Quem viveu a era dos videogames antigos sabe que há algo mágico em revisitar aqueles jogos que marcaram a infância. Seja um Nintendinho clonado, um Super Nintendo ou até um PlayStation 1, esses consoles carregam memórias de horas de diversão, muitas vezes acompanhadas daquela típica frustração de não conseguir passar de uma fase difícil. Mas, com o tempo, manter os consoles originais funcionando pode ser um desafio. Fitas que não rodam mais, controles com contatos oxidados, a dificuldade de conectar hardware antigo em TVs modernas e o grande custo de adquirir estes itens são problemas comuns.
Felizmente, a tecnologia atual oferece uma solução elegante: a emulação. Com um hardware modesto e softwares gratuitos, é possível reviver não apenas os jogos da sua infância, mas também explorar bibliotecas de outros consoles que talvez você nunca tenha tido a chance de jogar. Tudo isso pode ser feito de forma acessível, sem precisar gastar fortunas com colecionáveis ou adaptadores complicados.
Escolhendo o hardware certo para a emulação
Não é necessário um computador potente para rodar jogos antigos. Na realidade, até máquinas bem modestas são capazes de emular consoles de 8 e 16 bits sem esforço. O exemplo utilizado aqui é um Mini PC Alfawise T1, equipado com um processador Intel Celeron N4100 e 4 GB de RAM. Esse tipo de configuração, que hoje seria insuficiente para tarefas minimamente pesadas, é mais do que suficiente para emular tudo desde o NES até o PlayStation 1 com folga.
Um detalhe interessante desse Mini PC é a possibilidade de expansão de armazenamento. Ele possui um compartimento interno para um SSD ou HD de notebook, o que permite instalar uma biblioteca generosa de jogos sem depender de pendrives ou armazenamento externo. Além disso, sua estrutura compacta faz com que ele possa ficar discretamente ao lado da TV, sem chamar atenção ou ocupar espaço demais.
Se você não tem um Mini PC específico como esse, não há problema. Qualquer computador antigo ou até mesmo um notebook que esteja encostado pode ser reaproveitado para essa função. Desde que tenha uma saída HDMI e capacidade de rodar um sistema operacional leve, as chances são altas de que ele sirva como um ótimo console retrô.
Batocera Linux, o sistema que transforma qualquer PC em uma máquina retrô
Enquanto existem várias opções de softwares de emulação, o Batocera Linux se destaca por ser completo, gratuito e incrivelmente fácil de usar. Ele é um sistema operacional dedicado à emulação, suportando mais de 200 consoles e dispositivos diferentes, desde clássicos como NES e Super Nintendo até portáteis como o PSP e até mesmo jogos de PS2 e Xbox 360 (embora esses últimos exijam hardware mais potente).
Uma das grandes vantagens do Batocera é que ele já vem com uma interface intuitiva, suporte a múltiplos controles e uma vasta coleção de emuladores pré-instalados. Tudo o que você precisa fazer é baixar a imagem do sistema, gravá-la em um pendrive e iniciar o PC por ele. A partir daí, é possível testar o Batocera em modo live (sem instalar nada) ou realizar uma instalação permanente no SSD ou HD do computador.
O processo de instalação é simples. Após inicializar o sistema pelo pendrive, basta acessar o menu, ir até System Settings e selecionar a opção Install on a new Disk. O próprio Batocera se encarrega de baixar a versão mais recente e instalá-la no disco escolhido. Vale lembrar que essa operação apaga todos os dados do disco, então é importante fazer backup de qualquer informação importante antes de prosseguir.
Controles temáticos, um toque que faz toda a diferença
Jogar games retrô com um teclado ou um controle moderno pode até funcionar, mas nada supera a sensação de segurar um controle que lembra o do console original. No nosso projeto, foram utilizados controles no estilo do Super Nintendo, que acompanhavam um case para Raspberry Pi. Eles não são os mais premium do mercado, mas cumprem bem o papel e trazem um belo fator nostalgia.
O Batocera tem suporte nativo a uma variedade enorme de controles, incluindo modelos de Xbox, PlayStation, Bluetooth e até dispositivos genéricos USB. Se você tem um controle antigo guardado, há boas chances de que ele funcione sem problemas. Configurá-los é simples: basta conectar e seguir as instruções na tela para mapear os botões.
Para quem busca uma experiência mais autêntica, marcas como a 8BitDo oferecem controles de alta qualidade com designs inspirados nos clássicos. E se a ideia é jogar em multiplayer, vale a pena investir em pelo menos dois controles bons, já que muitos jogos antigos eram feitos para serem jogados lado a lado no sofá.
Adicionando e organizando jogos
Claro, um console retrô não seria grande coisa sem os jogos. O Batocera organiza as ROMs em pastas separadas por videogame, o que facilita bastante a vida na hora de adicionar novos títulos. Existem duas formas principais de transferir os jogos para o sistema.
A primeira é usando um pendrive. Basta copiar as ROMs para a pasta correspondente dentro do diretório /roms no Batocera. A segunda, e mais conveniente, é via rede. O Batocera aparece como um dispositivo compartilhado na rede local, permitindo que você copie os jogos diretamente de outro computador sem precisar ficar tirando e colocando pendrives.
Depois de adicionar os jogos, é necessário reiniciar o sistema para que ele reconheça as novas ROMs. Se você quiser deixar a biblioteca mais bonita, o Batocera possui uma ferramenta chamada Scraper, que baixa automaticamente capas, descrições e screenshots dos jogos. Nem sempre ele acerta 100% dos títulos, mas para a maioria dos clássicos, o resultado é impecável.
Alguns pequenos ajustes podem melhorar significativamente a experiência de jogo. Se a sua TV for 4K, por exemplo, vale a pena configurar a emulação para uma resolução menor, como 1080p, para evitar lag ou problemas de desempenho. Outra dica importante é configurar uma HotKey no controle, geralmente usando uma combinação como Select + Start, que permite acessar funções como save states, sair do jogo ou reiniciar o emulador sem precisar recorrer ao teclado.
Se o Mini PC ou computador utilizado começar a esquentar demais após longas sessões de jogo, pode ser interessante melhorar a ventilação do ambiente ou até mesmo adicionar uma ventoinha externa. Apesar de a emulação não exigir muito do hardware, o calor excessivo pode encurtar a vida útil dos componentes.
Diversão sem limites
Depois de tudo configurado, é só conectar o Mini PC na TV, pegar os controles e mergulhar de cabeça nos clássicos. Seja revivendo jogos que marcaram a infância, como Super Mario World ou Sonic the Hedgehog, ou descobrindo títulos de consoles que você nunca teve a chance de jogar, como o Neo Geo ou o Sega Saturn, as possibilidades são praticamente infinitas.
E esse projeto não precisa parar por aí. Com o tempo, você pode ir expandindo a biblioteca, testando novos emuladores ou até mesmo melhorando o hardware. Quem sabe no futuro um upgrade para um PC um pouco mais potente permita emular consoles mais recentes, como o PlayStation 2 ou o Nintendo GameCube?
Seja como for, uma coisa é certa: montar um console retrô com um PC e o Batocera Linux é uma das melhores formas de reviver a nostalgia dos jogos antigos. Esta é uma ótima forma de utilizar a tecnologia a seu favor, pra variar.
