Antes do Facebook dominar o mundo (e perder o domínio) e do Instagram sequestrar nossa atenção com um feed hipnotizante, existia um lugar onde as pessoas se reuniam para compartilhar fotos pixelizadas, deixar recadinhos públicos e participar de comunidades do tipo “Eu Odeio Segunda-Feira”. Esse lugar era o Orkut, a rede social que marcou uma geração e deixou lições valiosas sobre como a internet já foi um lugar mais simples — e, em muitos aspectos, mais engraçado.
Como era o Orkut?
Imagine uma rede social sem feed nem algorítmos complexos, onde você não era bombardeado por anúncios e memes virais a cada cinco segundos. No Orkut, a experiência era diferente:
- Perfis pessoais eram o centro de tudo — e a graça era ficar fuçando a vida alheia;
- Scraps (recados públicos) eram o equivalente às mensagens diretas de hoje, mas com a diferença crucial de que todo mundo podia ver;
- Depoimentos eram como posts de elogio (ou fofoca) que só apareciam no seu perfil se você os aprovasse;
- Comunidades funcionavam como fóruns temáticos, onde as pessoas discutiam desde “Como conquistar o crush” até “Quem aqui também odeia acordar cedo?”.
Era uma época em que a internet ainda tinha um ritmo mais lento. Você ligava o modem discado, esperava o Orkut carregar e, quando finalmente entrava, passava horas navegando entre perfis de amigos e desconhecidos.
Da realidade para a lembrança
O Orkut não morreu de uma hora para outra — ele foi perdendo espaço enquanto o Facebook crescia. A grande diferença? O feed de notícias.
Enquanto no Orkut você precisava visitar cada perfil manualmente, o Facebook entregava tudo em um único lugar. Isso, somado a uma interface mais moderna e recursos como jogos mais avançados (lembra do FarmVille?), fez com que as pessoas migrassem em massa.
O Google, dono do Orkut, tentou salvar o barco com um redesign (o “Novo Orkut”), mas já era tarde. Em 2014, a rede social foi oficialmente desativada, deixando milhões de usuários órfãos de seus álbuns de fotos limitados a 12 imagens por pasta.
O legado das comunidades
Se o Orkut tivesse sobrevivido, provavelmente seria parecido com o Reddit. Ambos tinham comunidades como núcleo da experiência, mas com uma diferença crucial: No Orkut, o foco era nas pessoas (perfis, scraps, depoimentos), enquanto no Reddit, o foco é no conteúdo (tópicos, discussões, upvotes).
Ou seja, o Orkut era mais sobre stalkear amigos, enquanto o Reddit é mais sobre debater ideias. Mas ambos compartilham um DNA comum: a ideia de que a internet pode ser um lugar de conversas orgânicas, e não apenas um mar infinito de algoritmos e anúncios.
Vergonhas do Orkut
Quem usou o Orkut na adolescência provavelmente tem histórias embaraçosas para contar. Alguns clássicos:
- Nicks absurdos (tipo “Xx_Dark_Sasuke_xX” ou “PrincesaEmo”);
- Fotos “sexy” (segundo classificações duvidosas);
- Depoimentos dramáticos (“Leia com atenção… se você não repassar isso em 10 minutos, vai ter 7 anos de azar!”);
- Beija ou passa, um “jogo” cujas regras absurdas não cabem em um site respeitoso como o que vos fala;
- Trollagens clássicas, como a lenda do “tutorial para deletar o perfil de alguém”.
Era uma época mais inocente — onde cair em uma pegadinha besta ou postar algo vergonhoso não significava ser cancelado, mas sim aprender uma lição da maneira mais engraçada (e constrangedora) possível.
Em um mundo dominado por redes sociais tóxicas e algoritmos que priorizam engajamento a qualquer custo, é inevitável sentir saudade do Orkut. Será que, se ele voltasse hoje, faria sucesso?
Embora aparentemente haja algum tipo de projeto de retorno ou continuidade em andamento, se ele for algo como que foi o velho Orkut, provavelmente não voltará às graças do público. A internet mudou, e as pessoas hoje esperam conteúdo profissional instantâneo. As redes sociais vêm se tornando cada vez mais plataformas de conteúdo em vez de um ambiente puramente social. O Orkut era lento, caótico e público demais para os padrões atuais.
Mas, ainda assim, é impossível não lembrar dele com carinho. Afinal, foi lá que muitos de nós aprendemos a não confiar em tutoriais duvidosos, a não postar segredos em depoimentos públicos e, principalmente, que a internet já foi um lugar muito mais leve.
Este conteúdo é um corte do Diocast. Assista na íntegra ao episódio onde debatemos sobre o memento mori digital, ou seja, o fim inevitável de todos os softwares e plataformas, algo que se ainda não te afetou de alguma forma, provavelmente te afetará um dia.