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Sobre a compra do GitHub pela Microsoft

Microsoft e GitHub anunciaram que, em comum acordo, agora a empresa dona de um dos serviços de repositório de software mais populares que existe pertence à “Gigante de Redmond”. Tornando a Microsoft uma empresa mais influente e próxima dos desenvolvedores.

Tem gente que gosta de catastrofismo, e devo admitir, deve gerar muitos cliques colocar alguns “títulos apocalípticos” por aí, não posso os culpar, mas eu geralmente tenho uma forma mais conservadora de trabalhar quando notícias “bombásticas” como esta vem à tona.

Esse é o motivo, inclusive, de eu estar escrevendo este texto várias horas (dias na verdade) depois do acontecido.

O passado me mostrou que geralmente “os empolgados” podem acabar se equivocando caso não soem neutros. Por isso, depois da compra ter se confirmado, de pessoas terem se revoltado, de outras terem comemorado; a que conclusão eu cheguei a respeito do assunto?

A compra do GitHub pela Microsoft

Foram 7,5 Bilhões de dólares, definitivamente um dinheiro que não estamos acostumados a ver em nosso dia a dia, fora de grandes negócios, ou grandes casos de corrupção. Mas por que a Microsoft estaria disposta a pagar essa quantia pelo GitHub?

– Para mais informações sobre a Notícia da compra, recomendo a leitura do texto da minha amiga Mariana Barbosa.

Ouvindo pessoas (é sempre bom ouvir) com opiniões diversas, conversando com amigos, algo me parece claro: A Microsoft não parece ser a mesma empresa outrora, não no sentido de querer “apenas obter lucro”, mas é uma empresa que teve de reaprender a se colocar no mercado.

Atualmente a informação vale mais do que qualquer produto tradicional, informação é o produto! A Google é uma das maiores do mundo não só por seus produtos de qualidade, mas pelo que eles geram: Conhecimento sobre você e eu.

A Microsoft está deixando de ser apenas uma produtora de software, como fora em outros tempos, para ser uma fornecedora de serviços, e nada como conhecer o seu cliente, certo?

“Hoje em dia o produto é o serviço e não o produto.” É esquisito falar assim, mas é isso mesmo.

A Microsoft é dona de muito mais empresas e serviços do que você imagina, mas vamos observar dois apenas. O LinkedIn e o GitHub.

A combinação de ambos permite que a Microsoft tenha acesso a uma imensa base de dados de o que as empresas estão necessitando e quais as tecnologias que as pessoas mais estão usando, para colocar de forma simples.

Com esse tipo de conhecimento é muito mais fácil criar produtos para atender demandas crescentes, muitas vezes sem usar o Windows diretamente, como é o caso do Azure e do Azure Sphere OS. 

A Microsoft está empenhada em oferecer tecnologia para seus clientes, atender suas demandas. Se para fazer isso ela terá de deixar de usar Windows em todas as soluções que oferece ou abrir o código de suas aplicações (como já fez com várias), que seja. Parece que é um “preço” que eles estão dispostos a pagar.

O modelo Open Source venceu?

Eu lembro do tempo em que se falava que a Microsoft era “a inimiga número um de projetos de código aberto”. Dizia-se isso por ela ser uma das pioneiras e maiores empresas a distribuir softwares de código fechado, além disso, em outros tempos, seus líderes fizeram ásperos discursos contra o movimento Open Source, Software Livre, Linux, etc. No coração dos magoados, isso talvez permaneça latente. Certamente é um sentimento inútil, mas que continua deixando as pessoas com um (ou até dois) pé atrás. O que, de toda forma, também não é de todo mal.

Sempre vi em algumas comunidades de software livre que a maior “diversão” era ter um inimigo em comum contra quem lutar. O “ódio” de alguma coisa muitas vezes une mais as pessoas do que ter coisas em comum, por mais idiota que isso possa parecer. As pessoas que entre si tem inúmeras divergências mas odeiam algo em comum acabam por se unir, mais uma vez, isso é uma lição histórica.

Em pleno 2018, eu vejo uma Microsoft que está se rendendo ao que a comunidade Open Source sempre tentou lutar em prol.

Observe: para continuar tendo sucesso em seus negócios, é a Microsoft que está tendo que se aproximar do Linux e do mundo dos softwares abertos, dos desenvolvedores e dos hackers, e não o contrário.

Se o objetivo era fazer com que a Microsoft não fosse mais “aquele monstro proprietário”, parece que finalmente estamos no meio deste processo. Existem muitas empresas que trabalham com softwares Open Source, que trabalham com Linux, que são muito mais fechadas que a Microsoft, a grande questão é que com a MS, tudo tem uma escala maior por conta do seu nome e por conta do próprio tamanho da empresa.

A compra do GitHub pela “turma do Nadella” acabou gerando uma debandada de alguns desenvolvedores para um concorrente com popularidade crescente, o GitLab. Ambas ferramentas procuram oferecer o mesmo tipo de serviço, cada  um com suas particularidades.

O lado irônico dessa mudança, é que o GitLab (que ao que parece pretende migrar para serviços de outra gigante, a Google) no momento ainda roda no Azure, da Microsoft:

GitLAB

GitLAB

Mais irônico que isso é só o pessoal que está reclamando da compra do GitHub no LinkedIn.

Estes tipo de escolhas são pessoais, claro, se você não gosta de algo e existem alternativas, você pode se sentir livre para mudar. Mas hoje eu convido você que foi “treinado para odiar” a Microsoft a refletir sobre o assunto e tentar entender o porque disso.

Não era a mudança de postura da empresa que todos queriam? Não é isto que está acontecendo agora mesmo em algum nível?

Algo que eu acho extremamente importante de ressaltar é que grandes companhias assim costumam refletir a postura de seus líderes. 

Não era a Microsoft que odiava Linux ou Software Livre, era o Steve Ballmer. Os motivos dele pensar assim são obscuros, talvez ele tenha se desenvolvido como profissional entendendo somente uma forma de trabalho e o software livre estava atrapalhando a visão estreita que ele tinha das coisas. 

O Nadella por outro lado é criado em meio ao mundo Open Source e levou a sua visão para a Microsoft, depois de sua chegada podemos dizer que a empresa aprendeu a se recolocar no mercado lucrativo, com serviços em nuvem, internet das coisas e até mesmo serviços para dispositivos móveis. 

Por mais que o Windows, o Office e o XBox sejam produtos mais “visíveis” para as pessoas, e eles obviamente gerarem receita para a empresa, a “mina de ouro” está na infraestrutura.

Você já deve ter ouvido falar da IBM, certo? Olhe ao seu redor hoje e veja quantas coisas com a marca “IBM” você tem ao seu redor. Não muitas provavelmente, se é que tem alguma. No entanto até hoje a IBM é um das maiores empresas do mundo no mercado de tecnologia, justamente por atuar há tantos anos e ter focado neste mercado que a Microsoft está “loucamente” tentando conseguir uma fatia.

Ao invés de continuar gastando milhões para fazer o Windows Phone funcionar como uma nova plataforma, eles criaram um ecossistema para o Android com soluções da Microsoft no lugar das soluções Google, porque no fim das contas eles não querem que o Windows necessariamente seja a plataforma para as pessoas, eles querem que as pessoas usem seus produtos, seja como for.

Um exemplo de que a mentalidade “do chefe” pode influenciar em como vemos a empresa de fora, mas que não muda as pessoas que fazem parte dela é que: Imagine que você é o dono de uma empresa, e você comenta publicamente e com todos os seus funcionários que “azul é uma cor horrível, você odeia azul, azul estraga o mundo, azul é o câncer da comunidade.”

É natural que as pessoas de fora pensem que a sua empresa toda pense que “Azul é uma droga”, quando na verdade cada um dos funcionários tem a sua própria visão sobre isso e quem realmente odeia azul é você, seja lá qual for o motivo.

Para mim, uma empresa é feita de pessoas, ainda que o líder esteja lá para representá-las de alguma forma, as relações entre pensamentos e ações vão muito além disso. Basta você ter a sua própria empresa para saber ou observar se você concorda com as opiniões do seu chefe sobre tudo.

O que pode acontecer com o GitHub no futuro?

Você pode ouvir pessoas especulando o quanto quiser, mas a verdade é que nenhuma delas realmente sabe o que vai acontecer.

Tudo bem, podem haver especulações baseadas em ações passadas, são suposições com fundamentação, mas em momento algum no passado a Microsoft que comprava empresas tinha a postura que esta empresa atual tem.

Para mim o LinkedIn, por exemplo, só melhorou depois da chegada da Microsoft, finalmente temos uma versão do Skype para Linux que não deixa a desejar em relação a versão de Windows e macOS, mas nem mesmo as boas ações recentes da empresa são garantia de que ela não vai fazer algo que tornará o GitHub menos interessante no futuro.

Eu sei que é difícil para você (ser humano) admitir que não sabe de algo e conviver com isso sem preencher as lacunas com a sua imaginação, mas tente ser honesto.

Tirando o seu gosto pessoal (que deve ser respeitado), existe alguma mudança no GitHub que tenha inviabilizado, comprometido ou causado algum desconforto técnico para você remover o seu repositório de lá?

Você pode tomar a decisão baseada em emoção e fazer qualquer mudança, ou esperar, analisar a situação e se realmente ficar ruim, sair. Nada vai te impedir.

Temos que parar de usar as nossas emoções para pensar e começar a pensar sobre as nossas emoções. Quando você colocou o seu repositório lá no GitHub eu imagino que você tivesse ciência de que ele era uma empresa e que poderia ser vendida para qualquer um que tivesse dinheiro para tal.

Por mais que possa se configurar como “efeito manada”, um indicativo de que “algo errado estaria acontecendo” com o serviço, seria quando grandes projetos começassem a debandar de lá, porque literalmente todas as grandes empresas de tecnologia que trabalham com Open Source mantém alguns códigos lá, incluindo o Kernel Linux.

Mudar porque existe algo melhor ou que lhe atenderá melhor é um bom motivo para desprendimento de energia, o resto é, como dizem hoje em dia, puro “mimimi”. Se fosse a Google que tivesse feito a compra, será que a reação de quem reclamou seria a mesma? E se fosse a Red Hat?

Acredite, existem pessoas que odeiam cada uma dessas empresas tanto quanto outras odeiam o Windows ou a Microsoft.

Mas você ganha o que mesmo odiando algo? 🤔

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