Depois de quase três anos de desenvolvimento, a versão 23 do Deepin foi finalmente lançada. A expectativa era grande, especialmente por ser um lançamento focado em inteligência artificial, trazendo a proposta de um sistema Linux de desktop com ferramentas de IA integradas. Mas será que toda essa espera valeu a pena? Neste artigo, exploraremos todas as novidades, mudanças e, claro, os pontos positivos e negativos desse lançamento.
O Deepin 23: um novo foco em IA
Uma das grandes apostas do Deepin 23 foi a integração com IA no sistema operacional. Para quem esperava ver uma aplicação prática de inteligência artificial em um ambiente Linux, o Deepin chegou para apresentar uma amostra interessante de como isso pode ser feito. Contudo, vale a pena questionar: será que essa implementação é realmente útil ou mais uma tentativa de inovar sem um impacto prático considerável?
Durante nossos testes, ficou claro que as funcionalidades de IA do Deepin podem ter potencial, mas ainda há limitações que precisam ser superadas, especialmente para usuários fora da China. A integração exige configuração manual com um modelo de IA compatível, sendo o único totalmente funcional, um serviço do Baidu, que requer um número de telefone chinês. Essa dependência de serviços locais certamente limita o acesso e pode frustrar usuários internacionais.

Primeiras impressões: instalação e configuração
O setup inicial do Deepin continua sendo um de seus maiores pontos fortes. Desde o download até o primeiro uso, a instalação é extremamente intuitiva, apresentando uma interface amigável e bem organizada. Ao realizar o primeiro login, somos apresentados a uma tela de introdução com um vídeo demonstrando as principais funcionalidades do sistema. Em seguida, é possível personalizar um pouco a aparência, uma novidade que foi bem-vinda.
A barra de tarefas do Deepin passou por mudanças significativas. Deixando para trás o modo “Dock” da versão RC, ela agora adota um estilo mais próximo ao do Windows 11, com ícones centralizados e uma aparência mais minimalista. A ausência do modo Dock, no entanto, pode desapontar quem gostava da personalização antiga.

Um dos grandes destaques do Deepin 23 é a variedade de temas disponíveis. Esses temas permitem alterar cores, ícones, cursores e outros elementos, proporcionando ao usuário uma ampla capacidade de customização. Além disso, a barra de tarefas pode ser movida para qualquer lado da tela e possui opções de ocultação, embora tenha perdido um pouco do poder de customização que tinha em versões anteriores.
Novidades importantes foram adicionadas, como o ícone de área de transferência, que permite arrastar o conteúdo diretamente para pastas, e a funcionalidade de áreas de trabalho virtuais. Agora é possível criar até seis desktops virtuais, cada um com um wallpaper próprio, oferecendo mais organização e produtividade ao usuário.

Outro destaque é o “Grand Search”, uma barra de pesquisa no estilo Spotlight que permite buscar por programas, arquivos e até realizar pesquisas na internet. Embora essa funcionalidade ofereça praticidade, é evidente que o sistema ainda carece de refinamento para ser tão eficaz quanto outros buscadores integrados.

O menu do Deepin também recebeu mudanças importantes, mas não necessariamente para melhor. Ele parece “abarrotado”, com elementos mal organizados que tornam a experiência confusa. A falta de espaço e o corte de nomes longos tornam o menu padrão menos prático, embora o modo de menu em tela cheia, mais similar ao Gnome, possa ser uma alternativa mais eficaz.
Já o menu de acesso rápido, que adota um ícone similar ao do macOS, recebeu alguns refinamentos, mas peca por ter funcionalidades redundantes, como o ícone de pesquisa repetido. A system tray é colapsável, seguindo o estilo do Windows, útil para quem prefere um layout mais limpo.

Mudanças internas e suporte a novas arquiteturas
Enquanto o visual do Deepin é chamativo, grande parte das melhorias está por baixo dos panos. A versão 23 trouxe suporte para novas arquiteturas de processador, incluindo ARM, RISC-V e LoongArch64, expandindo o alcance do sistema. A atualização também introduziu atualizações atômicas com partições A/B, um recurso que já vimos em outras distribuições como o Vanilla OS, oferecendo mais segurança ao sistema.
Outra novidade interessante é o “Linyaps”, um novo formato de empacotamento universal que se junta ao Flatpak e Snap. Embora pareça promissor, o impacto dessa tecnologia ainda é algo a ser observado no longo prazo.
Benchmarks: como o Deepin se sai em desempenho?
Aproveitamos o lançamento do Deepin 23 para testá-lo em nosso projeto do “Grande Benchmark de Distros Linux”, comparando-o com o Debian, que é sua base, e com o Linux Mint. Realizamos os testes tanto em um laptop Intel quanto em um desktop com GPUs AMD e NVIDIA, para uma visão mais ampla do desempenho.

Comparativo no Laptop Intel
- Blender: O Deepin teve resultados inferiores ao Debian em todos os testes, com exceção de um, onde o desempenho foi parecido.
- Geekbench: No teste single-core, o desempenho foi ruim, e no multi-core, ainda pior.
- GeekbenchML (IA): Mais uma vez, o Deepin teve desempenho inferior.
- Superposition: Aqui o Debian foi pior que o Deepin, mas o Linux Mint continuou à frente.
- Web Basemark: O resultado foi decepcionante, um dos piores que já registramos.
No geral, o desempenho do Deepin foi aquém do esperado em comparação com outras distribuições.








Comparativo no desktop com GPU AMD
- Blender: Resultados muito próximos, com o Deepin até superando ligeiramente a concorrência em alguns casos.
- Geekbench: Resultados equilibrados, mas o Debian foi particularmente bem no multi-core, e o Mint teve um desempenho pior do que o esperado.
- GeekbenchML (IA): O Deepin foi bem, mas ainda inferior aos concorrentes.
- Superposition: Não conseguimos executar o teste no Deepin devido a crashes.
- Web Basemark: O Deepin foi um pouco melhor aqui.
Em termos de jogos, especificamente com Counter-Strike 2, o Deepin conseguiu um desempenho intermediário, mas ainda ficou atrás do Linux Mint. Shadow of the Tomb Raider não rodou em nenhuma das distros com essa GPU.







Comparativo no desktop com GPU NVIDIA
Os resultados com uma placa NVIDIA seguiram um padrão semelhante aos anteriores. No teste do Blender, o desempenho foi consistente, enquanto no Geekbench houve uma maior paridade, embora o Mint ainda se destacasse. No Superposition, o Deepin teve um desempenho muito ruim, ficando atrás dos concorrentes, e no Web Basemark, o Mint manteve sua liderança.








IA no Deepin: uma ideia Interessante, mas mal executada?
Sem dúvida, o ponto mais curioso do Deepin 23 é a tentativa de integrar IA ao sistema de forma mais profunda. A ideia parece boa no papel, mas a execução deixa a desejar. Para usar a IA do Deepin, você precisa configurar um modelo manualmente, e o suporte pleno está restrito ao serviço do Baidu. Para a maioria dos usuários fora da China, isso se traduz em uma experiência frustrante e limitada.
Os desenvolvedores apresentaram um vídeo que mostra como a IA poderia funcionar na prática: usando o Grand Search para buscas contextuais, a integração no app de e-mail para gerar mensagens, e até mesmo a criação de imagens via IA generativa. Embora interessante, a falta de facilidade no uso e as barreiras linguísticas prejudicam a acessibilidade desses recursos.
Vale a pena mudar para o Deepin 23?
O Deepin 23 certamente traz novidades que chamam a atenção. No entanto, há vários pontos a serem considerados antes de adotar o sistema como seu principal. As mudanças visuais têm prós e contras, enquanto o desempenho deixa a desejar em comparação com outras distros mais maduras, como o Linux Mint e o Debian.
Se você busca um sistema amigável, gosta desse visual e quer diversas ferramentas de personalização, o Deepin 23 pode ser interessante, mas esteja ciente das suas limitações.
Por fim, a questão que fica é: você está disposto a lidar com essas limitações em troca de um visual único e promessas futuras? Ou prefere algo mais confiável, mesmo que menos inovador? O Deepin continua sendo uma distro que se reinventa constantemente, mas talvez precise de um pouco mais de tempo até que todas essas inovações se traduzam em uma experiência verdadeiramente prática.
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