O MinIO, por anos considerado um dos melhores sistemas de armazenamento de objetos open source e compatível com Amazon S3, tomou uma decisão polêmica que está deixando a comunidade de código aberto em polvorosa. Em uma atualização recente, a empresa removeu funcionalidades essenciais da interface web da versão gratuita, deixando apenas um simples navegador de arquivos.
Para quem quer gerenciar usuários, políticas de acesso, replicação de dados e outras funções administrativas, a mensagem é clara: “Pague ou use a linha de comando”. E não estamos falando de um valor baixo – o plano comercial começa em US$ 96.000 por ano, mesmo para apenas 1 TB de armazenamento.
Mas será que isso ainda pode ser chamado de open source?
A “simplificação” que ninguém pediu
A mudança foi anunciada como uma “simplificação da interface“, mas o que realmente aconteceu foi uma remoção massiva de código. O PR (Pull Request) que implementou a alteração modificou 1.086 arquivos, adicionou 66.208 linhas e removeu impressionantes 191.451 linhas – um “enxugamento” de 125.243 linhas de código.
Quem usava o MinIO antes da atualização via uma interface completa, com recursos como:
- Gerenciamento de usuários e políticas;
- Replicação entre servidores;
- Monitoramento e logs;
- Configurações avançadas de segurança.
Agora, tudo isso desapareceu, restando apenas um navegador de objetos básico.
A resposta oficial da MinIO às criticas da comunidade foi direta: os recursos administrativos ainda existem, mas agora só estão disponíveis via linha de comando (mc admin) ou na versão paga (AIStor).
E não foi uma transição tranquila. Quando usuários questionaram a mudança no GitHub, a discussão foi trancada, e um desenvolvedor simplesmente respondeu:
“Se você quer a interface completa, considere assinar nossa versão comercial.”
MinIO ainda é open source?
O MinIO continua sob a licença AGPLv3, o que significa que, legalmente, continua sendo open source. Mas eticamente, a estratégia de remover funcionalidades da versão gratuita para forçar a migração para o plano pago vai contra o espírito do software livre.
Não é a primeira vez que isso acontece. Em 2024, a Redis tentou uma jogada semelhante, mudando sua licença para uma mais restritiva. O resultado? A comunidade criou um fork chamado Valkey em apenas 10 dias, e grandes distribuições Linux começaram a substituir o Redis por essa alternativa, forçando os desenvolvedores a retrocederem.
Será que o MinIO está preparado para um êxodo semelhante?
Alternativas ao MinIO
Se você está decepcionado com a mudança, algumas alternativas open source e S3-compatíveis incluem:
- Garage (leve e distribuído, mas sem interface gráfica nativa);
- Ceph (poderoso, mas complexo);
- SeaweedFS (simples e rápido);
- Apache Ozone (para grandes volumes de dados).
O Garage tem sido o mais citado como substituto, mas ainda não tem todos os recursos do MinIO, como versionamento de objetos.
O caso do MinIO é mais um capítulo na eterna tensão entre software livre e monetização. Empresas têm todo o direito de cobrar por seus produtos, mas quando um projeto cresce graças à comunidade e depois restringe acesso, a reação costuma ser rápida e implacável.
Será que a MinIO está subestimando o poder da comunidade? Ou será que US$ 96.000/ano vai realmente compensar a perda de confiança dos usuários?
Uma coisa é certa: quando um projeto open source vira um produto fechado, alguém sempre aparece para ocupar o espaço vazio.
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