Rocky Linux substituiu o CentOS?
Quando se fala em sistemas Linux para tarefas realmente sérias, em servidores e ambientes enterprise, a quantidade imensa de distros Linux acaba desaparecendo, e só sobram alguns projetos mais específicos, como Ubuntu, Debian, SUSE, CentOS e Red Hat, com alguns sistemas derivados desse último como o Oracle Linux e o Amazon Linux de 2023.
Desses sistemas, apenas Debian e CentOS não tinha uma grande corporação diretamente envolvida com o sistema, especialmente o Debian, já que o CentOS, que começou como um projeto independente, com o tempo passou a fazer parte da Red Hat, sendo basicamente uma versão de comercialmente livre do Red Hat Enterprise Linux.
Isso fez com que muitas indústrias adotassem o CentOS como solução principal, afinal, estariam utilizando o poderoso e estável Red Hat Enterprise Linux, sem precisar pagar. Apesar de ter sido considerada uma medida controversa, e, ao mesmo tempo, compreensível, no final de 2020, a Red Hat anunciou uma mudança no projeto CentOS que acabou tirando ele do mercado da forma com que as pessoas estavam acostumadas.
Naturalmente todo mundo especulou qual sistema tomaria o lugar dele, e ao que parece o Rocky Linux substituiu o CentOS de vez.
O que aconteceu com o CentOS?
A Red Hat anunciou que a partir de 31 de Dezembro de 2021, ela voltaria seus esforços em produzir o CentOS Stream, em vez do CentOS tradicional que todos estavam acostumados. Para entender a diferença, você precisa compreender como a linha de produção da Red Hat funcionava antes.
Primeiro você tem o Fedora, que recebe todas as novidades e atualizações e funciona como um campo de testes, com fixos semestrais. Desse código do Fedora, nascia o Red Hat Enterprise Linux, que geralmente utilizava pacotes um pouco mais antigos, mais testados e estáveis, uma abordagem parecida à do Debian, se você ver ver.
E do código do RHEL, nascia uma distro clone dele mesmo, chamada CentOS, que era binariamente compatível, feature por feature, bug por bug, com o principal sistema da Red Hat. A diferença é que ele não tinha suporte empresarial por parte da Red Hat e todos os serviços e logos da Red Hat atrelados ao sistema eram removidos no CentOS.
Esse funcionamento fez com que o CentOS acabasse ficando, em número ao menos, consideravelmente mais popular do que o Red Hat Enterprise Linux, enquanto o CentOS chegou a ter 18% do mercado Linux, o Red Hat mal chegava a 2%.
Isso acontecia porque, como todo software de código aberto, a Red Hat poderia não dar suporte ao CentOS, mas outras empresas se formaram justamente para isso, o site do Diolinux, por exemplo, foi hospedado num servidor com CentOS por muito tempo, com uma equipe de desenvolvedores da própria empresa de hospedagem cuidando das atualizações, aplicando patches e customizando o Kernel.
A mudança da Red Hat, transformando o CentOS no CentOS Stream, que é o que temos hoje, modificou a forma de funcionamento da linha de produção, basicamente colocando o CentOS como mais uma etapa do processo, deixando de ser um clone.
Dessa forma, o Fedora continua sendo a distro de vanguarda, que recebe as novidades e é um campo de testes, o CentOS Stream fica no meio do caminho, nas próprias palavras de Chris Wright, CTO da Red Hat:
“O projeto CentOS Stream fica entre o Fedora e o RHEL no processo de Desenvolvimento, fornecendo uma “rolling preview” dos futuros kernels e recursos do RHEL. Isso permite que os desenvolvedores fiquem um ou dois passos à frente do que está chegando no RHEL, o que anteriormente não era possível nas versões tradicionais do CentOS.”
Basicamente nós temos Fedora, CentOS Stream, que agora é rolling release e não tem mais os pacotes com longo tempo de suporte de antes, para só então, depois dos pacotes do CentOS serem completamente testados, o Red Hat Enterprise Linux.
Essa mudança específica inviabilizou o CentOS de ser utilizado em locais mais sérios, afinal, dificilmente alguém quer um sistema rolling release num servidor, sem falar da insegurança que essa decisão da Red Hat gerou no mercado, pois não sabemos o que acontecerá com o projeto no futuro.
Com tudo isso, várias distribuições começaram a tentar tomar parte dos clientes que usavam o CentOS, naturalmente algumas das outras distros populares colheram esses frutos. Observando somente os sistemas em servidores web, de alguns sites importantes num relatório da W3TECHS, podemos ver que o CentOS desceu aproximadamente de 18% em 2021, para 8,2% em 2023.
Até mesmo o próprio Red Hat parece ter caído um pouco. Claro que a gente não pode deixar de perceber a anomalia no uso causada pelo período de pandemia, onde todo o mercado cresceu e o Ubuntu chegou a quase 50% dos servidores.
Isso quer dizer que a galera que se espalhou do CentOS, acabou buscando o Ubuntu e o Debian como principais alternativas, mas por melhores que esses sistemas sejam, servidores Web são apenas uma das muitas aplicações do CentOS, que são usados em servidores de diversos tipos, como em pesquisas científicas, estações de trabalho para desenvolvimento e até mesmo pela indústria do cinema.
Por esse motivo, é natural pensar que uma boa fatia do mercado gostaria de continuar usando o CentOS se pudesse, foi justamente para preencher este espaço que sistemas como o Oracle Linux, o Alma Linux e Rocky Linux se apresentaram.
Por que parece que o Rocky Linux substituiu o CentOS?
O projeto foi criado por Gregory Kurtzer, que é nada mais, nada menos do que o criador original do CentOS, que decidiu continuar fazendo o trabalho que o CentOS fazia. Ele estruturou o Rocky Linux legalmente para que não possa acontecer com ele o que ocorreu com o CentOS.
É uma distro relativamente nova, mas tem todos os precedentes do criador do próprio CentOS. Apesar da primeira versão ter saído somente na metade 2021, atualmente o projeto já recebe apoio de várias grandes empresas, como a AWS, ARM, Google Cloud, VMWARE, Rakuten Symphony, Azure e assim por diante.
Hoje o Rocky Linux está disponível em praticamente todas as nuvens públicas populares, além de poder ser baixado gratuitamente diretamente do site, tanto a versão 8, baseada no CentOS 8, que teve a sua vida de suporte cortada pelo CentOS Stream, quanto a versão 9, baseada no Red Hat Enterprise Linux 9.
É uma distro como o próprio Red Hat, que a gente já fez vídeo mostrando, mas sem logos e serviços de assinatura, tal qual o antigo CentOS também era. Atualmente, por padrão o Rocky utiliza o XFS como sistema de arquivos, no processo de instalação você tem vários perfis diferentes para escolher, assim como conjuntos de pacotes, para transformar a sua instalação do Rocky em um servidor com ou sem interface, uma estação de trabalho para você usar no computador, servidor de virtualização, entre outras coisas.
Caso você selecione alguma opção com interface gráfica, o padrão é o GNOME, assim como ocorre no Red Hat e com todos os derivados, porém, o Rocky também tem imagens da comunidade feitas com outros ambientes gráficos. Você pode também baixar o Rocky com Cinnamon, KDE, MATE e XFCE, se preferir. Ele já vem com suporte a Flatpak, apesar de não ter nenhum repositório flatpak habilitado, caso você decida usar no desktop.
Existem distros melhores para usuários domésticos, geralmente serão profissionais que vão usar o Rocky Linux em suas estações de trabalho, ou em ambientes onde a interação com o computador é mais mono-atividade.
No mundo do servidores, ele basicamente serve para qualquer coisa, inclusive, algo curioso que ocorreu é que a Blackmagic Design, empresa que faz o DaVinci Resolve e vários outros hardwares voltados a indústria audiovisual, costumava ter uma ISO do CentOS, com automações de dependências e drivers da NVIDIA para instalar o DaVinci Resolve nas estações de trabalho dos estúdios, agora essa mesma ISO é baseada no Rocky Linux.
Como o Rocky é basicamente um clone do Red Hat Enterprise Linux e do CentOS antigo por tabela, a migração para ele é relativamente simples, basta mudar os repositórios e fazer alguns ajustes. O pessoal do Rocky tem uma documentação para isso, com um script que migra o seu antigo servidor CentOS para o Rocky Linux, aliás, funciona em qualquer servidor da mesma base, esse script consegue migrar o CentOS Stream, o CentOS normal, o Alma Linux, o RHEL e o Oracle Linux para o Rocky, se você quiser.
Ainda é cedo para dizer se o Rocky Linux vai ganhar realmente o espaço deixado pelo CentOS, mas ele é um dos candidatos mais proeminentes.
Que tal aprender a criar sua própria distro Linux do zero?