A primeira impressão é a que fica – e o KDE Plasma está prestes a dar um salto na experiência de onboarding de novos usuários. Enquanto GNOME, Windows e macOS já oferecem há anos um assistente de configuração razoavelmente elegante, o KDE finalmente parece estar acordando para a importância desse primeiro encontro digital.
KISS: Every Time I Look at You
Escondido nos repositórios do KDE há mais de quatro anos, o projeto KDE Initial System Setup (carinhosamente apelidado de KISS) está sendo revitalizado pela desenvolvedora Kristen McWilliam. O que começou como uma ideia meio esquecida está se transformando na ferramenta que pode finalmente colocar o Plasma no mesmo patamar das grandes plataformas quando o assunto é dar as boas-vindas aos usuários.
A nova ferramenta promete guiar os recém-chegados através de etapas essenciais como:
- Criação de conta de usuário;
- Seleção de idioma e layout de teclado;
- Configurações básicas de aparência (incluindo o sagrado modo escuro);
- Ajustes de brilho e escala da tela.
Tudo isso embrulhado num visual polido, sem aquela cara de “script disfarçado” que assusta os menos técnicos.

Mais complexo do que parece
Por trás da aparente simplicidade da interface, esconde-se um trabalho hercúleo de engenharia de software. A implementação do seletor de layouts de teclado, por exemplo, exigiu uma verdadeira ginástica técnica:
- Refatoração do módulo de teclado do plasma-desktop para reutilizar funcionalidades existentes;
- Adaptação da UI para o contexto de configuração inicial;
- Mapeamento complexo entre idiomas e layouts padrão;
- Aplicação das configurações tanto no sistema (via systemd-localed) quanto na sessão atual do Plasma.

Kristen McWilliam resume o desafio: “Essa breve descrição esconde a quantidade colossal de trabalho que foi necessária para chegar até aqui!” – uma declaração que qualquer desenvolvedor que já tentou fazer algo “simples” aos olhos do cliente, pode confirmar com lágrimas nos olhos.
Com os componentes básicos já funcionando, a equipe do KDE agora se debruça sobre desafios mais complexos:
- Autenticação sem prompt de usuário: A solução em estudo combina sysusers.d com regras do polkit;
- Execução automática no primeiro boot: O Systemd surge como o salvador da pátria mais uma vez;
- Aposentadoria do acrônimo KISS: Nem todos na equipe estão apaixonados pelo nome atual, afinal, nem todos gostam de rock.

O timing dessa inovação não poderia ser mais estratégico. Com o fim do suporte ao Windows 10 se aproximando em outubro, o KDE tem a chance perfeita para capturar usuários em migração – desde que consiga oferecer uma experiência tão polida quanto a que estão acostumados.
Impacto no ecossistema
A iniciativa do KDE pode servir como um catalisador para outras interfaces gráficas. Cinnamon, Xfce e Budgie – estamos olhando para vocês! Num mundo onde a adoção do Linux desktop ainda enfrenta resistência, pequenos detalhes como uma configuração inicial intuitiva podem fazer toda a diferença entre “uau, que legal!” e “me devolve meu Windows!”.
Para fabricantes de hardware que já adotam distribuições baseadas no Plasma, a nova ferramenta é um presente de grego. De um lado, a chance de oferecer uma experiência mais profissional e alinhada com as expectativas do consumidor comum. De outro, a responsabilidade de realmente polir esses primeiros minutos de interação.
Enquanto aguardamos a versão final dessa ferramenta, uma coisa é certa: o KDE está mandando um recado claro para o mundo Linux. Ou nos preocupamos com a experiência do usuário desde o primeiro segundo, ou continuaremos sendo vistos como “aquele sistema complicado que meu sobrinho hacker usa”.
Aliás, parece até que algum desenvolvedor do KDE pegou o nosso feedback sobre a janela de boas vindas do Plasma!