Enquanto a indústria de tecnologia parece obcecada em tornar sistemas cada vez mais pesados (olá, Windows 11 e seus requisitos absurdos), o GNOME 48 surge como um sopro de ar fresco – ou melhor, como um turbocharger para máquinas mais modestas. Esta nova versão da popular interface para Linux não apenas mantém seu DNA clean e minimalista, mas traz melhorias de desempenho, especialmente para quem ainda navega com hardware de alguns anos atrás.
Buffering triplo: a revolução que demorou 5 anos para chegar
O grande destaque do GNOME 48 é, sem dúvida, a implementação do buffering triplo dinâmico, uma tecnologia que estava em desenvolvimento há nada menos que cinco anos. Para quem não é familiar com o termo, buffering triplo é como ter uma linha de montagem com um operário reserva: enquanto um operário (buffer) está parafusando a peça (sua tela), outro já está pegando a próxima (quadro seguinte), e um terceiro fica à disposição caso algum dos outros dois não dê conta do serviço (frames perdidos).
O resultado? Animações mais suaves, menos travamentos e uma experiência geralmente reservada a PCs high-end agora acessível até em máquinas mais antigas. Georges Stavracas, desenvolvedor brasileiro envolvido no projeto, explica em detalhes como essa tecnologia funciona, mas o que realmente importa é: seu laptop de 5 anos atrás vai agradecer.
Motor JavaScript turbinado
Outra melhoria significativa vem no motor JavaScript do GNOME, que agora consome menos recursos do sistema. E para quem lida com pastas cheias de arquivos (como eu, que organizo mais por nome do que por pasta), a indexação de arquivos também foi otimizada para consumir menos memória. Finalmente, buscar aquele documento perdido não vai mais travar todo o sistema.
Loupe: o visualizador de imagens agora edita um pouco
Desde o GNOME 45, o antigo visualizador de imagens deu lugar ao Loupe, um aplicativo mais moderno, porém inicialmente bastante básico. No GNOME 48, ele ganha superpoderes: agora é possível cortar imagens (livremente ou em proporções pré-definidas como 16:9 e 1:1), girá-las e até invertê-las.
Claro, não espere algo completíssimo — ainda é preciso abrir o GIMP ou outro editor para ajustes mais avançados. Mas para aqueles retoques rápidos antes de enviar uma foto para o grupo da família, o Loupe finalmente se torna uma opção viável.
Editor de textos: do básico ao… um pouco menos básico
Outro aplicativo que sofreu com críticas por ser simplista demais foi o Editor de Textos, substituto do antigo Gedit. No GNOME 48, ele ganha uma seção de Propriedades do Documento, onde é possível verificar informações como localização do arquivo, tipo e tamanho, além de ajustar configurações úteis como recuo automático e tabulação.
Também há agora um contador de linhas, palavras e caracteres. Ainda não é um VSCode ou Sublime Text, mas já é um passo além do bloco de notas mais básico do que o do Windows que era antes.
Decibels: o player de áudio que não é um player de vídeo
Até o GNOME 47, ouvir um arquivo de áudio significava abrir o Vídeos, o que sempre pareceu tão lógico quanto usar uma faca para aparar as unhas. Agora, o GNOME 48 introduz o Decibels, um player dedicado para arquivos de som.
Se antes o aplicativo fazia mais do que o necessário, agora é o oposto: play/pause, pular 10 segundos, controle de volume e ajuste de velocidade. Não há suporte para playlists, equalizador ou gravação de áudio.
Adwaita Sans e Mono
Há anos se falava em substituir a Cantarell, a fonte padrão do GNOME desde tempos imemoriais. No GNOME 48, isso finalmente acontece, com a introdução da Adwaita Sans (para interface) e Adwaita Mono (para terminal).
A surpresa? Nenhuma delas foi criada do zero. A Adwaita Sans é basicamente a popular Inter com ajustes para melhorar a legibilidade (especialmente para evitar confusão entre “l” minúsculo e “I” maiúsculo). Já a Adwaita Mono é uma adaptação da Iosevka, conhecida por sua excelente legibilidade em terminais.
O resultado é uma interface mais moderna e legível, especialmente em monitores de alta resolução. E para os puristas que amavam a Cantarell – bem, sempre dá para mudar de volta nas configurações.
Bem-estar digital
Inspirado por recursos similares no macOS, Android e iOS, o GNOME 48 introduz uma nova seção nas configurações chamada Bem-Estar Digital. Aqui, é possível monitorar o tempo gasto no computador e definir limites diários.
O diferencial? Tudo funciona localmente, sem enviar dados para servidores externos. Além disso, há lembretes para pausas visuais (olhar para longe da tela) e movimento (levantar e se alongar). Quem já passou horas sem perceber enquanto estava codando ou escrevendo pode gostar dessas funcionalidades.
Quando chega ao seu Linux?
Para os entusiastas do Arch Linux, o GNOME 48 já está disponível nos repositórios. Usuários de Fedora, Ubuntu e Debian podem esperar a próxima versão estável de suas distribuições. Para outras distros, o tempo de espera varia conforme o ciclo de atualizações de cada uma.
E se você está pensando em migrar de distro para ter todas as novidades do GNOME 48, existe um programa para migrar todas as configurações que você fez no seu GNOME antigo. Conheça o SaveDesktop.
