A Canonical, aquela empresa britânica que colocou o Ubuntu no mapa (e nos servidores de meio mundo), acaba de divulgar seus números financeiros de 2024. E, olha só, as coisas estão indo bem—muito bem. Com um faturamento de US$ 292 milhões, um crescimento de 16% em relação a 2023, a empresa mostra que open source não só é viável, como pode ser extremamente lucrativo.
Mas como isso aconteceu? O que está por trás desses números? E o que isso significa para o futuro do Ubuntu e da Canonical?
Crescimento sustentável
Se você pensa que a Canonical vive só de distribuir Ubuntu de graça para entusiastas de Linux, está muito enganado. A empresa tem um modelo de negócios bem estruturado, focado em assinaturas empresariais e serviços profissionais. E foi exatamente isso que alavancou seus resultados em 2024, segundo o relatório mais recente da companhia, publicado em 11 de junho.
A grande estrela do show foi o Ubuntu Pro, um serviço de assinatura que oferece suporte estendido, patches de segurança e conformidade com regulamentações como FIPS e HIPAA. Em outras palavras, é o Ubuntu com esteroides—e as empresas adoram.
Em 2024, a receita de assinaturas subiu para US$ 235 milhões, um aumento de 19% em relação ao ano anterior. Isso mostra que, enquanto usuários domésticos podem reclamar de algumas decisões da Canonical, as empresas estão dispostas a pagar—e bem—por um sistema estável e seguro.
Consultoria que vale ouro
Além das assinaturas, a Canonical também fatura alto com serviços profissionais, incluindo consultoria, treinamentos e suporte personalizado para grandes clientes. Essa área gerou US$ 56 milhões em 2024, um valor relativamente modesto, mas consistente.
O rastro do dinheiro
Quem achava que o Ubuntu era popular só entre entusiastas de Linux, prepare-se para uma surpresa. A verdade é que o grande dinheiro da Canonical vem de grandes empresas e instituições governamentais.
Os Estados Unidos são, de longe, o maior mercado da Canonical, respondendo por 80% da receita total (US$ 232 milhões). Isso não é surpresa, já que gigantes da tecnologia, universidades e órgãos públicos americanos adotam o Ubuntu em larga escala.
Enquanto a Europa teve um salto significativo—de US$ 20 milhões em 2023 para US$ 38 milhões em 2024—o resto do mundo viu uma queda considerável, caindo de US$ 34 milhões para US$ 20 milhões.
O que explica isso? Possivelmente, a Canonical está priorizando mercados consolidados, onde a demanda por soluções empresariais é maior. Enquanto isso, regiões como Ásia e América Latina podem estar recebendo menos atenção—pelo menos no que diz respeito a vendas diretas.
Investimentos em P&D
Uma das decisões mais interessantes da Canonical em 2024 foi aumentar os investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D), que alcançaram 27% da receita. Isso significa que a empresa está colocando dinheiro em novas tecnologias, como:
- Juju e MAAS: Ferramentas para orquestração em nuvem e gerenciamento de data centers.
- Ubuntu Core: Uma versão minimalista do Ubuntu para dispositivos IoT.
- Snap: O polêmico sistema de empacotamento universal (sim, aquele que muita gente reclama, mas que parece fazer sucesso entre as empresas).
Ou seja, a Canonical não está só mantendo o Ubuntu—está construindo um ecossistema inteiro em torno dele.
Claro, nem tudo são flores. A Canonical declaradamente enfrenta alguns riscos, como:
Dependência de pessoas-chave
O relatório menciona que a empresa ainda depende muito de sua liderança, especialmente do fundador Mark Shuttleworth. Se um dia ele decidir se aposentar, ou simplesmente for de vez para o espaço, a Canonical pode ter problemas.
Riscos cibernéticos e concorrência
Como qualquer empresa de software, a Canonical está sujeita a ataques cibernéticos e precisa se manter à frente de concorrentes como Red Hat e SUSE. Além disso, distros como Linux Mint estão ganhando espaço entre usuários domésticos—justamente porque o Ubuntu tem focado tanto no mercado corporativo que às vezes esquece da comunidade.
O que esperar do futuro?
Com mais receitas, a Canonical já deixou claro que 2025 será um ano de mais investimentos, especialmente em produtos para nuvem e inteligência artificial. Graças ao fluxo de caixa operacional saudável (US$ 85 milhões), a empresa tem recursos para continuar crescendo.
Enquanto isso, usuários comuns podem continuar reclamando do Snap ou da interface GNOME, mas uma coisa é certa: no mundo empresarial, o Ubuntu—e a Canonical—estão mais fortes do que nunca.