, afinal ele é feito sob medida. Quando a prometida liberação do sistema operacional da Valve acontecer, deveremos ver mais videogames com Linux, essa poderá ser uma importante porta de entrada para o sistema.
Com mais usuários, os desenvolvedores se interessarão em compatibilizar seus jogos à plataforma, quem sabe em breve teremos mais títulos competitivos online como League of Legends e Valorant no Linux?
Saiba mais sobre o estado atual do Linux para usuários domésticos no episódio do Diocast, onde conversamos sobre as distribuições Linux que mais nos impressionaram no último ano, nossas experiências boas e ruins com jogos e as expectativas para 2024.
