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Por que projetos open source não recebem reconhecimento financeiro?

A pauta levantada por Jonathas Oliveira, membro da comunidade Diolinux exclusiva para membros no Discord, trouxe uma questão importante sobre o universo do open source: por que projetos open source amplamente usados não recebem reconhecimento financeiro proporcional à sua relevância?. Para entender essa questão, precisamos examinar as várias camadas de fatores que influenciam esse cenário. Tracemos paralelos com exemplos do mercado para responder a essa pergunta e explorar as nuances que envolvem o financiamento de projetos open source.

Início dos Projetos Open Source: Paixão e Necessidade

Muitos projetos open source surgem de um ponto simples: a paixão dos desenvolvedores. Muitas vezes, esses projetos não começam visando serem monetizados. Os desenvolvedores percebem uma necessidade ou um problema que precisam resolver, e, em vez de buscar soluções no mercado, decidem criar algo próprio.

Por que projetos open source não recebem reconhecimento financeiro

Um exemplo claro são os aplicativos do Flathub, onde muitos desenvolvedores criam soluções que atendem suas necessidades diárias, como a conversão de arquivos de imagem de JPEG para PNG. Esse tipo de software pode ser altamente útil para outros, mas raramente nasce com uma estratégia de monetização.

Além disso, muitos desenvolvedores se envolvem em projetos open source como uma forma de construir portfólios ou como uma forma de contribuir com a comunidade tecnológica. A ideia de ajudar outras pessoas ou de construir algo maior que si é um dos grandes motivadores por trás da participação em projetos open source. Outro ponto que não pode ser ignorado é o reconhecimento profissional que um desenvolvedor pode ganhar ao resolver problemas de forma inovadora e compartilhar essas soluções publicamente.

É difícil tratar o open source como uma entidade única, já que ele engloba uma vasta gama de projetos e propósitos. Existem projetos que têm como foco apenas solucionar problemas específicos de seus criadores, enquanto outros são criados com um propósito mais amplo, como ganhar visibilidade no mercado de trabalho ou obter contribuições de outros desenvolvedores para evoluir a solução.

Por outro lado, alguns projetos são open source por uma questão estratégica, como no caso de linguagens de programação ou tecnologias de infraestrutura. Nesse contexto, a abertura do código é essencial para sua adoção em larga escala, já que poucos estariam dispostos a pagar por uma linguagem ou tecnologia fechada. Esses tipos de projetos podem ser amplamente adotados, mas isso não significa que eles gerem retorno financeiro direto significativo para seus criadores.

O desafio da monetização: KDE e GNOME

Quando olhamos para projetos open source de grande porte, como o KDE ou o GNOME, a falta de reconhecimento financeiro é ainda mais intrigante. O KDE, por exemplo, é um dos ambientes gráficos mais utilizados em sistemas operacionais baseados em Linux. No entanto, mesmo com essa popularidade, ele enfrenta dificuldades financeiras. Recentemente, o projeto anunciou um esforço para aumentar a captação de fundos, buscando contratar mais desenvolvedores full-time e acelerar o progresso do ambiente gráfico. A questão que surge aqui é: por que um projeto tão amplamente utilizado como o KDE enfrenta problemas para arrecadar fundos?

Uma possível explicação está relacionada ao fato de que, embora amplamente utilizado, o KDE não está diretamente vinculado à geração de receita para muitas das empresas que o utilizam. Distribuições Linux que utilizam o KDE, como o Kubuntu, por exemplo, não geram receita diretamente por meio do ambiente gráfico. Isso cria um cenário onde o KDE, apesar de ser uma ferramenta essencial, não é visto como uma prioridade de investimento por essas empresas.

O contraste com o GNOME também é interessante. Embora o GNOME também enfrente dificuldades financeiras, ele está mais diretamente vinculado às principais distribuições Linux, que o utilizam como ambiente gráfico padrão. Mesmo assim, o investimento no GNOME não é tão significativo quanto poderia ser, dado o impacto que ele tem no ecossistema Linux.

A questão do incentivo financeiro

Um ponto importante na discussão sobre o financiamento de projetos open source é o incentivo financeiro. No mundo empresarial, a alocação de recursos geralmente segue o princípio de retorno sobre o investimento. Isso significa que as empresas tendem a investir em áreas que trarão mais benefícios financeiros, seja em termos de receita direta ou de melhorias operacionais.

Usando um exemplo prático, aqui no Diolinux, fazemos vídeos e geramos conteúdo para o público. Uma das formas de melhorar a qualidade desse conteúdo é reinvestir em equipamentos melhores, como câmeras, microfones e lentes. Esses investimentos ajudam a melhorar a qualidade dos vídeos e, consequentemente, podem gerar mais receita. Isso cria um ciclo de reinvestimento e retorno que é fundamental para o crescimento do negócio.

No caso de projetos open source, nem sempre existe um ciclo claro de retorno financeiro. A menos que o projeto esteja diretamente relacionado à geração de receita, como no caso de empresas que oferecem suporte pago ou serviços baseados em open source, o incentivo para investir grandes quantidades de dinheiro é limitado. Muitas vezes, o investimento no open source vem de empresas que possuem interesse indireto na tecnologia, mas não necessariamente no projeto específico.

Um exemplo interessante de parceria entre open source e empresas comerciais é a relação entre a Valve e o KDE Plasma. A Valve utiliza o KDE Plasma como interface gráfica em seu dispositivo Steam Deck, o que, em teoria, poderia ser uma oportunidade para gerar receita para o projeto KDE. No entanto, mesmo nesse cenário, o KDE Plasma não é indispensável para a Valve. Se o KDE começasse a gerar custos excessivos para a empresa, ele poderia ser substituído por outra interface.

Esse exemplo ilustra como, mesmo quando o open source é utilizado por grandes empresas, ele nem sempre é visto como uma peça fundamental do negócio. A Valve está interessada em utilizar uma interface eficiente e funcional para o Steam Deck, mas o incentivo para investir no desenvolvimento do KDE Plasma é limitado, por existirem alternativas que poderiam ser implementadas caso o custo-benefício não seja mais interessante.

Um desafio, uma oportunidade

A falta de reconhecimento financeiro para projetos open source é uma questão complexa, que envolve desde a motivação dos desenvolvedores até a dinâmica do mercado empresarial. Projetos open source muitas vezes surgem como soluções para problemas pessoais ou como uma forma de ganhar visibilidade no mercado de trabalho, e não são projetados com uma estratégia de monetização desde o início.

Para que projetos open source recebam maior reconhecimento financeiro, precisamos de um alinhamento maior entre a adoção de tecnologias open source e a geração de receita para as empresas que as utilizam. Isso pode acontecer por meio de modelos de negócios baseados em serviços, parcerias comerciais ou iniciativas de financiamento colaborativo.

Enquanto o cenário atual ainda apresenta muitos desafios, a crescente adoção de tecnologias open source por empresas de grande porte, como a Valve, demonstra que há potencial para que o reconhecimento financeiro desses projetos aumente no futuro. Contudo, para que isso aconteça, será necessário um esforço conjunto entre desenvolvedores e empresas para criar modelos sustentáveis de financiamento que beneficiem ambas as partes.

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Este conteúdo foi baseado no episódio do Diocast, onde conversamos sobre porque a sustentabilidade financeira é um dilema para projetos open source. Assista na íntegra!

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