VídeoTestes e Benchmarks

O Thorium promete ser o navegador mais rápido. Será?

Ficamos sabendo que o Thorium é o navegador mais rápido de todos, afirmação que chama a atenção e gera desconfiança. Avaliamos profundamente o navegador, com mais de 50 testes para saber se realmente cumpre o que promete, ou é só um exagero no marketing. Aproveitamos a deixa para testar também o projeto Mercury, espécie de irmão gêmeo, mas baseado no Firefox.

Quem criou o Thorium?

Para começar, existe uma grande diferença entre um projeto como o Thorium, para algo como o Brave ou o OperaGX. Ele é um projeto open source, sem fins lucrativos, desenvolvido por uma única pessoa, visando aplicar modificações ao Chromium, navegador base de vários outros, para deixar mais rápido. Inclusive, tem o visual do Chrome ou do Chromium, com ícones do Brave na cor azul.

Interface do Thorium

Ele vem com algumas extensões, com a opção de experimentos do Chrome ativa, permite se conectar a uma conta Google, usa o Google como buscador padrão, com as maiores modificações, por baixo do capô. O logotipo do Thorium é mesmo do Chromium, mas com um círculo escuro ao centro.

Thorium, nome de um elemento químico, tem um irmão baseado no Firefox, chamado Mercury, com o mesmo objetivo de ser compilado com otimizações em desempenho, outro nome inspirado pela tabela periódica, além de homenagem ao clássico sistema de versionamento de código da Mozilla, o Mercurial

Como se trata de um projeto pessoal, podemos desconsiderar coisas como, a estrutura da empresa e como eles ganham dinheiro, afinal, nada disso existe. Explorando o site, a gente pode conhecer um pouco mais sobre o desenvolvedor do Thorium.

Na página “sobre”, descobrimos que o autor do projeto tem entre 21 e 22 anos, é dos EUA, alguém que gosta muito de open source, de sistemas computacionais antigos, tanto que o Thorium tem versão até para o Windows XP, além de outros sistemas operacionais.

Tem muita coisa pessoal nessa sessão “extra”, incluindo uma página dedicada a uma amiga dele, com fotos que vão além do que alguém poderia querer ao buscar entender as motivações do desenvolvimento do Thorium. 

Este parece um projeto para demonstrar a capacidade de desenvolvimento do autor, uma boa iniciativa para mostrar o que pode fazer. Só o fato dele compilar e compatibilizar o software com arquiteturas e sistemas operacionais diferentes, já é um belo aditivo ao currículo. O nome do Autor do Thorium é Alexander Frick e o GitHub dele é lotado de forks de diversos projetos open source, ou seja, realmente parece gostar muito da ideia de fazer modificações e compartilhar na internet. Tem até um ThoriumOS, baseado no ChromiumOS.

Quais modificações os navegadores Thorium e Mercury receberam?

No site do Thorium, temos uma página onde o desenvolvedor ilustra algumas modificações na hora de compilar o programa, no GitHub há uma sessão explicando os patches que foram aplicados e porque eles foram feitos. O mesmo pode se dizer do Mercury, muda a base do navegador, mas a lógica é a mesma, o objetivo também, criar um navegador mais rápido, talvez, o mais rápido do planeta.

O Thorium tem uma página que exibe algumas capturas de tela de testes e comparações feitas em softwares, como o Speedometer, o Octane e o Jetstream, para fundamentar a ideia de “navegador mais rápido do mundo.”

Testes divulgados pelo Thorium
Imagem: Thorium

Ele oferece informações sobre o hardware utilizado para fazer os testes, um sistema Linux, o Ubuntu 22.04 LTS, com uma placa de vídeo GTX 970, 24GB de memória RAM, e um processador FX8370 com overclock.

Em geral, os comparativos são com o Chromium, parece que o objetivo era ser melhor que ele, mas o autor adicionou comparações com o Chrome, o Brave e o Vivaldi também. Obviamente, em nenhum deles o Thorium perde.

Testes e benchmarks não são 100% confiáveis

Qualquer benchmark que você ver na internet relacionado a software, inclusive os nossos, são congelados no tempo, enquanto a tecnologia muda. Eles continuam úteis, são importantes, é sempre bom ter a noção de que as coisas mudam com o tempo.

Não foi informado a versão de cada um dos navegadores para fazer os testes, e mesmo que a gente soubesse, não dá para afirmar que seriam consistentes ao longo do tempo, sem alteração. O fato de existem capturas de tela de benchmarks no site do Thorium, significa que o projeto está tentando se embasar em dados metrificáveis para alegar ser o “navegador mais veloz do planeta”.

Outra questão, todos os testes foram feitos em versões desses benchmarks hospedadas pelo próprio Thorium. Isso por si só não quer dizer nada, mas será que os testes tiveram alguma modificação que favorecia o Thorium?

Fizemos testes e comparamos o Thorium com outros navegadores

Por sorte, não precisamos acreditar na palavra do Alex, podemos fazer os nossos próprios testes e comparar se realmente o Thorium, e o Mercury são tão rápidos. Utilizamos para os testes, um computador com processador AMD Ryzen 5700G, placa de vídeo RTX 2060, 32 GB de memória RAM, SSD de 1 TB, rodando o sistema operacional Pop!_OS, mesma base Ubuntu do Alex, em sessão X11, com resolução 4K, informação que não temos no teste do site do Thorium.

Confira alguns dados que coletamos:

NavegadorWeb BasemarkJetStream 2Motion MarkSpeedometerOctaneSpeedometer (Versão Thorium)
Thorium1535,17268,36926,625576445285
Chrome1668,36262,101005,8729275438329
Vivaldi1532,78257,78971,7528575046325
Chromium1873,49262,141004,829674744328
Opera1398,79252,38835,9420674476214
Edge1698,38252,72864,1722974273252
Brave1546,19259,83921,4728274080311
Firefox1092,64173,79819,7223743045251
Mercury1041,72156,36966,6720738270221

Para saber se o Thorium e o Mercury são tão bons quanto dizem, fizemos mais benchmarks do que o próprio Alex publicou, começando com o mais importante de todos, mas que ficou de fora dos testes do Thorium, o Web Basemark. Nesse teste o Thorium perde para o Chromium, Edge, Chrome e Brave, ficando praticamente empatado com o Vivaldi. O Mercury perdeu até para o Firefox Original, nada bom para sustentar a ideia de navegador mais rápido.

No JetStream, teste javascript e WebAssembly, maiores resultados são melhores também. Por aqui, o Thorium ficou realmente em primeiro, com uma pequena margem acima de Chromium e Chrome, todos os outros se mantiveram numa mesma faixa de desempenho, só com o Firefox e o Mercury bem atrás, o Mercury perdendo até para o próprio Firefox original, novamene.

Esse era um dos testes que o Thorium tinha colocado no site deles, mas utilizamos a versão hospedada pelo browserbench.org, não, a do próprio Thorium, se a gente considerar alguma margem de erro, não é uma grande vitória.

Com o Motion Mark, avaliamos a capacidade de renderização de cenas complexas usando CSS, algo que o Thorium deveria se sair bem com tantas otimizações, quanto maiores valores, melhor. O Chrome ficou em primeiro, o Chromium num segundo lugar próximo, Vivaldi em terceiro, então o Mercury, para só então o Thorium aparecer. A essa altura, a autoproclamação de “navegador mais rápido do planeta” já se perdeu.

No Speedometer, mais um teste de javascript para aplicações web, o Thorium fica atrás do Chromium, do Chrome, do Vivaldi e do Brave, por uma boa distância. O Mercury ganha do Opera por muito pouco, mas tem uma atuação ruim da mesma forma. Esse era outro teste em que o Thorium ia muito bem, segundo site deles.

O próximo, é outro que o Alex colocou no site do Thorium como exemplo, ele se chama Octane, porém, já vem incluso no Web Basemark e no próprio Jetstream atualmente, tanto que o próprio site diz que o Octane tá aposentado e recomenda o Jetstream no lugar. Por que será que esse teste foi incluso?

Já que o pessoal do Thorium usou ele como base para as suas afirmações de velocidade, vamos fazer um teste aqui também. O Thorium ganha esse por quase 1000 pontos a mais do que o Chrome e o Vivaldi, e uns 2 mil a mais do restante dos navegadores, exceto o Firefox e o Mercury, que vão pior ainda.

Por curiosidade, fizemos testes com o speedometer hospedado pelo próprio Thorium para ver se os resultados seriam diferentes, e realmente são. Existe claramente algum tipo de otimização, mas ela melhora o desempenho em todos os navegadores, deixando Thorium em quinto lugar, com o Mercury só ganhando do Opera. Tem muitas coisas importantes que a gente pode tirar desse experimento.

Então o Thorium mente?

O Thorium em si é um projeto legal, apesar de tentar focar em alto desempenho, ele também tem outras modificações voltadas a privacidade, como a inclusão do uBlock Origin como adblock padrão, semelhante ao que faz o Brave, mas é o mesmo efeito de instalar essa extensão em qualquer outro navegador.

Diferente de algumas empresas querendo te vender um produto, parece o Alex uma má intenção ao intitular o Thorium como “o navegador mais rápido da terra”, Talvez tenha sido só uma brincadeira, “o Diolinux é melhor site do mundo”, algo lúdico, mas com a nuance de que “o melhor” é algo relativo para cada um, enquanto o mais rápido não é, especialmente com capturas de tela mostrando benchmarks. Surpreende, na verdade, que alguém acredite nisso, endossando uma ideia que obviamente é facilmente verificável.

Qualquer outra frase levemente modificada faria sentido e não geraria essa expectativa, “Thorium – Um navegador super rápido”, não seria mentira, “Thorium – Um browser veloz para o seu PC”, também verdadeiro, mas “O browser mais rápido do planeta”, realmente só pode ser uma piada.

Você pode pensar que é exagero, um jovem de 20 antes talvez pensasse o mesmo, mas essa é uma lição que você aprendente conforme amadurece:

As palavras têm significado por um motivo, se elas não significarem o mesmo para mim e para você, a gente não vai conseguir se entender em assuntos complexos. Quando palavras iguais significam coisas diferentes para duas pessoas, acontecem conflitos. Isso é algo muito importante para se pensar num ambiente profissional, propaganda enganosa gera problema para muitas empresas, mesmo quando fazem isso sem intenção de enganar.

Um desafio científico

Um erro claro dos desenvolvedores do Thorium, é parar de fazer testes quando as evidências que encontraram corroboraram o que já queriam acreditar, como no teste do Octane. O desenvolvedor pode ter visto aqueles resultados que compartilhou, mas talvez não tenha se dado conta de que criou um ambiente onde o resultado pretendido, era o único resultado possível.

Quando você quer provar que está certo, sempre deve buscar formas de se provar errado. Uma ideia vira teoria ou lei científica, quando suporta várias tentativas de derrubar ao longo do tempo, não quando apenas são aceitos os testes. Se ele tivesse testado em outros lugares, com mais navegadores, ou em mais computadores, talvez encontrasse resultados diferentes.

Por aqui, testamos só com um equipamento, devemos aceitar essa limitação, talvez no seu computador seja diferente. Mesmo que você ache melhores resultados, isso faria do Thorium um navegador melhor no seu computador, não o melhor do planeta.

Outro problema do Thorium é que não sabemos realmente o nível de comprometimento dos desenvolvedores, o primeiro lançamento é de 2021, então já tem uma estrada, o que é bom, mas o fato do Thorium ainda estar duas versões atrás do Chromium, traz ressalvas.

A velocidade de desenvolvimento do Chromium é muito alta, com milhares de pessoas envolvidas, além da própria Google e outras gigantes de tecnologia, enquanto o Thorium parece não conseguir acompanhar os lançamentos na mesma frequência por ser primariamente feito por uma pessoa com ajuda pontual de algumas outras.

Cada software é diferente, mas se tratando de navegadores, isso pode abrir espaço para brechas de segurança que podem já ter sido corrigidas em versões atualizadas do Chromium.

O Thorium é algo mais artesanal do que qualquer outra coisa, tem quem goste disso, tem gente que não. Você já tem informações o suficiente decidir se gosta da ideia de um dos softwares mais importantes do seu sistema operacional estar nas mãos de praticamente uma única pessoa.

Mais um navegador Chromium

Muitos falam mal da padronização da base dos navegadores, e apesar de acreditar nas benesses de uma competição saudável, o Chromium é muito parecido como o Linux, já percebeu?

É um projeto base onde várias empresas contribuem com código-fonte, criam as suas próprias versões com nuances diferentes, e apesar de privacidade variar conforme o projeto, sem dúvida ele é muito seguro e compatível com tecnologias modernas, de longe o projeto com mais olhos observando o código quando o assunto são navegadores. O Thorium absorve muito dessas qualidades pelo simples fato de ser baseado no Chromium também, mas o tempo dirá se só isso será o suficiente.

Assim como ocorre com algumas pessoas que buscam uma solução simples para privacidade online pelo Brave, tem quem não busque entender as complexidades e nuances quem envolvem a afirmação de “o navegador mais rápido” e aderem de olhos fechados, torcendo para ser verdade, ou pior, ignorando fatos que mostram o contrário.

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