Em um movimento que surpreendeu a comunidade de tecnologia, o Redis anunciou seu retorno ao mundo open source após uma breve (e polêmica) aventura com licenças restritivas. A versão 8.0 do popular banco de dados em memória chega com uma nova licença AGPLv3, trazendo de volta a essência colaborativa do projeto – e deixando para trás um ano conturbado que (quase) custou sua reputação.
Quando o Redis deixou de ser open source
Tudo começou em 2024, quando o Redis decidiu adotar as licenças RSALv2 e SSPLv1. O objetivo? Impedir que gigantes da nuvem (como AWS, Google Cloud e Azure) oferecessem o Redis como serviço sem contribuir financeiramente para seu desenvolvimento.
A estratégia fez sentido do ponto de vista comercial, mas teve um efeito colateral devastador: o Redis deixou de ser considerado verdadeiramente open source. A comunidade reagiu imediatamente, com empresas como Amazon, Google e Oracle criando um fork chamado Valkey, mantido sob a licença BSD (a mesma que o Redis usava originalmente).
Para piorar, distribuições Linux começaram a remover o Redis de seus repositórios, substituindo-o pelo Valkey. De repente, o Redis, que antes era a opção padrão para armazenamento em memória, estava perdendo espaço para seu próprio clone.
O retorno
Em 1º de maio de 2025, o Redis anunciou sua volta ao open source com a adoção da AGPLv3, uma licença copyleft que exige que modificações sejam compartilhadas publicamente. A mudança veio acompanhada de melhorias significativas no Redis 8:
Vector Sets
Pela primeira vez em anos, o Redis ganha um novo tipo de dado nativo: Vector Sets, que permitem armazenar e consultar vetores de alta dimensão. Isso transforma o Redis em uma solução leve para bancos de dados vetoriais, ideal para aplicações de IA generativa.
Módulos integrados ao núcleo
Recursos antes exclusivos do Redis Stack – como suporte a JSON, séries temporais e estruturas probabilísticas – agora fazem parte do Redis padrão. Isso elimina a necessidade de manter duas versões separadas e acelera o desenvolvimento de novas funcionalidades.
Ainda mais rápido
Com mais de 30 otimizações, o Redis 8 promete:
- Até 87% mais velocidade em comandos comuns
- 2x mais operações por segundo
- 18% mais rápido em replicação
- Consultas 16x mais rápidas quando usando o novo mecanismo de buscas
Questões e lições
A volta do Redis ao open source é uma vitória para a comunidade, mas algumas questões permanecem:
Os provedores de nuvem vão abandonar o Valkey? Improvável. AWS, Google e Microsoft já investiram pesado em suas próprias versões e dificilmente voltarão atrás.
O Redis vai retornar aos repositórios Linux? Possivelmente, mas agora dividindo espaço com o Valkey – o que, no fim das contas, só beneficia os desenvolvedores.
A breve saída do Redis do ecossistema open source mostrou que, nesse mundo, confiança é um ativo tão valioso quanto o código. Projetos que mudam drasticamente suas licenças podem recuperar sua legalidade técnica, mas recuperar a confiança da comunidade é um processo mais lento.
Felizmente, o Redis parece estar no caminho certo. Com a volta de Salvatore Sanfilippo (antirez), criador original do projeto e uma nova abordagem mais aberta, há esperança de que o Redis volte a ser relevante.
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