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O CachyOS realmente tem desempenho superior em jogos?

No universo das distribuições Linux, onde cada nova versão promete ser mais rápida, mais leve e mais eficiente, o CachyOS emerge como um fenômeno peculiar. O que começou como mais uma distro baseada no Arch Linux rapidamente se transformou no menino-prodígio da comunidade, especialmente entre gamers e entusiastas de desempenho. Mas será que toda essa fama é justificada? Vamos mergulhar fundo nessa distro que promete transformar seu hardware comum em uma máquina turbinada.

A filosofia por trás do CachyOS

Enquanto a maioria das distros busca um equilíbrio entre estabilidade, facilidade de uso e desempenho, o CachyOS coloca a maioria das suas fichas no último item dessa lista. A equipe por trás do projeto acredita piamente que, com as otimizações certas, é possível extrair significativamente mais desempenho do mesmo hardware.

Esse foco em desempenho se materializa em várias camadas do sistema:

  • Kernel customizado: Não se trata apenas de usar a versão mais recente, mas de um kernel modificado com patches específicos para melhorar a responsividade e reduzir latência;
  • Schedulers alternativos: O CachyOS oferece nada menos que quatro opções diferentes de schedulers de processo, cada um otimizado para cenários distintos (desktop, servidor, gaming);
  • Pacotes otimizados: Os repositórios do CachyOS contêm versões especialmente compiladas de softwares populares, usando flags de compilação agressivas para CPUs modernas;
  • Tuning de sistema: Desde configurações de filesystem até ajustes na gerência de energia, tudo é pensado para maximizar o desempenho bruto.

Do Caos à estabilidade

Quem acompanha o CachyOS desde seus primórdios pode atestar uma transformação notável. As primeiras versões, embora promissoras, davam a clara impressão de um trabalho em progresso – instabilidade ocasional, documentação incompleta e algumas decisões questionáveis de design.

Hoje, o cenário é diferente. O instalador gráfico agora é uma experiência suave e confiável. A seleção de ambientes desktop oferecida durante a instalação impressiona pela abrangência – são mais de uma dezena de opções, desde os minimalistas como i3 até os completos como GNOME e KDE Plasma.

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Falando em KDE Plasma, vale destacar a mudança filosófica na abordagem do CachyOS. Enquanto antes a distro vinha com um Plasma profundamente customizado (nem sempre para melhor), a versão atual adota uma abordagem minimalista. O ambiente chega praticamente “stock”, com apenas o logo da distro no menu.

Essa aparente simplicidade esconde uma decisão estratégica inteligente: em vez de gastar recursos limitados em customizações cosméticas, a equipe prefere concentrar esforços onde realmente importa – nas otimizações de baixo nível que definem a proposta de valor do CachyOS.

Nada ilustra melhor essa nova mentalidade do que a história do Cachy Browser. Durante um tempo, a distro mantinha seu próprio navegador baseado no Firefox, repleto de tweaks de privacidade e desempenho. Soava bem no papel, mas na prática se mostrou um fardo insustentável para uma equipe pequena.

Em vez de insistir no erro, os desenvolvedores tomaram a difícil – porém sábia – decisão de descontinuar o projeto. No comunicado oficial, a explicação foi franca: simplesmente não havia recursos humanos suficientes para manter o navegador adequadamente.

No lugar, entrou o Firefox vanilla. Pode parecer um retrocesso, mas na verdade é um exemplo raro de maturidade no mundo open source. Reconhecer limitações e focar no que realmente importa é uma virtude que muitas distribuições poderiam aprender.

O poder nas mãos do usuário

Apesar do feroz compromisso com a desempenho, o CachyOS não abandona completamente a conveniência. A distro vem equipada com um conjunto de utilitários gráficos que facilitam tarefas comuns:

  • Interfaces simplificadas para instalar grupos de software pré-definidos (desenvolvimento, gaming, escritório etc.);
  • Configurador de kernel: Permite alternar entre diferentes versões e configurações do kernel sem precisar editar arquivos manualmente;
  • Otimizador de sistema: Ferramenta para ajustar schedulers, governadores de CPU e outras configurações de baixo nível;
  • Gerenciador de drivers: Simplifica a instalação de drivers proprietários quando necessário.
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O que impressiona é que, apesar da aparente simplicidade, essas ferramentas escondem uma complexidade considerável. Elas servem como pontes amigáveis entre o usuário e o poderoso – mas frequentemente intimidador – ecossistema Arch.

Uma das novidades mais interessantes nos últimos tempos é a edição Handheld do CachyOS, projetada especificamente para dispositivos como o Steam Deck, ASUS ROG Ally e similares. Essa versão especial vem pré-configurada com:

  • Otimizações específicas para CPUs móveis;
  • Suporte nativo a controles de jogo;
  • Configurações de energia balanceadas para jogabilidade em bateria;
  • Integração com plataformas como Steam e Lutris.

A iniciativa é um reconhecimento tático de que o futuro do gaming Linux não está apenas nos desktops tradicionais, mas também nesses dispositivos híbridos que estão revolucionando a forma como jogamos.

Desempenho real em jogos

Toda essa conversa sobre otimizações levaria naturalmente à pergunta crucial: na prática, o CachyOS realmente oferece vantagens tangíveis em jogos? Para responder isso da forma mais científica que conseguimos, realizamos uma bateria extensiva de benchmarks, comparando o CachyOS com o Linux Mint – um representante clássico das distros “genéricas”.

Metodologia do teste

O hardware utilizado foi propositalmente modesto, representando o que um usuário médio poderia ter em casa:

  • CPU: AMD Ryzen 7 2700X (8 núcleos, 16 threads)
  • GPU: AMD RX 580 (8GB VRAM)
  • RAM: 16GB DDR4
  • Armazenamento: SSD NVMe 1TB

Os sistemas foram instalados em SSDs separados, com todas as atualizações aplicadas. O CachyOS foi configurado com seu kernel otimizado e scheduler “Bore” (específico para gaming), enquanto o Mint rodou com suas configurações padrão.

Resultados 

Counter-Strike 2

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O teste mais básico revelou um empate técnico. Ambos os sistemas mantiveram uma média de 142 FPS em 1080p com configurações médias. Os frametimes (indicadores importantes de fluidez) também foram virtualmente idênticos.

Shadow of the Tomb Raider

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Aqui o Linux Mint surpreendeu com uma vantagem mínima – 87 FPS contra 86 do CachyOS. A diferença é insignificante na prática, mas contraria a expectativa de superioridade do CachyOS.

Cyberpunk 2077

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O jogo mais exigente do teste mostrou uma ligeira vantagem para o CachyOS: 48 FPS contra 47 do Mint. Novamente, uma diferença que dificilmente seria perceptível sem medição precisa.

Dirt Rally 2.0

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Finalmente, um resultado onde o CachyOS brilhou. A média de 112 FPS contra 92 do Mint representa uma vantagem de mais de 20%, significativa o suficiente para ser perceptível durante o jogo.

Hogwarts Legacy

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Sem benchmark integrado, usamos a mesma cena inicial para comparação. Os resultados foram praticamente idênticos, com ambos os sistemas oscilando entre 52-55 FPS nas mesmas configurações.

Análise dos resultados

O que esses números nos dizem? Primeiro, que as otimizações do CachyOS não são bala de prata – elas não transformam magicamente hardware modesto em supermáquinas. Segundo, que os ganhos são altamente dependentes do jogo específico e do motor gráfico utilizado.

A exceção foi o Dirt Rally 2.0, onde o CachyOS mostrou seu potencial. Podemos inferir que o jogo se beneficia particularmente das otimizações de CPU e memória que a distro implementa.

Desempenho no uso diário

Se nos games os resultados foram mistos, no uso geral o CachyOS mostra suas qualidades. O sistema se destaca em:

  • Responsividade do desktop: Animações mais fluidas e tempos de resposta quase instantâneos
  • Latência de sistema: Menor atraso entre entrada do usuário e resposta visual

Parte disso se deve ao uso do Wayland (em contraste com o Xorg do Mint), mas mesmo comparando com outras distros Wayland, o CachyOS pode oferecer uma ligeira vantagem em termos de “sensação” de velocidade.

O paradoxo das otimizações

Os resultados relativamente modestos nos benchmarks levantam uma questão fundamental: por que otimizações que parecem tão promissoras no papel nem sempre se traduzem em ganhos dramáticos na prática?

A resposta é multifacetada:

  • Lei dos rendimentos decrescentes: As distros mainstream já incorporam muitas otimizações básicas, então ganhos adicionais são naturalmente menores;
  • Limitações do hardware: Em muitos casos, especialmente em jogos, o gargalo está na GPU – e nenhuma otimização de sistema pode contornar isso;
  • Natureza dos aplicativos: Muitos programas não são desenvolvidos para tirar proveito de otimizações específicas de CPU;
  • Complexidade dos sistemas modernos: Com tantas camadas entre hardware e software (drivers, middlewares, engines), o impacto de otimizações em um nível pode ser diluído em outros.

Um estudo acadêmico realizado na Universidade Federal de Ouro Preto chegou a conclusões semelhantes. Testando várias distros (incluindo o CachyOS), os pesquisadores descobriram que o Ubuntu comum obteve desempenho média apenas 1,12% superior – diferença estatisticamente irrelevante na prática.

Para quem o CachyOS faz sentido?

Diante de tudo isso, quem deveria considerar seriamente o CachyOS? Alguns cenários se destacam:

Entusiastas de hardware moderno

Usuários com CPUs recentes (especialmente AMD Zen 3/4 ou Intel Alder Lake/Raptor Lake) podem se beneficiar mais das otimizações específicas do CachyOS.

Gamers competitivos

Para quem joga títulos onde cada frame conta (como esports), mesmo ganhos marginais podem fazer diferença.

Usuários de dispositivos handheld

A edição especial para portáteis parece particularmente promissora, oferecendo melhor balanceamento entre desempenho e consumo de energia.

Fãs de Arch Linux

Quem já gosta do Arch Linux, mas deseja um sistema mais ajustado sem ter muito trabalho pode encontrar no CachyOS um meio-termo interessante.

Por outro lado, usuários casuais ou quem prioriza estabilidade podem ficar melhor servidos com distros mais tradicionais.

A busca pelo desempenho perfeito

Há algo fascinante na forma como projetos como o CachyOS são recebidos pela comunidade. Existe uma ânsia quase universal pelo “segredo” que resolverá todos os problemas de desempenho – seja em Linux, hardware ou até na vida pessoal.

O CachyOS, com seu foco técnico e otimizações agressivas, naturalmente atrai esse tipo de expectativa. Mas como nossos testes mostraram, a realidade é mais matizada. Desempenho de sistema é um quebra-cabeça complexo, onde ganhos marginais em várias áreas podem (ou não) somar para uma diferença perceptível.

O trabalho da equipe do CachyOS é admirável precisamente porque encara esse desafio de frente – mesmo sabendo que os resultados podem não ser tão espetaculares quanto alguns esperariam.

Quer um exemplo claro sobre como a questão de desempenho em sistemas operacionais é mais nivelada do que o marketing sugere? Confira o nosso grande benchmark!

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Redator, além de estudante de engenharia e computação.
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