Nos últimos anos, a Qualcomm tem se empenhado em trazer a eficiência e o desempenho de seus processadores Snapdragon, tradicionalmente voltados para dispositivos móveis, para o mercado de notebooks. No entanto, a trajetória dessa transição tem sido marcada por desafios significativos, especialmente no que diz respeito a desempenho e compatibilidade com softwares amplamente utilizados. Recentemente, a empresa lançou a linha de processadores Snapdragon X Plus e X Elite, que prometem elevar o nível de desempenho em notebooks, mas será que eles cumprem o que prometem?
Snapdragon X Plus e X Elite: a nova promessa da Qualcomm
A Qualcomm apresentou os processadores Snapdragon X Plus e X Elite como suas principais apostas para o mercado de notebooks, trazendo uma arquitetura baseada em ARM, similar à utilizada pela Apple em seus renomados chips M1, M2 e M3. Os processadores ARM, conhecidos por sua eficiência energética, começaram a ganhar destaque no mercado de PCs graças à Apple, e agora a Qualcomm busca seguir os mesmos passos.
Os novos chips Snapdragon são compostos por CPUs Oryon, GPUs Adreno e NPUs Hexagon, oferecendo suporte para as mais recentes tecnologias de conectividade, como Wi-Fi 7, Bluetooth 5.4 e 5G de até 10 Gbps. Além disso, conseguem suportar múltiplos monitores 4K, codificação e decodificação de vídeo em 4K HDR, e configurações de câmera com até 64 megapixels.
Com essas especificações, a Qualcomm afirma que o Snapdragon X Elite, por exemplo, supera em 28% o desempenho multithread do chip M3 da Apple e é mais rápido que o Ryzen 9 7940HS da AMD e o Core Ultra 7 155H da Intel quando operando com o mesmo consumo de energia. Além disso, a NPU presente nos chips Snapdragon é promovida como a mais rápida do mundo para laptops, alcançando 45 TOPS (tera-operations per second).
Desafios de desempenho e compatibilidade
Apesar das promessas impressionantes, a realidade dos testes práticos tem sido menos favorável para a Qualcomm. Em avaliações conduzidas pelo PC World, o Snapdragon X Elite falhou em entregar o desempenho esperado, especialmente em jogos. Diversos títulos simplesmente não rodaram ou apresentaram falhas críticas, e até mesmo aplicações comuns, como o Adobe Premiere e o After Effects, enfrentaram problemas de compatibilidade.
Quando comparado ao Intel Core Ultra 7, o Snapdragon X Elite ficou atrás em até 3,5 vezes no jogo Civilization VI, usando os gráficos integrados Arc do chip da Intel. Esses resultados levantaram dúvidas sobre a transparência da Qualcomm em seus testes de desempenho, já que a empresa havia prometido um desempenho superior ao dos chips Intel antes do lançamento.
Outro ponto crítico é a questão da compatibilidade de software. Embora a Microsoft tenha trabalhado em conjunto com a Qualcomm para garantir que centenas de aplicativos populares rodem sem problemas nos novos processadores ARM, a realidade é que muitos programas ainda não são otimizados para essa arquitetura. Isso se reflete em uma lista oficial de jogos compatíveis com Windows em ARM que conta com apenas 1.259 títulos, em comparação com os mais de 15.000 disponíveis no Steam Deck, que utiliza um processador x86 e sistema Linux.
O Snapdragon X Plus econômico
Em meio a esses desafios, a Qualcomm também anunciou uma nova variante do Snapdragon X Plus, voltada para notebooks mais acessíveis. Este modelo econômico, identificado como Snapdragon X Plus X1P-42-100, conta com uma redução significativa de potência em relação à versão original. Com oito núcleos de CPU, uma GPU Adreno capaz de alcançar 1,7 teraflops e 30 MB de memória cache, este chip é direcionado a tarefas cotidianas, como navegação na web e reprodução de vídeos, deixando de lado aplicações mais exigentes, como jogos de última geração.
A introdução dessa variante mais acessível é uma investida da Qualcomm em tornar seus processadores mais competitivos no mercado de PCs, onde os preços iniciais dos notebooks existentes com chips Snapdragon giram em torno de US$ 1.000. A intenção da empresa, liderada pelo CEO brasileiro Cristiano Amon, é oferecer opções mais baratas, possivelmente a partir de US$ 700.
A Luta por um espaço no mercado
A Qualcomm está em uma posição desafiadora ao tentar concorrer com gigantes como Intel, AMD e Apple no mercado de processadores para notebooks. Enquanto a arquitetura ARM oferece vantagens claras em termos de eficiência energética, a falta de compatibilidade de software e os problemas de desempenho em situações práticas, como jogos e aplicativos, são obstáculos que a empresa precisará superar.
O Snapdragon X Elite ainda pode se provar uma alternativa viável para usuários que priorizam eficiência e desempenho em tarefas cotidianas, especialmente em um cenário onde o foco é mobilidade e duração da bateria. Além disso, melhorias de driver pós-lançamento e um aumento no número de softwares otimizados para ARM podem melhorar a situação do chip no futuro.
No entanto, a Qualcomm precisará trabalhar para recuperar a confiança dos consumidores após os resultados decepcionantes iniciais e para realmente competir contra as ofertas estabelecidas no mercado. O lançamento do Snapdragon X Plus econômico é um passo na direção certa, mas o caminho para o sucesso no mercado de PCs ainda é longo e cheio de desafios.
Confira nosso episódio do Diocast onde conversamos sobre o Computex Taipei, evento onde foi lançada a primeira linha de laptops com o chip Snapdragon X. Contamos com um convidado especial que participou presencialmente do evento, o Leon do canal Coisa de Nerd!