Há bastante tempo o KDE Plasma é conhecido por ser um software bastante completo. A variedade de opções de customização via interface gráfica que o Plasma proporciona é impressionante, e, até mesmo “sem igual”, quando comparado a qualquer outro ambiente desktop que eu já tenha testado.
Funcionalidades “demais” ou “de menos”?
O problema é que essa vastidão de opções é, frequentemente, considerada excessiva e até mesmo desnecessária, pois torna os sistemas operacionais que utilizam o KDE Plasma complexos demais para pessoas leigas, o que afasta um grande número de usuários em potencial.
Um dos principais fatores responsáveis por causar esse desequilíbrio entre quando um software oferece “funcionalidades demais” ou “muito poucas” é, possivelmente porque aqueles que desenvolvem esses produtos são, em conhecimento técnico, muito diferentes da maioria das pessoas que os utilizam.
Os cinco níveis de habilidade em computadores
A empresa de pesquisas sobre “experiência do usuário” Nielsen Norman Group divulgou dados dividindo os usuários de computadores em cinco diferentes níveis de habilidade.
Os dados foram coletados entre 2011 e 2015 em 33 países pertencentes à OECD. Um total de 215,942 pessoas entre 16 e 65 anos foram testadas, sendo pelo menos 5000 pessoas em cada país.
Confira, a seguir, mais detalhes sobre os resultados dessa pesquisa:
Abaixo do nível “1”: 14% da população adulta
Segundo os pesquisadores do Nielsen Norman Group, pessoas abaixo do nível “1” de habilidade com computadores são capazes de executar tarefas baseadas em problemas bem definidos, envolvendo o uso de apenas uma função, dentro de uma interface simples o suficiente para que não seja necessário qualquer conhecimento prévio sobre a tecnologia que está sendo utilizada. A tarefa em questão ainda deve possuir poucas etapas e nenhuma meta secundária precisa ser alcançada.
Um exemplo desta tarefa seria: deletar uma mensagem de email.
Nível 1: 29% da população adulta
Pessoas do “nível 1” tipicamente são capazes de executar tarefas que requerem o uso de aplicações amplamente conhecidas, tais como: Microsoft Word, Google Chrome, softwares de emails, Skype e etc.
Tarefas do “nível 1” devem possuir a não necessidade da execução de comandos, poucos passos necessários e pouca ou nenhuma navegação para a obter acesso às funções desejadas. Aplicações correspondentes a este nível devem deixar claras informações como: quais são os problemas e qual é o caminho para resolvê-lo em poucos passos.
Um exemplo de uma tarefa de “nível 1” seria responder um email para múltiplos destinatários ou encontrar todas as mensagens recebidas de um remetente específico.
Nível 2: 26% da população adulta
Pessoas que se encaixam no nível de habilidade “2” devem ser capazes de utilizar tanto aplicações amplamente conhecidas, como aquelas citadas anteriormente, como softwares desenvolvidos para usos mais específicos.
Uma navegação mais longa através de menus e submenus pode ser necessária para realizar a tarefa desejada. O uso de ferramentas específicas pode ser feito para auxiliar na resolução de problemas, porém, o usuário deve saber qual ferramenta é a mais apropriada para a realização da tarefa desejada ou conseguir pesquisar e encontrar o software necessário.
Usuários do “nível 2” ainda deverão ser capazes de manter-se no controle da situação frente a uma demanda maior de monitoramento, bem como devem saber tomar as atitudes apropriadas ao se deparar com resultados inesperados.
Um exemplo de tarefa do “nível 2” seria encontrar um email específico, que fora enviado pela pessoa “X” em uma determinada data.
Nível 3: 5% da população adulta
Este é o nível em que se encontram aquelas pessoas com mais habilidade no uso deste tipo de tecnologia.
Neste nível de habilidade, as tarefas normalmente requerem o uso de aplicações simples até as mais complexas e específicas. Navegação moderada à extensa pode ser necessária para utilizar as funções desejadas e as tarefas envolvem múltiplos passos e operadores.
Nas tarefas do “nível 3”, normalmente, há uma alta necessidade de monitoramento e resultados inesperados podem acontecer com frequência. É necessário avaliar a relevância das informações disponíveis a fim de descartar fatores de distração.
Um exemplo de tarefa do nível 3 seria descobrir qual o percentual das mensagens recebidas de um determinado remetente estão relacionadas a um tema específico.
Não são capazes de utilizar computadores: 26% da população adulta
Um total de 26% das pessoas residentes nos países da OECD que passaram pelos testes não foram capazes de realizar as tarefas propostas. Portanto, foram consideradas inaptas a utilizar computadores.
Segundo o Nielsen Norman Group, esse número expressivo é causado pela complexidade dos computadores e sistemas ainda ser alta demais para muitas pessoas.
O problema da complexidade do KDE
De acordo com os dados acima, cerca de 69% da população mundial é capaz de realizar apenas tarefas extremamente básicas, como ler e deletar emails, ou sequer sabe como utilizar um computador.
Tendo em mente estes dados, como poderia o KDE Plasma, assim como todos os outros sistemas operacionais, aplicações e ambientes desktop, alcançarem um nível maior de popularidade tornando-se mais complexos?
Uma possível solução
Uma possível forma para diminuir a complexidade do KDE Plasma – que também poderia se aplicar a outros softwares – seria não remover, mas ocultar aquelas opções mais avançadas, de forma que à primeira vista apareça apenas o que for essencial para o uso do sistema.
Desta forma, a primeira impressão sobre o sistema seria consideravelmente menos “assustadora”, com menos opções e elementos na tela para confundir a cabeça dos usuários “novatos”.
Em relação às pessoas mais experientes, não haveria problema, afinal todas as opções avançadas não deixariam de existir e poderiam ser exibidas novamente com a ativação de um suposto “modo avançado”, ou algo do tipo.
A visão de um desenvolvedor do KDE sobre o assunto
Boa parte da minha visão sobre uma possível simplificação do KDE Plasma é compartilhada por Nathan Graham, um dos desenvolvedores do projeto KDE.
Segundo Nathan, o KDE Plasma jamais será dominante no mercado de softwares quando pode ser utilizado por apenas cerca de 30% dos usuários de computadores no mundo.
Nathan complementa dizendo que deveríamos visar para o futuro do KDE um software mais simples, por padrão. Desta forma, o ambiente poderá funcionar para usuários de “nível 1”, mantendo-se poderoso, quando necessário, através de customização extensiva.
Dessa maneira o Plasma e as suas aplicações continuarão sendo interessantes também para usuários de “nível 3” – o que inclui muitos desenvolvedores do KDE.
Qual a sua visão sobre o assunto?
Apesar de, no momento, eu não estar utilizando o KDE Plasma como ambiente desktop principal, sempre gostei muito do projeto e torço para que a visão do desenvolvedor Nathan Graham seja, de fato, um futuro de sucesso para o KDE.
Qual é o seu ponto de vista sobre os moldes atuais do projeto KDE, os dados divulgados pelo Nielsen Norman Group e a visão de Graham para o futuro do projeto? Conte-nos as suas ideias nos comentários abaixo!
Isso é tudo pessoal! 😉
