A espera por algo que nos deixa genuinamente animados pode ser uma mistura de euforia e frustração. Seja aquele show da banda favorita que está marcado para daqui a seis meses ou a atualização do sistema operacional que usamos diariamente, o tempo parece passar mais devagar quando a expectativa é grande. Para os usuários do Pop!_OS, essa ansiedade tem um nome específico: COSMIC, a interface completamente reconstruída pela System76, que promete não apenas modernizar a experiência no Linux, mas também corrigir décadas de problemas crônicos dos ambientes de desktop tradicionais.
Mas será que, em seu sexto alpha, o COSMIC já está minimamente utilizável? Ou será melhor esperar mais um pouco antes de mergulhar de cabeça? Vamos explorar a fundo o que essa nova interface traz, seus acertos, suas falhas e o que esperar do futuro.
O que torna o COSMIC Diferente?
O COSMIC não é apenas mais uma skin sobre o GNOME ou uma variação do KDE Plasma. Ele é um projeto ambicioso que busca reimaginar como um desktop Linux deve funcionar na era moderna. Enquanto a maioria dos ambientes gráficos do Linux evoluiu aos poucos, acumulando camadas de código legado e soluções temporárias, o COSMIC foi construído do zero com tecnologias contemporâneas em mente.
Um dos pontos mais importantes é a adoção nativa do Wayland, protocolo que substitui o antigo X11 e promete melhor desempenho, segurança e suporte a monitores de alta resolução. Além disso, a System76 está desenvolvendo o COSMIC em Rust, uma linguagem de programação que prioriza segurança e eficiência, evitando problemas de memória que afetam projetos mais antigos.
Mas não se trata apenas de tecnologia. A filosofia por trás do COSMIC é oferecer um equilíbrio entre simplicidade e personalização. O GNOME, por exemplo, é minimalista mas muitas vezes limitado em opções. O KDE Plasma, por outro lado, é extremamente flexível, mas seu excesso de opções pode ser intimidante. O COSMIC tenta ficar no meio-termo, mantendo uma interface limpa enquanto permite ajustes mais profundos.
Instalando o COSMIC Alpha 6
Decidir testar o COSMIC Alpha 6 em um computador principal, especialmente um com placa de vídeo NVIDIA, é um ato que exige coragem — ou talvez um certo desprendimento em relação à própria sanidade. Afinal, o suporte a drivers proprietários da NVIDIA no Wayland ainda não é perfeito, e bugs são esperados em qualquer software em estágio alpha.
A instalação em um SSD secundário (por precaução) seguiu o processo tradicional do Pop!_OS, sem grandes surpresas. Os primeiros problemas notáveis incluem um dos monitores não ter sido detectado durante a instalação, um comportamento clássico em distribuições Linux quando há mais de uma tela conectada. Após a conclusão do processo e um reboot, felizmente, ambos os monitores foram reconhecidos, mas a jornada estava longe de terminar.

O primeiro grande obstáculo veio ao tentar gravar a tela com o OBS Studio. Ajustar as configurações de exibição congelou o aplicativo completamente, fazendo com que toda a gravação feita nos 20 minutos seguintes simplesmente se perdesse. Problemas de alpha? Certamente. Mas também um lembrete claro de que, por mais promissor que seja, o COSMIC ainda não está pronto para uso sério.
Explorando a interface
Uma vez superados os percalços iniciais, é possível começar a ver o potencial do COSMIC. A primeira coisa que chama a atenção é o gerenciamento automático de escala em monitores 4K. Diferente de muitas outras interfaces que exigem ajustes manuais, o COSMIC já aplica um fator de escala adequado, evitando que textos e ícones fiquem microscopicamente pequenos.

O sistema de cores dinâmicas também é um acerto. Ao mudar o accent color nas configurações, não apenas a interface é alterada, mas também aplicativos GTK 4, como o Alpaca (um cliente de IA local). Essa integração visual ajuda a criar uma experiência mais coesa nesses casos.

O modo tiling integrado é outra funcionalidade que já funciona surpreendentemente bem. Diferente do GNOME, que exige extensões para ter um gerenciamento avançado de janelas, o COSMIC, tal como o antigo, oferece esse recurso nativamente, permitindo organizar janelas rapidamente sem precisar de atalhos complexos ou configurações extras.
O que ainda precisa melhorar
Apesar dos pontos positivos, o COSMIC Alpha 6 ainda está longe de ser considerado estável. Algumas das maiores limitações atuais incluem:
O COSMIC Files, o gerenciador de arquivos padrão, já suporta abas, mas ainda não permite reorganizá-las no menu lateral. Além disso, há a ausência de atalhos básicos para a produtividade.

O COSMIC Edit, um editor de texto básico, carece de funcionalidades essenciais, como contagem de caracteres em tempo real — algo trivial em editores como o Gedit ou o Kate. Enquanto isso, a COSMIC Store, a loja de aplicativos, apresentou um bug onde sumiram todos os flatpaks.
Outro desafio é a compatibilidade com alguns aplicativos de terceiros. Programas baseados em GTK 2, como a versão do GIMP que testamos e até mesmo o Steam apresentaram problemas de renderização, ficando borrados ou com elementos visuais desalinhados. Já aplicativos Qt, como o OBS Studio e o qBittorrent, funcionam, mas não seguem o tema do sistema, criando uma experiência visualmente desconexa. Além disso, setups com múltiplos monitores podem sofrer com bugs como cursores duplicados ou janelas que desaparecem misteriosamente.

Jogos no COSMIC
Para muitos usuários, a capacidade de jogar no Linux é um fator decisivo na escolha de uma distribuição. Felizmente, o COSMIC não parece trazer grandes obstáculos nesse aspecto. Nossos testes com jogos em Full HD mostraram desempenho comparável ao de outras interfaces.
No entanto, problemas de usabilidade ainda atrapalham a experiência. O Alt+Tab simplesmente não funciona durante o jogo.
Vale a pena usar o COSMIC em estágio alpha?
A resposta curta é: depende. Se você é um entusiasta que adora acompanhar o desenvolvimento de software e não se importa de lidar com bugs frequentes, instalar o COSMIC em uma máquina virtual ou em um disco secundário pode ser uma experiência interessante.
Por outro lado, se você precisa de um sistema estável para trabalho ou uso diário, é melhor esperar. O COSMIC ainda está em um estágio onde funcionalidades básicas podem quebrar sem aviso, e a falta de polimento em alguns aplicativos pode ser frustrante.
O que esperar para o futuro do COSMIC?
A System76 não divulgou uma data oficial para o lançamento final do COSMIC, mas tudo indica que ele deve chegar ainda em 2025. Se a equipe conseguir resolver os principais problemas de estabilidade e compatibilidade, essa nova interface tem tudo para se tornar uma das melhores opções para usuários de Linux.
Mas desafio não é apenas técnico. A Canonical, empresa por trás do Ubuntu, já tentou criar seu próprio ambiente de desktop (o Unity) e acabou abandonando o projeto anos depois. Será que a System76, uma empresa menor, conseguirá sustentar o COSMIC a longo prazo?
O COSMIC tem uma abordagem sóbria, sendo construindo sobre as lições aprendidas com GNOME, KDE e outros ambientes, aproveitando tecnologias modernas para criar algo que seja ao mesmo tempo, inovador e prático.
De todo modo, podemos dizer que, a esta altura, o COSMIC evoluiu bastante desde a sua primeira Alpha!