O debate sobre licenciamento de software continua a ser um tópico importante no setor de tecnologia, especialmente com o aumento de novos modelos de licenciamento. Durante muito tempo, as discussões giraram em torno de duas principais abordagens: open source e closed source (código fechado, ou software proprietário). No entanto, um novo modelo está ganhando força entre algumas empresas, chamado “Fair Source”, que busca encontrar um equilíbrio entre os benefícios do software proprietário e as vantagens do código aberto.
Open Source vs. Closed Source
O open source, ou código aberto, é amplamente adotado por permitir que o código do software seja livremente acessado, modificado e redistribuído com poucas restrições. A colaboração e a transparência são os pilares desse modelo, onde qualquer pessoa pode contribuir para o desenvolvimento de um projeto, resultando em inovações rápidas e melhorias contínuas.
Já o closed source, código fechado, ou software proprietário, por outro lado, não disponibiliza o código-fonte, oferecendo aos usuários apenas versões compiladas do software. Isso limita significativamente o que pode ser feito com o programa, restringindo modificações e redistribuições. Enquanto essa abordagem permite às empresas protegerem sua propriedade intelectual, muitas vezes é vista como contrária ao espírito de colaboração e inovação que caracteriza o mundo do software livre.
O que é o Fair Source?
Nos últimos anos, startups e empresas têm mostrado interesse em uma terceira abordagem: o Fair Source. Este modelo de licenciamento, liderado por empresas como Sentry, busca criar um meio-termo entre o open source e o closed source. A ideia central do Fair Source é permitir que o código seja disponível para leitura e modificação, mas com certas limitações que protejam o modelo de negócios dos desenvolvedores.
O Fair Source tem três princípios:
- O código deve estar publicamente disponível para leitura.
- Deve permitir o uso, modificação e redistribuição com restrições mínimas para proteger os interesses da empresa.
- Deve ser submetido a uma Publicação Posterior de Código Aberto (Delayed Open Source Publication, DOSP).
Essa última regra, o DOSP, garante que, se uma empresa utilizando Fair Source deixar de operar ou seguir um caminho indesejado no desenvolvimento de seu software, a comunidade ou outra organização pode assumir o controle do projeto, tornando-o open source.
Benefícios e Limitações do Fair Source
O Fair Source surgiu como uma tentativa de dar às empresas maior controle sobre como seu software é usado, especialmente no que diz respeito ao uso comercial. A ideia é evitar que grandes corporações se aproveitem do trabalho de startups menores, usando o software para fins comerciais sem contribuir de volta.
Por outro lado, o Fair Source ainda permite que a comunidade tenha acesso ao código, garantindo a possibilidade de auditoria e melhorias, mantendo um nível de transparência maior do que o closed source tradicional.
Apesar de ser apresentado como uma solução de equilíbrio, o Fair Source tem recebido diversas críticas, especialmente da comunidade open source. Alguns acreditam que esse modelo é apenas uma versão mais restritiva do open source, sem realmente oferecer benefícios significativos. Um membro da comunidade no subreddit r/opensource resumiu a opinião de outros usuários ao dizer:
“Vocês estão livres para licenciar seu software como quiserem. No entanto, isso não significa que alguém vai usá-lo. Preferiria que essas empresas apenas adotassem uma licença proprietária, em vez de confundir ainda mais o que é open source e software livre.”
O Futuro do Fair Source
Até o momento, algumas empresas, como GitButler, Keygen, CodeCrafters e PowerSync, já adotaram o modelo Fair Source, utilizando licenças como a Functional Source License (FSL) e a Business Source License (BSL). Essas licenças tentam oferecer flexibilidade para startups, permitindo que protejam seus interesses comerciais enquanto ainda compartilham parte de seu código com a comunidade.
No entanto, a questão permanece: o Fair Source realmente será uma alternativa viável ao open source, protegerá efetivamente licenças ou acabará sendo apenas marketing? Embora algumas empresas encontrem no Fair Source uma solução interessante para proteger seus negócios, será preciso tempo para avaliar o sucesso do modelo.
O Fair Source continua em estágios iniciais de adoção, e seu impacto a longo prazo no desenvolvimento de software permanece incerto. Para muitos, o open source continuará sendo o modelo preferido, especialmente entre aqueles que valorizam a liberdade total de modificação e uso do software. Por outro lado, o Fair Source pode atrair empresas que buscam um equilíbrio entre abertura e controle comercial, oferecendo mais opções no vasto universo de licenciamento de software.
Em última análise, o sucesso do Fair Source dependerá de como as empresas e a comunidade de desenvolvedores o aceitarão e de quão bem ele conseguirá conciliar transparência com proteção de negócios.
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