Recentemente, a loja digital itch.io, conhecida por distribuir jogos indie, foi surpreendentemente retirada do ar devido a um relatório de phishing classificado como falso pela própria plataforma. A origem do problema? Um software automatizado de proteção de marca utilizado pela Funko, empresa famosa pelos colecionáveis Funko Pop.
O que aconteceu?
Tudo começou quando um software de proteção de marca baseado em inteligência artificial, chamado BrandShield, detectou um suposto caso de phishing no domínio itch.io. A página em questão era uma fan page de terceiros relacionada ao jogo Funko Fusion, contendo links para o site oficial do jogo e capturas de tela. Embora a Funko alegasse que apenas solicitou a remoção dessa página específica, o relatório gerado pela BrandShield foi além, acusando a itch.io de “fraude e phishing”.
A situação escalou rapidamente. O domínio do site foi colocado em “serverHold” pelo seu registrador, iwantmyname, uma ação que desativa o endereço web e impede o acesso ao site. Apesar da itch.io remover a página questionada imediatamente, a falta de resposta do registrador resultou na interrupção temporária de todo o serviço.
Automação sem supervisão
O principal problema neste caso é a falta de supervisão humana em processos automáticos. A decisão de suspender o domínio foi baseada inteiramente no relatório gerado pelo software da BrandShield, sem qualquer verificação manual para validar a acusação. Isso gerou consequências desproporcionais para uma plataforma tão estabelecida e confiável quanto a itch.io.
Essa falha não é um caso isolado. O uso crescente de sistemas automatizados para gerenciar questões como direitos autorais, phishing e proteção de marca tem causado inúmeros problemas na internet. Plataformas como o YouTube enfrentam críticas há anos por abusos de seu sistema de notificações automáticas, com usuários penalizados por violações inexistentes.
A resposta da Funko
Após a repercussão negativa, a Funko emitiu uma declaração pública afirmando que “não solicitou a derrubada da plataforma itch.io” e que estava feliz pelo site estar novamente no ar. Contudo, a mensagem foi recebida com ceticismo. Não apenas faltou um pedido de desculpas, mas também não abordou a gravidade do ocorrido, especialmente considerando o impacto para a itch.io e seus usuários.
Leaf Corcoran, fundador da itch.io, compartilhou mais detalhes sobre o caso no Hacker News. Segundo ele, a BrandShield parece ter tomado uma abordagem agressiva, enviando múltiplas notificações tanto ao registrador quanto ao provedor de hospedagem, o que acabou gerando uma escalada desnecessária do problema. Corcoran também revelou a frustração de tentar resolver a situação com o registrador, que falhou em responder às suas comunicações.
Para agravar a situação, a conta oficial da itch.io no X relatou um episódio inusitado: representantes da Funko teriam entrado em contato com a mãe de Corcoran, aparentemente para abordar o caso. Esse detalhe bizarro apenas adicionou mais perplexidade ao já tumultuado episódio.

Impactos e reflexões
O incidente com a itch.io levanta questões importantes sobre governança na internet. Sistemas automatizados são ferramentas poderosas, mas sua aplicação sem supervisão humana adequada pode causar danos desnecessários. No caso da itch.io, uma plataforma que serve de vitrine para criadores independentes, a interrupção temporária significou prejuízo não apenas financeiro, mas também de confiança.
Além disso, o episódio destaca o potencial abuso de softwares de proteção de marca. Enquanto proteger propriedade intelectual é legalmente válido, a abordagem agressiva da BrandShield e a falta de comunicação clara entre as partes envolvidas demonstram a necessidade de maior transparência e responsabilidade.
Embora a itch.io tenha sido restaurada rapidamente, o caso serve como um alerta para a comunidade digital. Empresas que dependem de sistemas automatizados devem garantir que suas ações sejam revisadas por humanos antes de afetar terceiros. Do contrário, situações como esta podem se tornar cada vez mais frequentes, comprometendo a confiança dos usuários e prejudicando criadores que dependem dessas plataformas para seu trabalho.
No final, este episódio é mais um lembrete de que a automação não deve substituir o julgamento humano, especialmente em questões tão sensíveis quanto a integridade de uma comunidade online.
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