Quando a Red Hat anunciou o RHEL 10 durante seu Summit anual em Boston, uma coisa ficou clara: a empresa não está apenas atualizando seu sistema operacional – está redefinindo o que um Linux empresarial pode ser na era da inteligência artificial.
Mas será que essa obsessão por IA deixou de lado as necessidades tradicionais de segurança e desempenho? Ou a Red Hat conseguiu equilibrar inovação e robustez? Vamos mergulhar nos detalhes dessa nova versão que promete ser o sistema operacional mais inteligente (e seguro) do mercado.
Terminal Linux com assistente de IA
Imagine pedir ajuda para resolver um problema de SSH diretamente no terminal, em linguagem natural, e receber uma resposta precisa baseada em décadas de conhecimento da Red Hat. Essa é a proposta do Red Hat Enterprise Linux Lightspeed, o novo assistente de IA integrado ao RHEL 10.
Funciona assim:
- Digite uma pergunta como “Por que meu serviço Apache não está iniciando?”;
- O sistema analisa logs, configurações e bases de conhecimento internas;
- Retorna soluções contextualizadas, quase como um “Colega DevOps Virtual”.
A jogada é clara: reduzir a curva de aprendizado em ambientes corporativos complexos, onde faltam profissionais especializados em Linux. Mas será que os sysadmins tradicionais vão confiar em um “ChatGPT do terminal”? A Red Hat aposta que sim.
Criptografia pós-quântica
Enquanto muitas empresas ainda lutam para implementar criptografia moderna, a Red Hat já está antecipando a era dos computadores quânticos – máquinas que, no futuro, poderão quebrar algoritmos de segurança atuais em segundos.
O RHEL 10 é o primeiro Linux empresarial a adotar padrões do NIST (Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia dos EUA) para:
- Algoritmos resistentes a ataques quânticos;
- Assinaturas digitais pós-quânticas para verificação de pacotes;
- Proteção contra ataques onde dados são roubados hoje para serem decifrados no futuro.
Para empresas que lidam com dados sensíveis (governos, bancos, saúde), essa é uma das atualizações mais relevantes – mesmo que os computadores quânticos práticos ainda estejam a anos de distância.
Modo imagem
Uma das mudanças mais radicais no RHEL 10 é o “Modo Imagem”, que trata o sistema operacional como um container gerenciável via ferramentas como Podman e Kubernetes.
Na prática, isso significa:
- Rollback instantâneo de atualizações problemáticas
- Gerenciamento unificado de aplicações e SO
- Imagens pré-configuradas para cloud (AWS, Azure, Google Cloud)
A abordagem reflete a realidade atual: se tudo vira contêiner, por que o próprio sistema operacional não poderia ser um?
GNOME 47, Python 3.12 e outras atualizações para desktop
Claro, nem tudo no RHEL 10 é IA e containers. Há diversas melhorias tradicionais:
- GNOME 47 com Remote Desktop Protocol substituindo o VNC;
- Python 3.12, Node.js 22, PostgreSQL 16 para desenvolvedores;
- GRUB 2.12 com melhor suporte a hardware moderno.
Mas a menos que você seja um desenvolvedor ou usuário de workstation corporativa, essas são atualizações secundárias. O verdadeiro foco da Red Hat está em nuvem híbrida, segurança proativa e, é claro, IA.
Isso tudo é realmente open source?
Durante o Summit, um questionamento pairou no ar: o que exatamente é “IA open source” em um mundo onde modelos como o Llama da Meta são “abertos”, mas com restrições?
Matt Hicks, CEO da Red Hat, comparou o momento atual aos primórdios da internet:
“Quando surgiu a ideia de pagar alguém online por produtos, muita gente disse: ‘Nunca faria isso, não conheço a pessoa’. Até que o eBay criou um sistema de confiança. Estamos no mesmo estágio com IA open source – ainda precisamos descobrir como ter transparência sem expor dados sensíveis.”
Enquanto esse debate continua, o RHEL 10 avança com sua visão de “open source prático” – onde ferramentas de IA são acessíveis, mesmo que seus modelos internos não sejam totalmente abertos.
Afinal, é exatamente por esse tipo de relativização do open source que a Open Source Iniciative beira o ostracismo.