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As extensões resolverão a “falta de desktop” no GNOME?

Enquanto ambientes gráficos como KDE Plasma e Cinnamon Desktop estão ampliando cada vez mais as opções voltadas para o desktop, o GNOME vai na contramão desse movimento e abandona esse conceito, ao menos de forma nativa. A promessa é que essas funcionalidades voltem através de uma extensão chamada “Desktop Icons”, além de toda uma família de extensões disponíveis que acrescentam funcionalidades, mas será que isso se resolve com uma extensão?

Desde o lançamento da versão 3.0, que trouxe o novo Shell para o GNOME, o comportamento padrão da interface é não possuir um desktop ativo, porém, essa função era “habilitável” através de uma pequena configuração no Nautilus, o gestor de arquivos do projeto. Isso deixou de ser possível recentemente com a versão 3.30 do GNOME, onde as funcionalidades que tornavam o Nautilus capaz de gerenciar a Área de trabalho foram removidas do código da aplicação.

Para contornar esse problema, a comunidade de desenvolvedores do GNOME acabou criando uma extensão que tenta trazer essas mesmas funcionalidades para o desktop GNOME, porém, ela ainda não está completamente finalizada e continua sendo uma extensão, e não uma função nativa do ambiente.

Um problema de filosofia de trabalho?

Recentemente tivemos uma série de entrevistas no canal com um dos desenvolvedores brasileiros do GNOME, onde foram comentadas várias coisas importantes e interessantes sobre o desenvolvimento do projeto, incluindo os motivos para a remoção de alguns componentes, vale a pena conferir. Uma das coisas que me chamou a atenção no discurso foi a retidão da forma de trabalho do GNOME, o que traz coisas boas e ruins ao projeto, discutivelmente.

O GNOME tem como viés um padrão de excelência técnico, optando por deixar de implementar coisas se elas não forem implementadas da forma considerada “correta”, como os ícones de indicadores, como Telegram, Dropbox, Skype, Steam, etc. O GNOME também visa ser pioneiro em tecnologia, simplicidade e eficiência, além de criar tendências.

Que o projeto foi inovador, eu não tenho a menor dúvida, o projeto GNOME, ao lado do KDE, é responsável por uma massiva produção de aplicativos para, virtualmente, todas as funcionalidades imagináveis no mundo Linux, sendo um projeto muito maior que do “somente” o GNOME Shell, a interface, ainda que seja justamente ali que todos esses softwares acabem convergindo.

Esse viés de trabalho que parece quase imutável divide muitas opiniões, me arrisco a dizer que ser mais flexível com algumas coisas faria bem para o projeto.

Dividindo opiniões desde o início

As críticas ao GNOME ter mudado drasticamente a forma de se usar o computador para algo muito diferente da “metáfora de desktop” reconhecida por qualquer um que usou um computador na vida , seja Windows, seja macOS, não são recentes, com o tempo as pessoas foram entendendo e se acostumando, mas ainda assim, exemplos de mudanças não faltam.

Ainda assim, mostrar o GNOME pela primeira vez para alguém que nunca o utilizou, ou que só usou Windows vai causar comentários do tipo:

– Nossa, que bonito!

– Onde abre o menu?

– Não tem minimizar?

– Onde desliga?

– Por não consigo criar uma pasta na área de trabalho?

Unity
Unity do Ubuntu 17.04

Antes do GNOME 3 já existiam muitas interfaces diferentes, mas só depois dele é que tantas outras se criaram. 

Não sei a sua idade e nem a quanto tempo você conhece/usa Linux, mas na época do Ubuntu 10.04 LTS nós tínhamos uma “disputa” entre GNOME 2 e KDE 3/4, onde XFCE, LXDE e interfaces baseadas em linha de comando eram menos populares, junto com algumas outras ainda menos populares hoje em dia.

Depois do lançamento do GNOME 3, tivemos o nascimento do Unity, do Cinnamon, do Budgie Desktop, do MATE, do Deepin Desktop, e tivemos uma grande acensão de ambientes como o XFCE, além disso, tivemos várias distros modificando o Desktop GNOME porque a opção padrão simplesmente não agradou, como o Zorin Desktop, o Endless Shell e o próprio Ubuntu recentemente, além disso, ainda temos a crescente popularidade de extensões como Dash to Dock e Dash to Panel, que modificam consideravelmente a forma com que se usa a área de trabalho do computador.

  • Por que as pessoas simplesmente não usam o GNOME como ele foi feito para ser?
  • Por que a maior parte dos projetos que tem como público alvo o usuário DESKTOP não usa o GNOME PURO?
  • Qual é o perfil de utilizador das distros que usam o GNOME puro?
  • O GNOME é feito para agradar a quem?

São perguntas que eu gostaria que você respondesse no seus comentários logo abaixo.

Muitas interfaces forkeadas ou iniciadas do GNOME

Essa grande criação, com certeza, não foi uma coincidência. Analisemos:

– Cinnamon: Nasceu depois da equipe do Mint tentar usar o GNOME com um pacote de modificações chamado MGSE (Mint Gnome Shell Extensions), que tentava manter o viés Desktop tradicional;

– Unity: Nasceu por parte do desagrado do GNOME 3 pela Canonical, parte pela intenção da empresa em colocar o Ubuntu em dispositivos diferentes;

– Budgie Desktop: É uma reimaginação do GNOME 3 “como ele deveria ter sido”, criado pelo projeto Solus para ser uma interface com base GNOME, mas diferenciada;

– Deepin Desktop: Originalmente o Deepin usava customizações do GNOME também, mas depois  desistiu e decidiu fazer usa própria interface baseando suas aplicações em Qt, não GTK.

– Zorin Desktop e Endless Shell: Continuam usando o GNOME como motor, mas criaram um Shell diferente que usa os mesmos elementos organizados de forma diferente, procurando respeitar mais o modo mais tradicional de desktop.

– MATE: A saudade do GNOME 2 foi tanta, que eles decidiram continuar da onde a equipe GNOME, que passou a focar do GNOME 3, parou.

De certa forma foi todas as mudanças foram positivas, pois temos mais opções atualmente, ao mesmo tempo que muitos talentos foram dispersados entre vários projetos diferentes, fazendo o projeto GNOME Vanilla, como a equipe do GNOME o planeja, perder popularidade.

Atualmente as distros que usam o GNOME “puro” são geralmente sistemas onde a interface é secundária, onde focam os serviços na parte “enterprise” e profissional, Red Hat, SUSE, Fedora Workstation, CentOS, Debian, Pop!_OS (esse usa temas diferentes), são alguns exemplos.

Todas as distros que tem foco em serem acessíveis ao Desktop e ao usuário comum mudam o GNOME consideravelmente, incluindo o próprio Endless OS e seu Endless Shell, que é um sistema que trabalha de forma bem próxima do time do GNOME.  O Endless fez um extensa pesquisa sobre os hábitos dos usuários e familiaridade, intuitividade com o sistema, será que o GNOME não pode tirar boas ideias dali?

Distros atuais que são populares em desktops e estão em evidência incluem: Ubuntu, Linux Mint, elementary OS, Deepin e Manjaro, onde ou elas não usam o GNOME, ou usam ele modificado.

Resolvendo com extensões

Tornou-se comum, até uma piada praticamente, que “tudo no GNOME” precisa de extensões, o que tem até um pequeno fundo de verdade. 

Não tenho dúvidas de que existem pessoas que usam o GNOME puro, sem extensões, mas elas provavelmente não são um grande número e principalmente, elas fazem parte de um nicho de usuários que é, ou próximo do desenvolvimento do GNOME, ou um núcleo de usuários avançados, mais purista. 

Gnome Desktop Icons
“Oh que legal, agora  o GNOME removeu a função de ‘não ter ícones no desktop’ 😉 Bom trabalho Carlos!”

O que eu mais vejo “na várzea” são pessoas mudando muito o GNOME para atender às suas necessidades, até pouco tempo atrás existia uma extensão até para atualizar automaticamente a lista de redes Wi-Fi, coisa que mudou nas versões mais recentes do ambiente felizmente.

A filosofia do projeto é estreita e direta, mas ela não precisa ser imutável!

Uma decisão que seria muito acertada, do meu ponto de vista, seria observar quais extensões as pessoas mais utilizam para entender quais as funcionalidades as pessoas buscam e então adicioná-las ao sistema como um recurso nativo, planejado e integrado.

Se as pessoas usam muito o Dash to Dock ou o Dash to Panel, isso é um claro indicativo de que as pessoas acham menos produtivo manter os ícones escondidos, para citar um exemplo.

O GNOME pode tentar forçar o mercado a aceitar os seus padrões, mas será que essa força realmente faz diferença? Qual foi a última vez que você viu alguém desenvolver alguma aplicação (de fora do mundo Open Source) pensando em GTK ou GNOME? Talvez existam casos, mas eu não consegui pensar em exemplos.

Quando você faz parte de um nicho, você não dita tendências geralmente, você se adapta a elas. Mesmo que você tenha personalidade para fazer diferente e influenciar um pouco, o quanto isso trará de benefício efetivo para quem usa o software? É uma reflexão a se fazer.

Utopia do GNOME?

O objetivo do GNOME é utópico, mas isso não é necessariamente um problema. Fazer com que os desenvolvedores implementem as funções como eles gostariam e planejaram essas implementações seria o ideal, mas ele será possíve?

Toda vez que eu vejo alguém falando que algo é ruim porque é uma suposta “utopia’, eu não consigo ver com bons olhos. 

Utopias são boas.

A utopia serve para nos apontar uma direção, algumas pessoas se esforçam para viver a utopia antes do momento de todos as condições estarem favoráveis, geralmente fazendo esforço e eventualmente sacrifícios para tal.

Eu penso de forma mais prática, afinal, existem vários níveis diferentes de adoção de uma ideia até que ela se torne padrão. 

A paz mundial é um utopia, mas nem por isso é uma ideia descartável (por ser uma utopia) e que deva deixar de ser perseguida, porém, existirão sempre “meios termos” até esse objetivo final e utópico, muitos deles não são tão ruins assim.

Eu aposto que você gostaria da paz mundial, ou da extinção da fome, mas se você tivesse que escolher entre: Ou você tem zero de fome ou você tem a situação atual e uma situação onde você tem pelo menos 90% a menos de fome do que agora, qual você preferiria?

Para exemplificar com o suporte a indicadores do GNOME, por exemplo, a situação atual é exatamente essa: Ou os devs implementam como o GNOME gostaria ou não faz parte do projeto.

Quem fica sem a função, no fim das contas, é quem só queria usar o software, será que não existe um meio termo? Será que não seria possível oferecer e melhorar essa função até que a solução ideal aparecesse?

É como a ideia de software livre. Algumas pessoas defendem a ideia de que tudo no mundo dos programas de computador deveria ser aberto, livre, open source, como quiser chamar, e eu tenho certeza de que se tudo fosse viável, esse seria um mundo ideal muito interessante de se viver, porém, para caminharmos para isso, é preciso que parte dos usuários use software livre, depois uma maior parte, depois uma maior parte ainda, assim até ir caminhando cada vez mais para essa “utopia livre”, querer cortar o caminho e viver esse momento agora vai requerer sacrifícios que nem todos querem ou podem fazer, usando a lógica de que, ou é livre ou eu não uso, não me parece conquistar muitas pessoas.

Fazer transições graduais é um processo menos traumático e que facilita a aceitação, em alguma momento será preciso dar passo maiores, mas se tudo estiver bem fundamentado, até esses passos mais largos serão melhores aceitos.

Desktop Icons

A tentativa é válida, e como você viu no vídeo do início do artigo, a extensão já tem vários bons recursos, ainda que alguns estejam faltantes, mas ainda assim é uma extensão. É algo que você terá de esperar a distro implementar por conta própria, como é o caso do Ubuntu, ou como algo que você, como usuário terá de buscar.

Extensões, assim como em navegadores, servem para ampliar as funcionalidades básicas do software, mas no GNOME, as extensões servem, em alguns casos, para trazer justamente funções básicas que, apenas na minha, estrita e individual opinião, deveriam fazer parte do ambiente de forma nativa, permitindo que a equipe de desenvolvedores e tradutores atue de forma mais direta, sem necessidade de haver de prestar atenção com a compatibilidade da extensão com a versão do Shell.

O GNOME continua sendo um dos meus projetos favoritos, é por isso que eu falo sobre ele, endosso, incentivo o uso e elogio, por esse mesmo motivo é que eu critico quanto acho que tenho que criticar, lamento que eu simplesmente não consiga ser produtivo no GNOME Shell padrão, o próprio layout da interface ignora completamente tudo o que qualquer um que usou um computador não Linux anteriormente tenha aprendido, algumas pessoas gostarão dessa novidades, outras nunca mais voltarão.

A solução para o Desktop virá com essa extensão? É cedo para dizer, mas provavelmente se não for dessa forma, provavelmente não será de nenhuma outra.

O que você acha?

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