Parece que a Dinamarca decidiu que já chega de pagar licenças caríssimas para a Microsoft. O Ministério de Assuntos Digitais anunciou que, até o final de 2025, vai substituir o Windows e o Microsoft 365 por Linux e LibreOffice. Sim, você leu certo: um governo inteiro está migrando para o mundo do código aberto.
Mas não é apenas uma questão de economia (embora cortar custos seja sempre bem-vindo). Há motivos políticos, estratégicos e até um pouco de geopolítica. Vamos entender por que os dinamarqueses estão dando adeus à Microsoft e abraçando o open-source.
Por que a Dinamarca está fazendo isso?
Conseguimos simplificar as razões da migração pelo governo da Dinamarca em 3 itens básicos:
O Fim do suporte ao Windows 10
Em outubro de 2025, o Windows 10 finalmente chegará ao fim de sua vida útil. Isso significa que quem quiser continuar usando o sistema terá que pagar por atualizações de segurança estendidas – algo que o governo dinamarquês parece não estar muito disposto a fazer.
Mas, em vez de simplesmente migrar para o Windows 11 (que exige hardware mais recente e, consequentemente, mais gastos), a Dinamarca decidiu pular fora do barco da Microsoft completamente. Afinal, por que comprar um novo PC só para rodar um sistema operacional quando o Linux roda em qualquer computador?
Independência tecnológica e “soberania digital”
A ministra da Digitalização, Caroline Stage Olsen, deixou claro que o objetivo é reduzir a dependência de gigantes da tecnologia, especialmente aqueles baseados nos Estados Unidos. E não é difícil entender o motivo:
- Preocupações com privacidade: Empresas americanas estão sujeitas a leis que podem obrigá-las a entregar dados de usuários ao governo dos EUA;
- Geopolítica turbulenta: A relação entre Dinamarca e Estados Unidos não está no seu melhor momento, especialmente depois que Donald Trump sugeriu (de novo) que a Groenlândia – território dinamarquês – deveria ser comprada pelos EUA, além da instabilidade geopolítica provocada pelas guerras atuais.
Corte de gastos
Licenças do Microsoft 365 não são baratas, especialmente quando multiplicadas por milhares de funcionários públicos. O LibreOffice, por outro lado, é gratuito e faz praticamente tudo que o Office faz.
Além disso, migrar para o Linux significa que o governo não precisará gastar fortunas em novos computadores só para rodar Windows 11. Ou seja, mais dinheiro no bolso e menos dor de cabeça com atualizações forçadas.
Como será a migração?
A transição não será da noite para o dia. O plano é começar pelo Ministério de Assuntos Digitais em julho de 2025, com metade dos funcionários migrando para Linux e LibreOffice até o final do verão europeu (nosso inverno). Se tudo correr bem, a mudança será concluída até o outono (por aqui, primavera).
Mas a ministra foi realista: se a coisa der muito errado, eles podem voltar para a Microsoft. Afinal, ninguém quer um funcionário público perdido, sem saber como salvar um documento no LibreOffice no meio de uma demanda importante.
Os municípios Dinamarqueses já estão na frente
Copenhague e Aarhus, as duas maiores cidades da Dinamarca, já abandonaram o Microsoft Office. Aarhus, inclusive, adotou um sistema alemão como substituto. Parece que o movimento open-source não está limitado apenas ao governo central.
A Dinamarca não está sozinha nessa jornada. O estado alemão de Schleswig-Holstein está migrando 30.000 computadores do governo para Linux e LibreOffice. A Holanda também está discutindo maneiras de reduzir sua dependência de serviços em nuvem americanos.
E a União Europeia já está trabalhando em novas regulamentações para fortalecer a infraestrutura de nuvem e IA dentro do bloco. Afinal, ninguém quer depender apenas de empresas estrangeiras em um mundo cada vez mais instável.
Migrar um governo inteiro para software livre não é brincadeira. O LibreOffice é poderoso, mas tem suas diferenças em relação ao Microsoft Office. E o Linux, embora incrivelmente versátil, ainda assusta alguns usuários acostumados ao Windows.
Mas se há um povo que pode fazer isso funcionar, são os dinamarqueses – afinal, eles já nos deram o LEGO, o conceito de hygge e a felicidade como política de Estado. Quem duvida que eles também possam ensinar o mundo a abandonar a Microsoft sem trauma?
Além disso, temos como pano de fundo um grande movimento europeu pela redução da dependência das big techs norte-americanas.