Sistemas operacionais

Escritor da Forbes, Jason Evangelho, nos conta como começou a divulgar Linux

Enquanto nós tentamos levar até você as principais informações sobre o mundo open source, tornando o público lusófono ciente das novidades, facilidades e particularidades do mundo Linux e de software livre, outras pessoas fora do Brasil estão fazendo isso também, um desses “defensores do Linux” é Jason Evangelho, escritor da famosa Forbes, que nos cedeu gentilmente uma entrevista.

Se você acompanha-nos no Twitter, é bem possível que tenha visto as nossas interações com o Jason Evangelho, ele acabou se tornando um grande divulgador dos sistemas operacionais open source e de suas ferramentas, especialmente potencializado pelo nome, fama e reconhecimento, da Forbes

Conforme o tempo passou, os artigos relacionados ao mundo Linux do Jason acabaram alcançando grandes empresas, que com a ajuda da divulgação proferida por ele, começaram a pelo menos repensar os seus caminhos em relação ao Linux, como a Adobe. Temos um vídeo sobre essa questão no nosso canal no YouTube, você pode conferir aqui.

Jason Evangelho também é criador do “Linux Challenge“, uma “brincadeira” muito construtiva onde ele pede para seus leitores testarem junto com ele alguma distro, unindo-se em um grupo muito saudável no Telegram, que foi onde eu consegui um contato ainda mais direto com ele do que no Twitter. Ele se mostra uma pessoa muito amigável, disposta, e com “a cara” da nova geração de usuários Linux, por isso, eu lhe fiz algumas perguntas, estas vão ajudá-lo a conhecer “o homem por detrás do mito” e, segundo ele mesmo, algumas dessas perguntas possuem respostas que ele nunca deu em nenhum outro lugar, então aproveite.

Obs: A entrevista foi feita em Inglês, porém, eu postarei aqui a versão traduzida, caso queira ler as respostas de Jason na Íntegra em Inglês, basta acessar este arquivo.

Entrevista com Jason Evangelho

D: Apresente-se. Provavelmente as pessoas lhe conhecem como escritor da Forbes, mas as pessoas sempre são muito mais do que seu trabalhos. Quem é Jason Evangelho?

J: Jason Evangelho sempre foi um escritor, seja de letras de músicas ou de pequenas histórias, ou ainda de longas de reviews de GPUs. Mas uma coisa que percebo que corre pelas minhas veias desde pequeno é a música. Sempre foi algo que me definiu como pessoa. É a trilha sonora da minha vida, uma companhia constante que me dá energia, que eleva minhas emoções, que me acalma e que traz lembranças de décadas atrás.

De toda forma, eu vejo tentando finalizar um álbum e escrever um livro há alguns anos. Tenho me aproximado cada vez mais a cada dia!

Eu também adoro “Transformers”, o movimento Grunge dos anos 90 e de passar meus dias em praias croatas, mas agora isso está começando a soar como um daqueles anúncios de acompanhantes e eu sou felizmente casado! 😀

D: Quando você começou a trabalhar com tecnologia?

J: Minha fascinação por computadores começou quando eu era apenas uma criança, provavelmente aos meus 12 anos de idade. Meu padrasto tinha uma empresa de negócios relacionados a tecnologia e nossa casa inteira era repleta de “torres” da IBM. Frequentemente eu me metia em confusão por bootar os computadores secretamente e começar a “fuçar” a linha de comando do DOS para tentar encontrar algum game para jogar!

Mais ou menos em 2003 eu finalmente tive dinheiro para comprar o meu próprio PC (No quesito games, eu sempre fui um cara dos consoles enquanto crescia e na vida adulta), e claro, isso despertou em mim o constante desejo te conseguir melhor desempenho e qualidade gráfica. O que me levou a ficar obcecado pela leitura de reviews de GPUs em lugares como o Tom’s Hardware.

Em 2004 tudo isso pode se juntar  com a introdução aos podcasts. Eu tive sorte o suficiente para ser um dos primeiros 30 podcasters no mundo quando  lancei a “Insomnia Radio”, um programa focado em bandas indies e desconhecidas. Como uma nota adicional, este é o motivo da minha conta no Twitter ter o nome de “KillYourFM”.

Eu estava sendo autodidata em edição de áudio, criando arquivos RSS do zero e isso iniciou uma nova fascinação por computadores e a tecnologia contida neles. Um ano antes eu queria que os meus games tivessem um visual melhor, agora eu queria que tudo rodasse muito rápido!

E aqui vai uma curiosidade que poucos sabem, no final dos anos 2000 eu comecei minha própria empresa de computadores, focando em reparar problemas de outras pessoas com computadores Windows. 

Jason Evangelho
Jason Evangelho

D: Como você descobriu o Linux? A decisão de falar sobre Linux na Forbes veio da própria empresa ou foi uma ideia sua?

J: Eu descobri o Linux duas vezes. A primeira foi no meio dos anos 2000 com o openSUSE e o Red Hat. A experiência com ambos foi desastrosa. Eu acabei ficando frustrado e com uma sensação de que era uma tecnologia muito acima das minhas capacidades de entendimento. Infelizmente a minha primeira impressão com Linux foi ruim e eu acabei me afastando por anos.

Então em Julho de 2018 eu finalmente cheguei ao ponto de me cansar de ver tantas reinicializações forçadas no Windows 10, muitos problemas, muitas falhas de atualização e até a perda de alguns dados. Algumas semanas antes de chegar à “última gota d’água” com o Windows eu estava conversando com meu cunhado, que estava me visitando vindo da Suiça, sobre o Debian, porque ele estava rodando a distro em um Thinkpad antigo já fazia alguns anos.

Tópicos como privacidade e controle do usuário vieram à tona, e eu simplesmente adorei a forma com que funcionava. Olhando ele usar o sistema, o Debian parecia ridiculamente rápido para um computador com hardware antigo como o que ele tinha. Então, com isso em mente, eu decidi dar uma nova chance ao Linux e colocar o Windows de lado.

Vale a pena mencionar que nada que foi feito aqui foi um decisão fácil. Era mais um risco profissional do que eu risco pessoal. Eu frequentemente fazia reviews de placas de vídeo e de PCs customizados para a Forbes, esse tipo de conteúdo era o meu “ganha pão”.

Para responder a sua segunda pergunta, eu me tornei tão fascinado pelo Linux que tomei a decisão de fazer uma maior cobertura sobre o assunto na Forbes. Os primeiros artigos que eu publiquei tiveram uma boa repercussão com a nossa audiência tradicional e com as novas pessoas. O feedback que eu recebi fazendo a cobertura do Linux foi positivo, pessoas dizendo que eu estava mostrando as coisas que uma forma mais simples de entender e acessível.

Eu também percebi que ao invés de começar a cobrir “notícias quentes” simplesmente para receber o meu salário, eu poderia acordar pela manhã e dizer “o que eu quero explorar no mundo Linux hoje?” e escrever sobre isso. Pessoas apareceram e leram o conteúdo, e de fato, eu estive analisando o tráfego de meus artigos no site, e mais pessoas estavam aparecendo para ler os artigos sobre Linux do que o meu material anterior. Isso vou muito encorajador.

Não bastasse isso, a comunidade realmente demonstrou seu apoio nessa nova direção que tomei, apoiando, ajudando e constantemente se engajando comigo. Eu nunca tinha visto uma comunidade como esta antes e todos esses fatores me fizeram começar a fazer a cobertura sobre Linux na Forbes em tempo integral. A Forbes não teve nenhum problema com isso.

D: Como foi o seu primeiro contado com as distros Linux nessa volta? O que você encontrou que achou mais simples e mais complicado de fazer no Linux?

J: A primeira vez que eu testei Linux no ano passado foi com o Linux Mint no meu  Dell XPS 13. O instalador falhou ao enxergar a minha unidade NVMe, então eu mudei diretamente para o Ubuntu porque eu sabia que a Dell estava fazendo um grande trabalho ao fazer com que a distro rodasse perfeitamente “out of the box”, e de fato, foi o que aconteceu.

Eu tive muito menos problemas com o Ubuntu 18.04 LTS do que eu tive com o Windows 10 e acabei instalando ele em várias máquinas. Cada instalação correu sem problemas e simplesmente detectou o hardware das minhas máquinas perfeitamente. 

O Ubuntu se tornou a meu sistema principal por meses, ou ao menos até eu começar o “Linux Distro Challenges”.

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Escritório Jason Evangelho (Ubuntu no monitor principal)

D: Você tem alguma distro favorita? Qual?

J: Neste exato momento, me pedir para escolher uma distro favorita é quase como me fazer escolher a minha música preferida. É impossível. Por conta de eu estar  ainda testando as principais distros por um tempo, provavelmente qualquer afirmação aqui não seria justa.

O Ubuntu foi o meu sistema principal, mas eu estou também muito impressionado com o elementary OS e o openSUSE, mas ainda me pego pensando o quão interessante algo como um Manjaro Deepin pode ser… A questão de ficar viciado em “distro-hopping” é real! (Distro-Hopping é ficar pulando de distro em distro e testando).

D – Você está desenvolvendo novos projetos paralelos à Forbes em relação ao Linux, incluindo os “desafios”, convidando pessoas para testar uma distro específica juntos. Conte-nos um pouco mais sobre estes projetos e como eles tem sido recebidos pelo público.

J: Os “desafios” começaram como uma forma de me forçar a a sair da “zona de conforto Ubuntu”, e como objetivo secundário, eu estava me forçando a experienciar diferentes distros Linux e gerar algum conteúdo único baseado nessa jornada. Eu sabia que estar me envolvendo diretamente com a comunidade apenas aumentaria a minha experiência e permitiria que todos os participantes descobrissem coisas novas juntos, resolvessem problemas juntos e talvez até pudessem fazer alguns novos amigos.

Apenas 3 dias depois de começar o primeiro desafio, que era com o elementary OS, eu tive mais de 200 participantes no nosso grupo no Telegram, e tanto Cassidy Bleade, quanto Daniel Foré, desenvolvedores da distro, apareceram para ajudar as pessoas; depois o mundo de podcasts sobre Linux acabou começando a falar sobre os “desafios” e eu vi que realmente “deu certo”.

Dessa forma eu percebi que isso poderia se tornar uma espécie de “série”, algo recorrente que nós poderíamos fazer todos juntos e eu espero que o feedback acumulado usando essas distros ajude também as próprias distros a melhorarem, especialmente porque parece que os desenvolvedores estão prestando atenção. Além disso, um objetivo secundário era convencer as pessoas a mudarem de Windows ou macOS para Linux.

D: O que você acha que está faltando ainda nas distribuições Linux atuais para serem melhor reconhecidas entre os usuários domésticos?

J: Eu dediquei algum tempo no marketing para as AMD Radeon, então, do meu ponto de vista, eu diria que o maior desafio a ser superado é: Linux no desktop tem um problema de marketing.

Os princípios de FOSS são louváveis, mas é fato que Linux dá para as pessoas praticamente possibilidades de escolhas infinitas, e isso é bom e ruim. Duas coisas precisam acontecer para que o Linux seja grandemente adotado por usuários domésticos:

     1 – Mais empresas precisam começar a vender seus computadores com Linux pré-instalado. A Dell faz um trabalho fantástico com isso, mas eles não são muito bons em divulgar esse tipo de coisa. A verdade é a maioria dos consumidores domésticos irão aceitar o sistema que é entregue junto com o computador na frente deles… (E a maioria das pessoas NÃO SÃO usuárias de Adobe ou fazem parte do segmento mais “hardcore” de jogos).

    2 –  O mundo Linux precisa adotar “a distro para Desktop” e permanecer com ela. Colocá-la para o mainstream, mesmo que não seja a sua distro favorita. Há apenas um Windows 10, há apenas um macOS. Para ser mais claro, EU AMO como há uma distro perfeita para cada necessidade e para todo mundo, mas a fragmentação de opções para iniciantes é prejudicial. De fato, há muitos sites que advocam por uma distro em específico e isso mostra parte do problema.

D: Deixe uma mensagem para os seus leitores brasileiros.

J: Obrigado pelo apoio Diolinux! Leva muito tempo e trabalho duro para organizar o conteúdo, então tome alguns minutos do seu dia para apreciá-lo. Como escritor também, posso dizer que esse é o nosso combustível. 😀

Gostaria de agradecer a todos que estão sempre encorajando a minha jornada no mundo Linux no Twitter e no Facebook. Eu espero que você tenha gostado desta entrevista e se precisar de algo mais não hesite em me contactar.


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