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BSD, o “outro” sistema de código aberto baseado no Unix

Quando se pensa em sistema de código aberto baseado no Unix para usar em computadores, a maioria das pessoas pensa no Linux, mas antes do sistema do pinguim nascer, outro projeto que compartilha algumas similaridades começava a tomar forma na Califórnia, EUA.

Como nasceu o BSD?

Em 1974, o Professor Bob Fabry, da universidade de Berkeley, adquiriu uma licença para o código-fonte do sistema Unix da AT&T, a gigante de telecomunicações norte-americana. Usando o suporte financeiro da DARPA, agência do governo dos EUA, ele começou a modificar e melhorar o UNIX da AT&T, visando a evolução do software.

As modificações no projeto Unix começaram a dar resultado e acabaram criando uma nova base de código, recebendo o nome de “Berkeley Unix”, ou “Berkeley Software Distribuition”, abreviado para BSD, com recursos consideravelmente novos para os anos 70, como o TCP/IP, memória virtual e novos sistemas de arquivo.

O projeto BSD, no entanto, só seria fundado de fato em 1976, dois anos depois, William Nelson Joy, um engenheiro da universidade, começa a tratar o BSD como algo completamente a parte do Unix da AT&T. Nessa época, o BSD ainda usava muito código proprietário.

Para poder fazer qualquer coisa, antes era necessária uma licença concedida pela AT&T, isso ainda perdurou por muito tempo e foi só no final da década de 80, que um dos desenvolvedores do BSD, Keith Bostic, sugeriu que uma versão livre das amarras da AT&T do sistema, trocando todos os componentes proprietários por versões disponíveis sob licenças abertas Um trabalho que levou considerável tempo, mais ou menos 2 anos depois, já no início dos anos 90, uma versão livre do BSD surgiu, o FreeBSD, mais ou menos na mesma época do surgimento do Linux.

Ao contrário do que você possa pensar, o FreeBSD é amplamente utilizado até hoje, mas ele fez sucesso em algumas áreas onde o Linux acabou não se tornando a melhor solução, especialmente pela natureza da sua licença de software. A licença BSD dá ainda mais liberdade aos usuários, permitindo inclusive o fechamento do código de um produto derivado do código aberto, e isso tem um grande apelo em algumas indústrias.

Aonde o BSD é popular?

Assim como o Linux tem as suas distros, o FreeBSD também pode ser moldado para propósitos bem diferentes, criando o que a gente pode chamar de “distros BSD”. Alguns projetos que você já viu aqui no canal, como o PfSense, sistema para roteadores, e o TrueNAS, sistema para armazenamento de dados, são BSD por baixo dos panos.

Partes do código do FreeBSD também são utilizadas nos sistemas da Apple, macOS, iPadOS, WatchOS e assim por diante. A Sony costuma usar no PlayStation, a Nintendo no Switch e assim por diante, grandes empresas como Netflix e Meta também usam FreeBSD em alguns dos seus servidores, ao lado do Linux.

Um local muito mais raro de encontrarmos o FreeBSD ou alguma de suas distros, é nos desktops e laptops, desconsiderando as raízes do Darwin, o Kernel do macOS, são poucos os sistemas completamente open source com base no FreeBSD, mas existem alguns, sendo o mais proeminente, o GhostBSD.

Testamos GhostBSD, um sistema de código aberto baseado no Unix

O GhostBSD é um dos poucos sistemas com Kernel FreeBSD com foco exclusivo em desktop e computação doméstica, enquanto a maioria das outras distros de alguma forma acaba mirando outros tipos de dispositivos ou mesmo o mercado empresarial.

Ele oferece uma experiência relativamente parecida com o Linux, mas claramente temos aqui coisas bem diferentes do Linux, como o bootloader próprio do sistema, o sistema de arquivos é o poderoso ZFS.

Para um desavisado, o GhostBSD parece mesmo um Linux, e por ambos os sistemas compartilharem muitas coisas vindas do próprio Unix, ainda que o FreeBSD seja muito mais próximo do que o Linux, muito da estrutura do sistema é semelhante. O comando “ls” na raiz do sistema mostrará várias coisas que você já deve ter observado na raiz de um Linux também.

O sistema usa o ambiente MATE por padrão, existe uma ISO comunitária com XFCE e, em tese, é possível instalar manualmente algumas outras interfaces populares do mundo Linux também. Como as interfaces gráficas são de código aberto, a adaptação para rodar sobre o Kernel FreeBSD, ao invés do Linux, é relativamente simples, e juntamente com elas, vários outros aplicativos tradicionais também receberam suporte, como o Xorg, ou mesmo o Wayland, ainda que experimentalmente.

Nesse ambiente MATE, encontramos diversos utilitários comuns no ambiente desktop, mas também temos algumas coisas específicas do FreeBSD, o userland, por exemplo, não usa softwares do GNU, o terminal utiliza o FISH ao invés do BASH ou do ZSH, o GhostBSD. Ele também vem com o Firefox como navegador e com o VLC para reprodução multimídia, dois softwares muito populares em todos os sistemas.

Na sessão de administração do sistema, encontramos algumas ferramentas únicas de sistemas FreeBSD e do GhostBSD, como Backup Station, uma ferramenta gráfica para gerir as capturas que o ZFS consegue gerar, algo semelhante ao que o BTRFS consegue fazer no Linux. Também temos a Software Station, uma loja de apps, ou melhor dizendo, o gestor de pacotes, onde você pode buscar por novas aplicações, e o Update Station, um App simples para atualizar o sistema.

O sistema é rolling release, mas ele não é bleeding edge, então as atualizações são um pouco mais demoradas.

Provavelmente, as principais limitações dos sistemas baseados em FreeBSD estão na disponibilidade de software e na compatibilidade de hardware, enquanto programas de código aberto podem receber versões para o sistema, programas proprietários que não tem como público alvo o sistema operacional, geralmente não aparecem.

A comunidade no entorno do GhostBSD até costuma se esforçar para criar algumas adaptações, como no Steam, mas por não ter o melhor dos suportes para drivers de vídeo também, isso pode ser um problema em algumas circunstâncias.

É uma situação onde nem hardware muito antigo, nem hardware muito novo tende a funcionar muito bem, mas se funcionar, e pode valer a pena fazer o teste, você deve encontrar um sistema operacional muito estável e otimizado, com baixo consumo de recursos, que pode ser usado para qualquer finalidade, ao menos virtualmente, já que depende das atividades que você deseja fazer, claro.

Se você for do tipo que gosta de fuçar em bits, existem várias técnicas para instalar softwares diferentes usando o Linuxulator, uma forma de rodar binários do Linux no FreeBSD.

FreeBSD é um sistema que vale a pena aprender, sem dúvidas, mas só se você sentir que existe alguma aplicabilidade na sua vida ou na sua carreira profissional para ele. Caso contrário, ele apenas adicionará complexidade ao seu uso diário do computador.

Fora isso, com um pouco de adaptação, seria possível fazer um bom uso de um sistema assim, o FISH mesmo, que eles usam no lugar do BASH é muito legal, e a gente fez um comparativo dele com o ZSH e o BASH.

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