A Open Source Initiative (OSI) — organização que há 27 anos se autodenomina “a autoridade que define o código aberto” — pode estar perdendo seu lugar de destaque no mundo do software livre. Enquanto a Free Software Foundation (FSF) mantém uma postura ativista e combativa, a OSI sempre trabalhou nos bastidores, avaliando licenças e mantendo a Open Source Definition. Mas, nos últimos anos, uma série de controvérsias internas, eleições questionáveis e decisões polêmicas têm levantado dúvidas sobre o futuro da organização.
O papel da OSI
Fundada em 1998, a OSI surgiu como uma alternativa mais “corporativa” à FSF. Enquanto a Free Software Foundation defende as quatro liberdades essenciais do usuário, a OSI se concentra em licenças que facilitam a adoção do software por empresas. Essa diferença de abordagem sempre gerou certa tensão entre as duas entidades, mas, por muito tempo, elas coexistiram como pilares complementares.
A OSI é responsável por aprovar licenças de código aberto, mantendo uma lista oficial que serve como referência para desenvolvedores e empresas. Sua Open Source Definition, derivada da Debian Free Software Guidelines, tornou-se um padrão amplamente reconhecido. No entanto, diferentemente da FSF — que tem figuras públicas como Richard Stallman e campanhas frequentes —, a OSI opera de forma mais discreta, focando em “persuasão silenciosa” em vez de ativismo aberto.
Controvérsias que mancharam a reputação da OSI
Conforme descrito por o Bruce Byfield do site Foss Force, nos últimos anos, no entanto, a OSI tem aparecido mais por polêmicas internas do que por seu trabalho com licenças. Alguns dos episódios mais marcantes incluem:
- A entrada da Microsoft como membro (2018): A gigante de Redmond, historicamente vista como adversária do software livre, foi aceita na OSI, gerando críticas de parte da comunidade;
- A expulsão de Eric S. Raymond (2020): Co-fundador e ex-presidente da OSI, Raymond foi banido das listas de discussão por violações ao código de conduta;
- A saída de Bruce Perens (2020): Outro co-fundador, Perens renunciou após discordar da aprovação da Cryptographic Autonomy License, acusando a OSI de abandonar princípios fundamentais.
Esses conflitos, muitas vezes amplificados pela mídia, criaram a impressão de uma organização mais preocupada com disputas internas do que com sua missão original.
Problemas nas eleições do conselho diretor
Se as brigas públicas já eram preocupantes, as irregularidades nas eleições do conselho diretor da OSI nos últimos anos levantaram questões ainda mais sérias.
Em 2021, a organização admitiu que uma falha em seu sistema de votação permitiu que uma entidade votasse mais de uma vez, forçando a anulação e repetição da eleição. Em 2023, um e-mail confuso do diretor executivo Stefano Maffulli causou dúvidas sobre a data limite para votação, exigindo um adiamento de última hora.
O caso mais recente, em 2025, foi ainda mais problemático. O nome do desenvolvedor do Debian Luke Faraone foi excluído da cédula devido a um erro de fuso horário, e houve confusão sobre quantas vagas estavam em disputa. A OSI se recusou a corrigir o erro ou incluir Faraone na votação, levando a críticas de que a organização estava ignorando seus próprios princípios democráticos.
A definição de IA aberta e a crise de credibilidade
Em 2024, a OSI tentou se reposicionar no debate sobre inteligência artificial, lançando a Open Source AI Definition. O problema? A definição foi amplamente criticada por flexibilizar demais os requisitos para considerar um sistema de IA como “aberto”.
O texto afirma que um modelo de IA pode ser considerado aberto mesmo sem garantir acesso livre aos parâmetros do modelo — uma contradição direta aos princípios tradicionais de código aberto. Essa abordagem foi vista como uma concessão às grandes empresas de tecnologia, que querem o rótulo de “open source” sem abrir mão do controle sobre seus sistemas.
Para muitos na comunidade, essa foi a gota d’água. Se a OSI não consegue mais defender uma definição clara de código aberto, qual é, exatamente, o seu propósito?
Um futuro incerto
Enquanto a Free Software Foundation parece estar se reinventando após a saída de Stallman, a OSI corre o risco de se tornar irrelevante. Seus conflitos internos, problemas de governança e decisões questionáveis em temas como IA a distanciaram de sua base original.
A pergunta que fica é: a OSI ainda tem condições de se reerguer como uma voz importante no movimento de software livre? Ou seu legado será lembrado apenas como um exemplo de como burocracia e falta de transparência podem corroer até as organizações mais bem-intencionadas?
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