Quando se fala sobre coleta e dados, geralmente pensamos logo na privacidade dos usuários. Entretanto, existem outros problemas, como o monopólio e a assimetria da informação, vantagens contra a concorrência que podem ser consideradas injustas, principalmente quando mantidas em segredo.
Em uma série de Tweets, o desenvolvedor Luca Casonato denunciou um recurso problemático presente no Google Chrome e em todos os navegadores baseados no Chromium, como o Microsoft Edge e o Brave. Ele permite que domínios mantidos pelo Google tenham maior acesso às informações do computador do usuário.
Trata-se de uma extensão secreta integrada ao navegador, ela não aparece no painel de extensões, não pode ser desabilitada e está presente desde 2013. Ela permite serviços do Google, como o Meet, monitorarem o uso e o desempenho dos recursos computacionais para ajustar o consumo, garantindo uma melhor experiência de uso.
Na rede social Mastodon, o desenvolvedor Simon Wilson divulgou como observar o funcionamento da extensão no seu computador. Basta copiar e colar o seguinte código no console do navegador:
chrome.runtime.sendMessage(
"nkeimhogjdpnpccoofpliimaahmaaome",
{ method: "cpu.getInfo" },
(response) => {
console.log(JSON.stringify(response, null, 2));
},
);
Se você estiver em um site qualquer, a resposta será um erro, mas em algum site propriedade do Google, terá como retorno, a arquitetura e modelo do processador, além da coleta sucessiva de dados de uso computacional.

Um problema de competição injusta
O Google respondeu à algumas perguntas feitas pela mídia, esclarecendo saberem a existência da extensão, se tratando de um software legado primariamente utilizado para otimizar a experiência de usuários e prover informações que auxiliam os serviços do Google detectarem bugs e mitigar erros. Ela não teria sido divulgada para preservar a segurança dos usuários.
Pode parecer justa a motivação do Google coletar estas informações para ajustar em tempo real o consumo de recursos dos seus serviços, ainda mais considerando que não é o tipo de dado que costuma ferir a privacidade do usuário. Entretanto, outras companhias com seus navegadores baseados no Chrome podem estar coletando dados para o Google sem saber.
Além disso, apenas o Google teria acesso nativo a essas informações que otimizam o desempenho de seus serviços, enquanto os demais precisariam pedir ao usuário instalar uma extensão específica, um passo a mais que pode afastar as pessoas. Isso dá uma vantagem ao Google que não há nada equivalente para outras aplicações. Essa assimetria de informação pode ferir as regras comerciais de regiões como a União Europeia e já se discute se é lícita.
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