O que tem de especial no Debian 12?
O novo Debian 12 foi lançado com o codinome Bookworm, mais um personagem de ToyStory, como todas as versões do Debian. Algo incomum neste lançamento, é o hype de parte da comunidade, por que tanta gente está considerando essa a melhor versão do Debian já lançada? Quais são as novidades da versão 12 do sistema que causam essa impressão?
O tempero especial do Debian
Debian é uma das distros Linux mais antigas ainda em atividade, ela foi lançada em Agosto de 1993, há 29 anos, acabou se tornando um sistema com uma das maiores comunidades no mundo Linux. Considerado um dos sistemas mais estáveis que existem, é usado extensivamente em servidores, além de computadores pessoais.
Ao pensar no Debian, algumas características são como assinaturas da distro, ela é estável, não usa pacotes muito recentes, pelo contrário, tem alguns padrões definidos, com poucas customizações visuais, a não ser o wallpaper padrão, não costuma desenvolver muitas tecnologias diferenciais, mas empacota muitos softwares da comunidade em seus repositórios, focado quase que totalmente em softwares que tenham código aberto.
O Debian também não é um sistema mantido por uma empresa, é uma iniciativa comunitária com um conselho administrativo. É curioso que se você olhar a Wikipedia, muitas distros tem um local bem definido como origem, tipo o Ubuntu é da Ilha de Man, no Reino Unido, o Red Hat é dos EUA… o Debian é da Terra, mostrando a abrangência do projeto, com pessoas participando por todo o mundo.
O que o Debian 12 traz de novo?
Sendo o Debian tão pragmático, por que a versão 12 tem causado tanto alvoroço? A resposta é um tanto quanto simples, o Debian 12 traz suporte a firmwares proprietários diretamente através do seu instalador. Muitos de vocês talvez já saibam, mas isso quer dizer que softwares que não tem código aberto, principalmente drivers e firmwares, agora podem ser instalados por meio de recursos contidos na própria imagem do Debian, algo que antes não acontecia, já que o Debian só entregava software com código aberto.
Isso faz muita diferença na hora de rodar o Debian em um computador que precisa de um driver de vídeo, Wi-Fi, bluetooth, ou qualquer coisa que requeira um firmware proprietário. Se você nunca tive problemas nesse sentido com distros Linux populares no desktop, como Linux Mint, Ubuntu, Pop!_OS e por aí vai, é porque esses sistemas já fazem isso há muito tempo, mas não Debian.
Mudanças no Debian com esse nível de impacto, até filosófico, são bem menos comuns, mudar qualquer coisa significativa no Debian requer muita deliberação e debate entre os desenvolvedores da distro, até que um consenso seja atingido, geralmente mediante votação.
Antes disso, quem quisesse instalar um Debian com recursos de software proprietário, iria ter que recorrer a ISOs da comunidade, chamadas de “non-free”, que muitas vezes eram a única forma dos usuários conseguirem rodar o Debian em seus computadores domésticos sem muita dor de cabeça. Com essa mudança, isso não é mais necessário.
Apesar disso ser um grande fator, existem outros que fazem da versão 12 especial, voltemos ao começo. A instalação continua a mesma de sempre, com seu instalador clássico, que simplesmente faz o trabalho. A única opção diferente aqui, para além das tradicionais funções de criar usuários, definir senhas e escolher as unidades para instalar o Debian, é a que permite que você escolha a interface gráfica que você deseja.
Por padrão, o Debian 12 usa o GNOME 43.4 como ambiente gráfico, ao iniciar o sistema, a única coisa realmente personalizada é o wallpaper e o logo que aparece na sessão “sobre” das configurações. O sistema usa o Wayland, apesar do Xorg ser uma alternativa na tela de login.
Quanto aos aplicativos, a instalação padrão vem com bastante coisa e não muito bem organizada, tem vários jogos do GNOME e programas de todo o ecossistema. O Terminal, assim como ocorreu com o Fedora, ainda é o GNOME Terminal, no lugar do novo GNOME Console.
Em termos de coisas próprias Debian, temos o Synaptic, como gestor de pacotes avançado, uma ferramenta extremamente poderosa e útil. Você pode usar a GNOME Software para gerir aplicativos, mas ela precisará de algumas configurações, que você pode fazer através do outro aplicativo exclusivo do Debian, o “Software & Updates”, o qual é basicamente o mesmo do Ubuntu.
Em aplicativos Debian, você pode habilitar facilmente os repositórios de softwares, drivers e firmwares proprietários, basta marcar os checkboxes. Para deixar o sistema mais completo, ainda é possível habilitar o suporte a flatpak e flathub, porém, isso ainda deve ser feito via linha de comando.
O Debian 12 tem mais de 64 mil pacotes de software em seus repositórios agora e além do GNOME 43, temos o KDE Plasma 5.27, LXDE 11, LXQt 1.2, MATE 1.26 e XFCE 4.18, todas versões consideravelmente atualizadas.
Como está o desempenho do Debian 12?
Fizemos alguns benchmarks, usando o nosso laptop de testes e os resultados foram bem interessantes. Lembrando que o Debian 12 usa o Kernel 6.1, Mesa 22.3.6 e o Firefox 102 ESR.
O primeiro teste com Blender mostrou resultados variados, ficou bem na média, mas, em geral, todos eles foram um pouco abaixo dos melhores resultados que nós já tivemos por aqui, kernel e drivers mais antigos podem ser os culpados disso.
Podemos ver outra amostra disso na Uningine Superposition, que traz um bom resultado, mas ainda um pouco abaixo dos melhores encontrados neste teste.
No teste com o Geekbench, a história se repete com valores não ruins, mas também não impressionantes, tanto em single, quanto em dual core.
O mesmo pode ser visto no teste de Web Basemark com o navegador padrão do sistema, com um valor abaixo de 800 pontos, o que pode ser considerado ruim para os padrões atuais.
Também testamos o Debian 12 em jogos, usando o Steam via flatpak. Em CS:GO o sistema teve um ótimo desempenho, com o melhor resultado que conseguimos neste teste até agora.
Em Shadow of The Tomb Raider, não tivemos o melhor resultado, mas foi bem.
Por fim, em Universe Sandbox, mais uma vez, tivemos o melhor resultado até então, o que é bem impressionante.
E aí, será que você deveria dar uma chance para o Debian? Os benchmarks mostram resultados medianos e ótimos em games em particular, mas o Debian 12 não se resume a isso.
Essa é provavelmente a versão mais compatível com hardwares que o Debian já lançou, o que é uma coisa boa, e para quem gosta de um ambiente simples, sem ser muito personalizado, que não é muito tendencioso a abraçar uma tecnologia, mas que, ao mesmo tempo, permite que você use o que bem entender, pode ser uma ótima alternativa de sistema.
O Debian estável tem pacotes bem atualizados hoje em dia, e com flatpaks, snaps e appimages, instalar versões novas dos seus programas favoritos é um problema que não existe mais, porém, os pacotes nos repositórios e as próprias interfaces, tendem a ficar nessas versões por muito tempo.
Isso não é uma preocupação de todos, claro, mas se você tem dificuldade de trabalhar com softwares mais estáveis e antigos no seu desktop, ou simplesmente gosta muito de acompanhar as novidades que as interfaces lançam, talvez o Debian não te agrade por muito tempo.
Para servidores, é um dos melhores, é o Debian continuando o legado de sempre, um ambiente sem muitas novidades assim é muito bem-vindo nesses cenários. No desktop, uma alternativa seria o Debian Testing ou até mesmo o Debian Sid, versões em desenvolvimento do sistema, mas só recomendamos se você tiver um pouco mais de experiência em Linux e não se importar de arrumar manualmente coisas que eventualmente quebrem com alguma atualização.
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