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Veja por dentro o openKylin, o primeiro sistema operacional chinês

Hoje você conhecerá o primeiro sistema operacional chinês completamente nacional, que ao longo do tempo deve ir substituindo o Windows e o macOS nas empresas chinesas, nas escolas e no governo, ou pelo menos é isso que as notícias indicam.

Ele tem uma belíssima interface, com várias boas ideias que poderiam servir de inspiração para outros sistemas, pode ser usado em Desktop e Tablets, tem suporte para aplicativos Android, entre várias outras coisas.

Será que este sistema tem algum tipo de telemetria muito invasiva ou isso é só preconceito que algumas pessoas têm com softwares chineses? 

A história do openKylin

O openKylin é um sistema operacional chinês, desenvolvido colaborativamente por várias empresas, com apoio do ministério da tecnologia da China, ou seja, do governo, mas apesar disso, existe o envolvimento de pessoas de outros países também, como geralmente ocorre em projetos de código aberto grandes.

Veja por dentro o openKylin, o primeiro sistema operacional chinês quilin
Quilin, uma criatura da mitologia chinesa.

Para tudo fazer sentido, é importante que você saiba sobre o grande plano da China de eliminar a dependência tecnologia de outros países, incluindo claro os EUA, na tecnologia utilizada por lá, e isso passa desde processadores, até sistemas operacionais e softwares.

A ideia era substituir gradualmente os sistemas operacionais em escolas, departamentos públicos e incentivar a troca em empresas também, até o final de 2022, algo que por conta da pandemia deve ter ficado um pouco mais difícil.

De toda forma, o openKylin é a resposta para esse projeto e existe uma grande chance dessa mudança, se bem sucedida, causar grandes impactos no mercado, já que a China é um pequeno planeta por si só, com quase 1 bilhão e meio de pessoas.

Política à parte, não é surpresa que a China gostaria de deter a sua própria tecnologia, o que é surpreendente é que eles façam isso com código aberto. O código fonte do OpenKylin está disponível num repositório Gitee, a contrapartida do GitHub na China.

Talvez você já tenha ouvido falar do Ubuntu Kylin, o Ubuntu para o mercado chinês. Apesar de não ter envolvimento direto da Canonical, o Ubuntu Kylin e o OpenKylin compartilham algumas coisas, como a UKUI, a interface do sistema.

O que este sistema operacional chinês oferece?

O openKylin claramente tem inspiração do Windows 10, mas ele tem vários elementos que a gente pode ver em outras distros Linux e sistemas operacionais, muita coisa inclusive é inspirada ou importada do Deepin, outra distro chinesa, talvez a mais famosa delas.

Você tem uma barra de tarefas, um menu com campo de buscas, um desktop ativo, uma loja de aplicativos, e suporte para o inglês, apesar de várias coisas mal traduzidas. Isso é uma amostra de que esse sistema, apesar de ter sido pensado para o público chinês, não se importa sem sair da China e alçar voos maiores ao longo do tempo.

Aparentemente, ser o primeiro sistema independente criado pela China, não realmente quer dizer que o sistema tenha apenas softwares feitos no país, ou que ele não suporte tecnologias criadas em outros locais. Só quer dizer que os servidores de atualizações e a geração do sistema ocorre numa comunidade primariamente chinesa. Não é nada parecido com o Linux da Coreia do Norte, lá a ideia era se isolar do mundo, a China parece querer ser um líder de mercado.

O instalador é basicamente o mesmo do Deepin, vários softwares que eles usam no OpenKylin ou são do Deepin também, ou são forks, ou ainda simplesmente tem um visual muito próximo do que o deepin apresenta nos seus softwares.

Ele já vem com vários softwares de código aberto populares que não são originalmente da China, muitos vindo diretamente do ambiente MATE, ainda que a interface se foque em Qt.

Veja por dentro o openKylin, o primeiro sistema operacional chinês 1

O navegador do sistema é o Firefox e o buscador padrão dele é o Google, apesar da página inicial não ser, ele já vem com Docker pré-instalado, algo bem diferente, mas que serve para a integração com o software para rodar aplicativos Android.

Ele vem com o Kernel Linux 6.1, numa estrutura de compilação que me lembra a que a Canonical faz no Ubuntu, ele tem o WPS Office como suíte office padrão, que faz uma imitação visual do Microsoft Office, ainda vem com um gravador de CD e DVDs.

O sistema vem com o Kylin Code, um VSCode com outro nome basicamente, semelhantemente ao que alguns projetos de código aberto já fazem e geram versões alternativas do programa da Microsoft, como o VSCodium.

O sistema tem um painel lateral que lembra o Deepin, lembra o mac, lembra o Windows, lembra o Chrome OS, esse pessoal já não sabe quem copia quem. Ali a gente tem uma opção para mudar o visual do sistema para o modo Tablet, e aí ele vira o iPadOS basicamente, ao menos termos visuais.

Veja por dentro o openKylin, o primeiro sistema operacional chinês barra lateral

Isso não é a única coisa que você pode olhar e dizer, “eu já vi isso em algum lugar”, o menu do sistema tem dois modos, um é parecido com o Windows vem por padrão, mas você pode estender para o modo tela cheia, como ocorre no Deepin também.

Pela própria origem do código de vários softwares não dá para dizer que ele é um sistema 100% chinês, no máximo, podemos dizer que ele é montado e a ISO é gerada primariamente na China.

Até em termos de distribuição, apesar da maioria dos mirrors da distro serem na China de fato, já existem servidores na Dinamarca e na Suécia também, sem falar que eles dizem que quem estiver interessado em fazer um mirror, basta entrar em contato.

Se você olhar a estrutura do sistema, os arquivos de ajustes do repositório, a estrutura dos repositórios com universe, multiverse e por aí vai, são todos padrões que a Canonical usa há muito tempo, além disso, esse sistema parece muito o Ubuntu Kylin, sem o nome Ubuntu e sem usar os servidores da Canonical, não muito mais do que isso. Inclusive, um dos repositórios é um PPA, que não aponta para o launchpad da Canonical, claro, mas é hospedado em um Ubuntu Server com Apache.

Outra curiosidade interessante que o sistema tem são alguns apps feitos para o OpenKylin, um deles é um assistente por voz no estilo da Siri da Apple, que em tese, receberia comandos em inglês para você abrir programas ou certas aplicações, mas por aqui não deu muito certo.

Ele apresenta boas ideias, que inclusive poderiam estar presentes em mais distros, como por exemplo:

  • Todo aplicativo instalado pela loja é colocado na área de trabalho com um atalho, para usuários leigos é importante ficar óbvio onde abrir o aplicativo instalado;
  • O monitor do sistema do OpenKylin também separa processos de serviços em duas abas diferentes, tecnicamente, processos e serviços são meio que a mesma coisa, mas iniciados por usuários diferentes. Se quero ver processos do sistema, ou seja, serviços, inicializados pelo initsystem ou pelo root, é só ir à parte de serviços, onde você pode modificar o comportamento da inicialização, parar e reiniciar os processos do sistema, ou serviços. Enquanto isso a gente tem uma aba processos, que mostra os processos do seu usuário, ainda separados em aplicativos com uma interface clara, ou todos os processados inicializados pelo meu usuário;
  • O Toolkit, que, na verdade tem muito pouco de tool, porque ele é basicamente um visualizador de informações. Esse tipo de coisa geralmente pode ser colocada em um painel “sobre” o sistema, numa sessão “hardware” talvez, mas mesmo que seja um aplicativo meio a parte, ele é bem legal. Acho que o mais próximo disso que se tem em outros ambientes é o InfoCenter do KDE Plasma;
  • O manual do sistema, cada programa tem uma sessão com imagens e texto explicando como usar as funções básicas, e algumas até mais avançadas. Isso é algo que definitivamente deveria fazer parte de um sistema moderno, o mais próximo disso que a gente tem é o que o elementary OS faz no site deles, mas não é bem o mesmo;
  • No Peony, o gestor de arquivos, tem uma sessão nele “Data”, uma pasta virtual que agrupa todas as pastas que podem ter dados dos usuários para que você possa acessar de um só lugar;
  • Kylin OS Manager, um aplicativo de restauração e reparos, que consegue fazer uma verificação de conexão com a internet, remover arquivos temporários e cache e destruir arquivos por completo, tipo o File Shredder;
  • O “Connectivity” aparentemente ajuda a criar um ecossistema com o seu computador, a rede e o seu Smartphone, para compartilhar arquivos e até controlar os dispositivos a distância, meio no estilo KDE Connect, mas com uma interface até mais legal.

E claro,não poderiamos deixar de mencionar o KMRE, o Kernel Mobile Runtime enviroment, que permite rodar aplicativos Android no OpenKylin, instalando eles da loja, ou por APKS.

Não tem Play Store nem nada disso, testamos alguns aplicativos aqui, mas os downloads são lentos e alguns, como o que parece ser alguma versão do Temple Run, precisam de um login específico que não temos.

O KMRE é assunto de um paper, criado por estudantes chineses, publicado pelo IEEE, o mesmo instituto de engenheiros eletricistas e eletrônicos que dita os padrões de várias coisas relacionadas a tecnologia e internet, que tem sede nos Estados Unidos, curiosamente. Esse software inclusive faz parte do Ubuntu Kylin também.

Ele roda via containers Docker pelo que pudemos perceber, mas não conseguimos encontrar nada sobre ele em nenhum outro lugar, nem gitee do OpenKylin, nem como uma imagem no Dockerhub ou algum outro repositório da comunidade.

O mais próximo disso que achamos, foi um projeto chamado “Docker Android”, mas que não oferece o mesmo nível de integração que a gente tem com o OpenKylin, o qual é muito semelhante ao que se tem no Chrome OS.

Os usuários do openKylin são rastreados?

Falando em China, a gente não pode deixar de comentar sobre o aspecto de vigilância do governo, existe muita pauta para isso, mas nos ateremos à tecnologia.

Privacidade digital é um assunto com muitas nuances, telemetria não é necessariamente ruim ou invasivo, tudo depende do que é enviado, com que servidor o software se comunica e com qual intenção.

Fizemos um teste para saber quando o sistema se comunica com algum servidor e qual tipo de dados ele envia. Será que é algo fora do comum? Assista ao vídeo no início desse artigo e descubra!

Esperamos que com um eventual aumento da base de usuários chineses, o ecossistema Linux se torne ainda mais rico. Se você quer mostrar ao mundo que gosta de Linux e, quem sabe, despertar a curiosidade de alguém, vista alguma estampa que te represente!

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