E se aplicativos Linux rodassem no Android?
Editorial

E se aplicativos Linux rodassem no Android?

A crescente convergência entre dispositivos móveis e desktops tem transformado a maneira como interagimos com a tecnologia. Com a otimização do Android para tablets e iniciativas como o Samsung DeX, o futuro aponta para uma experiência mais integrada entre dispositivos móveis e computadores pessoais. Nesse cenário, surge uma questão interessante: e se os aplicativos do Linux pudessem rodar nativamente no Android?

E se…

Uma das grandes vantagens dessa possibilidade seria o acesso a uma série de softwares que já existem para Linux. Programas como GIMP, LibreOffice, Krita e Kdenlive poderiam ser utilizados em tablets e smartphones Android sem a necessidade de soluções alternativas ou emulação. A compatibilidade com aplicativos Linux ampliaria significativamente as opções de produtividade e criatividade disponíveis para os usuários de dispositivos móveis, podendo finalmente realizar o sonho de “um dispositivo para tudo”.

Outro aspecto é o potencial para jogos. Com a crescente adoção do Linux no mercado gamer, impulsionada pelo Steam Deck e pelo avanço do Proton, poder rodar jogos nativamente no Android sem precisar de emuladores ou máquinas virtuais poderia ser um grande diferencial para tablets e smartphones, tornando-os verdadeiros dispositivos “tudo em um”.

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Modo DeX da Samsung. Imagem: Wikimedia.

Apesar dos benefícios evidentes, há diversas barreiras técnicas para a implementação dessa ideia. O Android, embora baseado no kernel Linux, tem uma arquitetura de usuário muito distinta das distribuições tradicionais. O sistema não utiliza a biblioteca GNU C (glibc), mas sim a Bionic C, desenvolvida pelo Google, impactando diretamente na compatibilidade com softwares Linux.

Além disso, o modelo de segurança do Android é muito mais restritivo do que o das distribuições Linux convencionais. Aplicativos Android rodam em sandboxes altamente controladas, enquanto os softwares Linux tradicionalmente têm mais acesso ao sistema do usuário, mesmo aqueles que se propõem serem isolados, como os Flatpaks e os Snaps. 

Outro desafio importante está na interface gráfica. Aplicações Linux utilizam servidores gráficos como X11 ou Wayland, enquanto o Android adota um modelo de renderização próprio. Para permitir a execução de aplicativos Linux, seria preciso implementar suporte a esses servidores gráficos dentro do Android, algo que, embora viável, exigiria um esforço substancial de desenvolvimento pelo Google, que talvez não esteja tão interessado em abrir seu sistema para além da Play Store.

Mesmo superando todas essas questões, restaria um desafio: embora diversos aplicativos para Linux tenha uma versão para ARM, existem muitos outros que não, especialmente os jogos. Para estes softwares, ainda seria necessário o uso de uma camada de compatibilidade X86 para ARM, similar ao Rosetta 2 da Apple. Ao menos, este trabalho já foi iniciado pela comunidade em aplicações como o Box86 e o FEX.

O Google e as fabricantes querem dar este passo?

A ideia de rodar aplicativos Linux no Android não é nova, e já existem iniciativas que buscam viabilizar essa integração. Um exemplo é o Termux, que oferece um ambiente de terminal Linux funcional dentro do Android, permitindo rodar aplicativos sem interface gráfica, e com um certo esforço, até mesmo certos aplicativos com interface em baixo desempenho. Outra iniciativa promissora é o Lindroid, que propõe rodar distribuições Linux no Android por meio de contêineres, tentando aproveitar ao máximo os recursos do hardware, mas não é a coisa mais simples de instalar.

Além disso, há rumores de que o próprio Google pode estar explorando essa possibilidade. Recentemente, foram identificadas mudanças no código-fonte aberto do Android que sugerem a inclusão de uma máquina virtual Linux acessível diretamente pelo menu de configurações do sistema. Caso essa funcionalidade se concretize, poderia representar um avanço importante para usuários que desejam utilizar softwares Linux no Android sem complicações.

Faz, ou sai da moita

Como leigo, eu diria que uma abordagem possível para facilitar a adoção de aplicativos Linux no Android poderia ser um novo formato de empacotamento intermediário, que fosse multiplataforma, ou até algum esforço para elevar algum formato existente, como o flatpak, a este patamar. Há pedidos da comunidade para que algo assim seja feito, mas será tecnicamente viável? Há interesse comercial para tal?

Integrar a experiência de smartphone com desktop é um desejo antigo, mas que nunca chegou às vias de fato. Com o lançamento dos MacBooks com arquitetura ARM, a comunidade ficou empolgada com a possibilidade de um iPhone ser o coração de algum tipo de laptop, mas quase 5 anos se passaram sem novidades.

O modo DeX da Samsung e similares de outras marcas oferece uma experiência razoável, mas como o ecossistema do Android é focado na experiência móvel, os usuários ficam carentes de aplicativos que realmente atendam à proposta. Neste contexto, a evolução que aparentemente seria a natural, é a integração de aplicativos Linux. Afinal, o esforço de adicionar esta funcionalidade ao sistema operacional que já tem base Linux provavelmente seria menor do que o de convencer inúmeros desenvolvedores a portarem seus softwares para um mercado que ainda é um nicho reduzido. E a integração provavelmente expandiria em muito este nicho.

Fazendo uma constatação simples da realidade, grande parte das fabricantes de smartphone também produzem computadores. Será que elas preferem vender um aparelho que faz tudo, ou dois aparelhos similares, cada um especializado um tipo de experiência? Deixe sua opinião nos comentários e interaja com a comunidade do fórum Diolinux Plus!

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Sobre o autor
Redator, além de estudante de engenharia e computação.
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