Pessoas inteligentes, com muito conhecimento, tendem a pensar demais sobre assuntos simples, ignorando as soluções mais óbvias, algo que podemos chamar de “a arte de complicar o simples”. Um bom exemplo, é uma anedota da época da corrida espacial entre EUA e União Soviética:
Nos anos 60, a NASA gastou milhões de dólares e muito tempo tentando criar uma caneta que conseguisse expelir tinta no espaço para os astronautas escreverem, o que era um grande desafio, dada a menor influência da gravidade da terra, enquanto isso, os soviéticos simplesmente deram um lápis para os cosmonautas.
Uma lição de senso comum, criatividade, sobre como pensar demais pode ocultar soluções mais simples. No fim das contas, as coisas não aconteceram exatamente assim, mas mesmo que seja uma mentira divertida, é uma grande lição.
Esta lição poderia ter sido aplicada num dos problemas que um membro da comunidade Diolinux teve, e que com certeza, você vai poder aplicar em vários outros campos da sua vida, evitando “cegueiras técnicas”.
O problema da “cegueira técnica” em pessoas inteligentes
Nosso membro, YllaSjofn, postou no fórum Diolinux Plus sobre um problema que estava ocorrendo no computador com Linux Mint. Simplesmente não saia som pelo computador, aparentemente o mesmo aconteceu numa instalação com o Debian 12. Algo que parece simples de entender, não tão complexo de diagnosticar.
A comunidade, sempre muito prestativa, começou a tentar ajudar. Várias boas sugestões e pessoas incríveis participaram da discussão, ajudando a chegar na solução. O curioso é que esse acabou virando um problema de tentar criar uma caneta, quando poderia usar um lápis.
Para tentar ajudar, as pessoas começaram a pedir informações que poderiam ajudar na solução de problemas, como qual era o hardware do computador, algo bem importante, sem qual, fica difícil progredir.
Sempre que for postar a sua dúvida no fórum, já inclua informações relevantes, acaba sendo um passo a menos para quem for ajudar. Para quem quer ajudar, se a pessoa preencheu o perfil dela corretamente, ao clicar na foto do usuário, você deve ver que hardware ela tem, então, preencher esse dado e manter atualizado, pode viabilizar outros a te ajudarem dentro do Diolinux Plus.
Não demorou muito para a investigação ficar mais intensa, tentando observar se alguns firmwares estavam instalados, depois, tivemos o uso do INXI para coletar dados de hardware, uma ótima ferramenta.
Depois ficou ainda mais avançado, com sugestões de configurações no servidor de som e módulos de áudio do kernel, algumas pessoas começaram a desconfiar de que poderia ser um problema com até com própria placa de som do computador, o que foi descartado logo, já que no dual boot com Windows 10, a placa de som funcionava corretamente.
O Ylla é membro do canal, chegamos a conversar sobre isso no nosso servidor no Discord secreto para membros, ficou claro que é uma pessoa com bastante conhecimento em informática, não necessariamente em Linux ainda, que estava se aventurando nesse mundo e tendo seus primeiros contatos, claramente sem medo de mexer no terminal, algo excelente.
No fim, a solução era algo bobo, uma das primeiras coisas que deveríamos pensar. Placas de som Intel tem suporte pleno no Linux, é algo que deve funcionar. Bastava acessar as configurações do sistema e trocar a saída de áudio. Pelas capturas de tela, a placa de som claramente está sendo reconhecida, se não o ícone de alto-falante não apareceria. Poderia até ser uma questão de volume.
É impressionante como demorou para alguém pensar em algo tão básico, isso gerou um bocado de reflexão. Essa não é uma daquelas situações onde alguém de culpa, mas será que já deixamos de resolver outros problemas por complicar demais as coisas?
Cada uma das pessoas que participou da discussão, não só foi muito generosa, doando o seu tempo para ajudar o próximo, como claramente é inteligente e tem um repertório técnico alto, comparado com um simples usuário comum de computador. Parece que, por saber muito sobre algum determinado assunto, por vezes a gente tem dificuldade de simplificar as coisas.
A gente tem dificuldade de pensar como um iniciante pensaria, o que, muitas vezes, nos faz supor que o problema deva ser muito mais complexo do que realmente é. Talvez, mesmo inconscientemente, a gente supôs que a troca de saída de áudio é algo tão básico, que qualquer problema com som seria possivelmente algo mais complexo do que isso.
Às vezes, quando a gente sabe como fazer, assumimos que qualquer outra pessoa também saberia. Isso é obviamente um erro, o seu óbvio de hoje, é um complexo de ontem, e mais do que isso, é o assunto que nem te passava pela cabeça como um problema anteontem. O fato das mentes tentando resolver o problema terem conhecimento avançado, acabou cegando para a solução mais simples.
Isto é apenas uma constatação, certamente você vai conseguir perceber algo do tipo em outros locais da internet e da vida, mesmo em outros campos de estudo. Por exemplo, já percebeu que quanto mais a gente se aprofunda em computação, mais sínicos ficamos em relação aos assuntos que envolvem tecnologia?
Já percebeu que quanto mais você estuda, quase mais nada sobre o assunto te surpreende, nem te empolga verdadeiramente, tudo tem defeito, tudo tem problema. Por conhecer a fundo certas coisas, a gente problematiza certos assuntos num nível que se for conversar com alguém que não se aprofundou tanto, as coisas nem fariam sentido, a pessoa tá preocupada com outras coisas.
Isso representa um grande desafio para os professores que precisam comunicar ideias muito técnicas para pessoas que não tem essas habilidades tão desenvolvidas. A comunidade Linux parece composta principalmente por indivíduos que entendem muito mais de computador do que de gente, toda vez que isso muda um pouco, resultados incríveis são alcançados.
Pensar sobre como estruturar uma ideia ou produto não é uma tarefa fácil, confira nossa conversa sobre o assunto!
