Antes do Facebook, MySpace ou até mesmo da própria World Wide Web, havia o Usenet. Essa rede descentralizada de grupos de discussão, criada em 1980, marcou uma era pioneira da comunicação digital, sendo o alicerce para muitos conceitos e inovações que moldaram o mundo online de hoje. Seja para troca de ideias, debates acalorados ou até mesmo o nascimento de grandes projetos, o Usenet foi o ponto de encontro para mentes curiosas e colaborativas.
A rede mais antiga ainda em uso
O Usenet nasceu da colaboração entre a Universidade da Carolina do Norte e a Universidade Duke. No início dos anos 1980, o conceito de internet era restrito a redes como ARPANet, de uso militar e acadêmico. O Usenet se destacou por ser acessível ao público geral antes mesmo que este tivesse acesso amplo à internet.
Funcionando por meio de grupos de discussão (os chamados newsgroups), os usuários liam e escreviam posts utilizando softwares chamados newsreaders. Esses grupos cobriam praticamente todos os tópicos imagináveis: de discussões sobre literatura até debates profundos sobre linguagens de programação. Se você pensasse em algo, havia um grupo para isso, e se não houvesse, você podia criá-lo.
Nos anos 1990, navegadores e programas de e-mail frequentemente vinham com newsreaders integrados, tornando o acesso ao Usenet ainda mais simples. Foi um período em que a rede atingiu milhões de usuários e se consolidou como o ponto de encontro para comunidades de interesses variados.

Cultura e etiqueta: aprendendo as regras
Participar do Usenet não era algo trivial. Cada grupo tinha sua própria etiqueta, frequentemente não escrita, e esperava-se que novos membros “observassem” antes de postar, um processo chamado lurk. Essa prática permitia que os iniciantes aprendessem as normas e o tom das discussões.
Ignorar essas regras poderia resultar em um “flaming” – uma repreensão pública muitas vezes severa, mas que reforçava a importância de respeitar a cultura do grupo. Apesar das críticas, essa dinâmica contribuía para a criação de comunidades coesas, onde o conhecimento era compartilhado e valorizado.
Nos grupos técnicos, como o comp.std.doc e comp.text, o nível de discussão era tão específico que mergulhar sem preparação era um risco. No entanto, ao conquistar o respeito dos membros experientes, você se tornava parte de uma rede de aprendizado e camaradagem. Era como uma espécie de rito de passagem no universo digital.
Usenet e o nascimento do Linux
Um dos capítulos mais importantes da história do Usenet foi o surgimento do Linux. Em agosto de 1991, Linus Torvalds, então um estudante, postou no grupo comp.os.minix sobre seu projeto de criar um sistema operacional livre. O resto, como dizem, é história.
A estrutura descentralizada e aberta do Usenet refletia os valores que mais tarde seriam associados ao desenvolvimento de código aberto. Ele funcionava como uma plataforma para colaboração, troca de ideias e resolução de problemas em grupo. Sem o Usenet, é possível que o crescimento do Linux tivesse sido muito mais lento.
Além de ser um centro de inovação, o Usenet era uma ponte entre pessoas de diferentes partes do mundo. Um exemplo é o caso de uma pesquisadora finlandesa que buscava informações para sua tese sobre padrões de documentação. Por acaso, um membro do grupo comp.std.doc tinha o conhecimento que ela precisava, o que levou a uma colaboração frutífera. Esse tipo de interação, aparentemente trivial, gerou amizades duradouras e mostrou o potencial do Usenet em conectar pessoas além das barreiras geográficas.
O declínio e o legado do Usenet
Com o avanço da internet, plataformas como fóruns web e redes sociais começaram a substituir o Usenet. Além disso, o aumento de spam e flame wars contribuiu para sua gradual perda de relevância. Em 2024, o Google encerrou o suporte ao Usenet, restringindo novos posts e inscrições. Contudo, serviços como Giganews e Eternal September ainda mantêm o acesso ativo para os interessados.
Apesar do declínio, o Usenet deixou um legado importante. Suas discussões arquivadas são tesouros de conhecimento técnico, histórico e cultural. Muitos dos conceitos que moldam a cultura da internet – como “FAQ”, “LOL” e “spam” – tiveram origem ali.
O Usenet foi mais do que apenas uma rede; foi um laboratório de ideias, um espaço de aprendizado e um catalisador para inovações como o Linux. Embora sua influência direta tenha diminuído, sua essência vive em projetos de código aberto, comunidades online e a própria cultura da internet.
Para aqueles que viveram essa era, o Usenet não é apenas uma lembrança nostálgica, mas um marco em suas jornadas tecnológicas. Ele nos lembra que a colaboração e a troca livre de ideias são forças poderosas, capazes de transcender barreiras e criar conexões duradouras. E, no caso do Linux, nos mostra como uma ideia, compartilhada em um post, pode transformar o mundo da computação para sempre.
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Referência: It’s FOSS