Montei um PC com CPU ARM, o Sige7, para saber o que dá para fazer com ele!
Se você já se perguntou por que os computadores com processadores ARM ainda não dominaram o mundo dos desktops, você não está sozinho. Com a Apple revolucionando o mercado com seus chips M e a Microsoft tentando emplacar laptops com Snapdragon, parece que o futuro dos PCs está prestes a mudar. Mas essa mudança está demorando mais do que imaginávamos! Cansados de esperar, decidimos montar o nosso próprio PC ARM para descobrir por que essa tecnologia ainda não decolou — e o resultado foi, bem, ok.
O que um PC ARM tem de diferente?
Antes de mergulharmos na aventura, vamos entender o que torna um PC ARM tão especial. Diferente dos processadores tradicionais da Intel e AMD, que usam a arquitetura x86, os chips ARM são projetados para serem mais eficientes em termos de energia. Isso significa que eles consomem menos energia, esquentam menos e, em muitos casos, são incrivelmente compactos.
Mas há um porém: a compatibilidade. A maioria dos softwares que usamos hoje foi desenvolvida para x86, o que significa que rodar esses programas em um PC ARM pode ser um desafio. É aí que entra a magia (e a frustração) de montar um PC com essa arquitetura.
Sige7, um computador que cabe na palma da mão
O protagonista dessa história é o Sige7, um computador ARM desenvolvido pela ArmSom. Quando dizemos que ele é pequeno, quereremos dizer que ele cabe na palma da sua mão. Mas não se engane pelo tamanho: essa coisinha é mais poderosa do que 90% dos computadores que vemos por aí.

Vamos aos números: o Sige7 que temos em mãos vem com um processador Rockchip RK3588 de oito núcleos (quatro de desempenho e quatro de eficiência), uma GPU Mali-G610, 32 GB de RAM, um SSD NVMe de 1 TB e até uma NPU (Unidade de Processamento Neural) para tarefas de IA. Tudo isso em uma placa de 9×6 centímetros e pesando menos de 85 gramas.

E, para deixar as coisas ainda mais interessantes, ele tem duas portas Ethernet de 2.5 Gigabit, saída HDMI, dois USB-A, Wi-Fi 6, Bluetooth e um USB-C. A única coisa que falta é um jack de áudio, mas, com tantas opções de conexão, dá para perdoar.

Agora, vamos à parte engraçada: como montar um desktop com um computador que é basicamente do tamanho de um cartão de crédito? A resposta é: com criatividade e um rolo de fita adesiva.
Colocamos o Sige7 em um gabinete com o tamanho padrão, só para enfatizar o quão pequeno ele é. O contraste é hilário — parece que alguém esqueceu de colocar o resto do computador. Mas, na verdade, esse gabinete serve como um lembrete visual de como os desktops do futuro poderão ser: compactos, eficientes e poderosos.

O desafio do software
Aqui está o grande problema dos PCs ARM: o software. Enquanto em um computador tradicional você pode instalar praticamente qualquer sistema operacional sem grandes dificuldades, no mundo ARM as coisas são mais complicadas.
O Sige7, por exemplo, não roda imagens genéricas de sistemas operacionais. Se você tentar instalar uma versão do Ubuntu feita para outro dispositivo ARM, mesmo que ele tenha o mesmo processador, as chances de dar errado são grandes. Isso acontece porque, no ARM, o sistema operacional precisa ser adaptado para o hardware específico do dispositivo.
No caso do Sige7, a ArmSom fornece imagens customizadas de sistemas como Android (praticamente um smartphone sem tela touch), Debian, Ubuntu e Arch Linux. Instalamos o Debian com XFCE, que é leve, funcional e, o mais importante, funcionou. Mas o processo não foi exatamente simples. Levamos dias para entender como fazer o flash do sistema no armazenamento interno, e precisamos “gastar” nosso inglês pedindo a ajuda de um desenvolvedor da ArmSom no Discord.

Uma vez que o sistema estava rodando, o Sige7 se mostrou incrivelmente capaz. Navegamos na internet, editamos textos, assistimos vídeos em Full-HD e até rodamos alguns modelos de IA usando o Ollama. O desempenho é impressionante para um dispositivo tão pequeno.

Não são muitos jogos disponíveis para ARM, mas, especialmente com emuladores, dá para aproveitar uma boa jogatina. Ele pode ser uma opção poderosa para quem quer ter um “mini console retrô”, ainda mais considerando que é possível emular PS3 num Raspberry Pi 5, que é substancialmente mais fraco do que o Sige7.

Mas o problema está no “quase”. Muitos softwares populares ainda não têm versões compatíveis com ARM, limitando o uso do Sige7 como um desktop principal. Projetos como o Box86 e Box64 ajudam a rodar programas x86 em ARM, mas a compatibilidade ainda é irregular.
Aqui está o dilema: enquanto os PCs ARM não se popularizarem, os desenvolvedores não vão se preocupar em portar seus softwares para a arquitetura. E, sem esses softwares, fica difícil convencer as pessoas a adotarem PCs ARM. É um círculo vicioso que, talvez, um dia será quebrado.
Sige5 – o irmão mais novo
Enquanto o Sige7 já é impressionante, a ArmSom tem uma opção similar para quem deseja economizar: o Sige5. Esse modelo vem com um processador um pouco mais modesto, o Rockchip RK3576, além de oferecer os mesmos 6 TOPS de poder de processamento para IA, com até 16GB de RAM e suporte para sistemas como Android 14, Debian 12 e Armbian.
O Sige5 mantém a tradição de ser compacto e eficiente, mas com a capacidade computacional e preço reduzido. Ele é ideal para quem quer explorar o potencial dos PCs ARM em aplicações como computação de borda, dispositivos IoT, desenvolvimento de software, home lab, e até desktops compactos.

Valeu a pena?
Montar um PC ARM foi uma experiência que temperou a nossa admiração com uma pitada de frustração. O Sige7 é uma máquina incrível, mas ele também é um lembrete de que ainda há um longo caminho a percorrer antes que os PCs ARM se tornem mainstream.
Enquanto isso, se você é um entusiasta de tecnologia ou alguém que gosta de desafios, um PC ARM pode ser uma adição fascinante ao seu arsenal. Só não espere que ele substitua seu desktop tradicional tão cedo — a menos, é claro, que você esteja disposto a abraçar as limitações e explorar as possibilidades.
E, se você está se perguntando se vale a pena investir em um Sige5 ou Sige7, a resposta é: depende. Se você quer um projeto divertido e educativo, vai adorar. Ele também pode ser uma opção interessante para manter um home lab de baixo consumo energético. Mas, se você precisa de um computador para tarefas do dia a dia sem complicações, talvez seja melhor esperar um pouco mais.
Você sabia que a ARM não é a única arquitetura de computadores compactos que está ganhando espaço no mercado? Apesar dela estar em posição de dominância, especialmente por estar presente na grande maioria dos smartphones, existe uma alternativa totalmente open source que vem chamando atenção. Conheça a arquitetura RISC-V!