Os podcasts estão provavelmente no seu ápice em termos de alcance, com programas como o Jovem Nerd, Flow e Podpah batendo recordes de audiência em diversas plataformas. Inclusive, você sabia que o termo se originou da junção da palavra iPod, o tradicional reprodutor de músicas da Apple e cast, inglês para transmissão – tecnicamente existem desde o “longínquo” ano de 2004.
No entanto, embora programas de sucesso tenham surgido por volta dessa época, o verdadeiro renascimento deste tipo de mídia ocorreu somente durante a última década e, em especial, os últimos cinco anos marcados pela pandemia de 2020.
Muitas vezes comparados ao rádio, os podcasts são programas baseados em áudio que podem ser escutados sob demanda, no formato de episódios, usando um celular, computador, speakers inteligentes e quase qualquer aparelho conectado à internet. Graças ao poder da rede mundial de unir pessoas com diversos gostos, ideias e habilidades, os podcasts se tornam um ecossistema amplo com uma variedade quase infinita de formatos, temas e criadores de conteúdo: estúdios profissionais lançam programas de entrevistas com grandes celebridades, verdadeiras obras de fantasia que poderiam virar filmes, e investigações jornalísticas que competem com os clássicos da TV.
Ao mesmo tempo, criadores solo ou grupos de amigos também encontraram seu público para discutir os retro games mais nostálgicos, gravar sua sessão de RPG de mesa, ou explorar novos nichos que se tornam cada vez mais atrativos ao público em geral, como programas que analisam histórias de crimes reais, como podemos observar neste artigo da ExpressVPN.
Se você está acompanhando o crescimento desse segmento e gostaria de mostrar suas ideias para o mundo, tentar monetizar sua conversa com os melhores amigos da faculdade, ou acha que tem o que é preciso para investir em uma nova produção de peso, a boa notícia é que podcasts não dependem de sistemas ou ferramentas complexas e, com algumas poucas etapas, todos podem começar a criar seu próprio programa.
Como criar um podcast?
Comparados com outros tipos modernos de mídia como transmissões ao vivo de vídeo ou jogos, os podcasts são uma tecnologia relativamente simples e livre de grandes empecilhos. Isso quer dizer que mesmo para quem ainda tem pouca experiência na área a criação de um podcast pode ser mais simples do que o esperado – no entanto, um programa de qualidade ainda exigirá grande esforço e planejamento do roteiro, branding, arte, divulgação, interação com o público e com convidados, e por aí vai.
Gravação e edição
O workflow da elaboração de um podcast consiste, resumidamente, em preparação, gravação, edição e distribuição. Para isso, algumas ferramentas gratuitas disponíveis para Linux ou Android podem te ajudar com cada etapa – o uso de softwares gratuitos, muitos dos quais são open source, é uma forma inteligente de começar um podcast com um investimento limitado, podendo dedicar a maior parte dos seus recursos a compra de hardware, equipamentos e outras necessidades para o programa.
Seja para programas com um script pré-definido ou para gravações mais espontâneas com conversas em tempo real, a etapa de planejamento é crucial e não deve ser ignorada: o manejo do tempo e o esforço para manter o público entretido o tempo todo não devem ser subestimados. Para esse fim, aplicativos como o Obsidian são uma mão na roda – o programa gratuito permite a criação de anotações, fluxogramas com ideias para organizar temas ou assuntos complexos, listas com checkboxes que podem ser preenchidas ao longo do episódio, suporte a recursos inteligentes como linkagem de temas com sites na internet, ferramentas para colaboração com outros integrantes, e muito mais. O app está disponível como Flatpak ou AppImage e pode ser usado livremente na maioria das distribuições.
Uma possibilidade ainda mais interessante é trabalhar conjuntamente com o SyncThing para que todo o conteúdo elaborado no PC também apareça em seu smartphone ou tablet com Android, bastando baixar o Obsidian pela Google Play Store e sincronizando os diretórios. O app pode até ser usado como um teleprompter, permitindo que os participantes do podcast leiam ou referenciem o roteiro sem se distrair da gravação.
A gravação é crucialmente a etapa mais importante para qualquer mídia baseada em áudio – mesmo que o público costume escutar ao programa enquanto lava a louça, corre na esteira na academia ou se distrai do trânsito na volta do trabalho, a qualidade do som e as técnicas de edição adotadas são cruciais para manter uma boa retenção de espectadores. O investimento em um bom microfone é certamente inevitável para um podcast ao longo de seu desenvolvimento, no entanto, para iniciantes há opções com melhor custo-benefício: no mercado brasileiro, a marca Fifine dominou as reviews com modelos acessíveis capazes de se conectar no PC usando USB-C para captura digital.
Há diversos tipos diferentes de microfone com aplicações distintas, alguns possuem perfil cardióide mais adequado para gravações de “mesacasts” onde um grupo se senta conjuntamente numa mesa e cada um grava com seu microfone, enquanto modelos de lapela são mais indicados para gravações ao ar livre, e para quem realmente não possui verba para a compra de um novo microfone, é possível aproveitar os múltiplos microfones de smartphones modernos para uma gravação razoavelmente boa. De todo modo, algumas dicas universais permitem extrair uma qualidade de som muito maior independentemente do equipamento selecionado:
- Posicionamento: para a maioria dos microfones, o ideal é posicionar sua boca de 15 a 30 cm de distância, mantendo o microfone em um leve ângulo em relação a direção da fala para ajudar a aliviar pequenos ruídos da dicção. Além disso, para microfones que não possuam um sistema de absorção de choque (como pequenos elásticos ou molas que suspendem o microfone no ar) utilize um material levemente compressível, como uma almofada fina ou cobertor, em sua base – isso evitará que vibrações e ecos no ambiente, como um caminhão passando pela rua ou um acidental esbarrão, causem muitas distorções.
- Técnica: durante a gravação, crie o hábito de não encostar no microfone, não mudar sua posição, não posicionar a mão ou outros objetos entre a boca e a direção da gravação, e dentro do possível, manter o mesmo volume e tom de voz (com a exceção de gritos, sussurros ou outras formas propositais de modulação da sua voz).
- Filtro pop: os filtros pop são um simples acessório posicionado na frente do microfone para eliminar o forte ruído gerado ao pronunciar consoantes como o P e B. Caso seu microfone não possua um filtro pop integrado, é possível utilizar uma meia de nylon fina esticada como alternativa barata e funcional.
- Tratamento acústico do ambiente: por fim, é preciso considerar o ambiente da gravação, muitas vezes responsável pelas principais distorções de áudio como os ecos. Escolha um ambiente relativamente pequeno, evitando espaços grandes e altos, e feche janelas e portas. Desligue ou afaste aparelhos ruidosos como laptops com ventoinhas barulhentas ou frigobares. Em larga escala, a compra de painéis acústicos cuidadosamente calibrados se torna essencial, mas para iniciantes, uma versão “caseira” da engenharia acústica pode ser replicada abusando de travesseiros, cobertores espessos e tapetes: forre o maior número de superfícies possíveis, incluindo o teto e chão, com materiais felpudos, grossos e maleáveis. Isso reduzirá fortemente o eco e ruído capturado pelo microfone. Para quem está realmente desesperado, a qualidade sonora dentro de um armário repleto de roupas em seus cabides é surpreendentemente boa – embora o cheirinho de amaciante não seja captado pelo microfone.
O melhor microfone do mundo não significa muita coisa se não houver um jeito de gravar seu resultado em alta qualidade e, posteriormente, aplicar os efeitos de edição necessários. Para isso, a escolha quase universal é um programa gratuito e open source: o Audacity. Disponível nos formatos mais populares como o Flatpak, AppImage, .deb para sistemas baseados no Debian e Ubuntu e incluído nos repositórios da maioria das distribuições, o Audacity permite capturar em tempo real o áudio de um ou múltiplos microfones conectados ao PC ou placa de som.
Uma vez capturado, o áudio é exibido em uma linha do tempo onde filtros de redução de ruído e equalizadores podem ser aplicados, diferentes faixas como músicas e efeitos sonoros podem ser adicionados, e opções como cortes e transições suaves podem ser adicionadas. O Audacity não exige uma máquina particularmente potente e plugins criados pela comunidade podem aumentar ainda mais seu repertório de ferramentas, como é o caso da suíte Nyquist ou Spitfish, usados para editar cuidadosamente a voz.
Inclusive, membros do canal Diolinux tem acesso a um curso completo de edição de podcasts usando o Audacity. Nele você vai aprender que o uso de compressores, equalizadores e filtros não são tão complicados quanto possam parecer e podem resultar em uma qualidade de áudio muito maior que a captura original.
Hospedagem
Uma vez gravado e editado, um podcast precisa ser enviado para o mundo inteiro. Em sua essência, podcasts são um feed RSS comum que lista arquivos de áudio hospedados em algum servidor, os apps de podcast interpretam os links como uma stream em tempo real e exibem metadados adicionais como sua capa, descrição e capítulos. A grande maioria dos aplicativos de podcast utilizam algum banco de dados público para encontrar novos programas, em especial, o acervo do Apple Podcasts. No entanto, em 2024 plataformas de streaming de áudio como o Spotify e YouTube Music também gerenciam seus próprios repositórios de programas e possuem seus próprios mecanismos para publicação de episódios.
Uma forma de disponibilizar seu podcast para o mundo é através de uma hospedagem de sites tradicional, como um servidor com o WordPress e plugins como o PowerPress, adicionado cada episódio e gerando um feed RSS tradicional para cadastro em plataformas como o iTunes Connect e Spotify para criadores. No entanto, para quem deseja dar o pontapé inicial e não quer ter o gasto – e dor de cabeça – de criar e manter um website inteiro, serviços dedicados aos podcasts permitem fazer o upload dos episódios e descrição de forma simplificada, e automaticamente lidam com o cadastro em todas as principais plataformas. Há uma grande variedade de preços e limitações para as contas gratuitas, mas os principais serviços neste segmento são o Anchor, Podbean e Buzzsprout.
Monetização para novos podcasts
Embora muitos podcasts comecem como apenas uma aventura para divulgar um hobby, uma conversa entre amigos ou uma tentativa de ter sua voz ouvida, o grande público alcançado por esse tipo de mídia rapidamente tornou a monetização uma possibilidade viável. Na verdade, alguns grandes podcasts do Brasil e do mundo possuem tantos acordos comerciais que seus participantes são capazes de enriquecer apenas com seus programas.
Para iniciantes, há duas formas de monetizar um podcast: para quem deseja publicar no Spotify, a plataforma oferece recursos para inserção de anúncios baseados em áudio automaticamente. Assim como os encontrados nos vídeos de plataformas como Twitch e YouTube, os anúncios do Spotify usarão dados coletados sobre o ouvinte para direcionar anúncios específicos e, cada vez que forem reproduzidos, o responsável pelo podcast recebe uma pequena fatia.
Já para podcasts independentes publicados em todas as plataformas ou hosteados por conta própria a monetização é um processo lento e que envolve a construção de uma boa relação com o público, formando uma audiência grande e cativa, e com anunciantes parceiros que negociarão diretamente com os criadores de conteúdo. Podcasts também podem negociar parcerias com algumas agências que tomam conta das negociações e contatos da indústria, em troca de uma fatia dos lucros gerados em cada episódio. Serviços mais avançados ainda incluem coleta de metadados e técnicas avançadas para inserção de anúncios personalizados em tempo real mesmo em clientes de podcast que não tem suporte nativo a esses recursos, no entanto, especialistas do setor alertam que iniciantes deveriam fugir deste tipo de monetização nos seus primeiros meses – é necessário focar na qualidade do conteúdo e na satisfação dos ouvintes, antes de procurar invadir o programa com métodos agressivos de inserção de anúncios.
No fim, seja um podcast feito por paixão ou um novo projeto de negócio, os programas de áudio são flexíveis e alcançam milhares de pessoas cotidianamente. Criar um podcast não precisa significar gastar todo o dinheiro do banco ou aprender a usar programas avançados, caros e pesados – com um smartphone e um computador, já é possível mostrar para internet suas melhores ideias.
